PAINEIRA: ATÉ OUTONO

Também se planta esperança

- todo jardineiro o sabe.

Semente que bem me cabe:

Quando o tempo de colheita?

Ora, direis: Da esperança?

Nunca ouvi de tal colheita.

Sim, vos digo: da esperança.

Só dela vivo à espreita.

De uma esperança verdinha

tal pedra de esmeralda

tal como a paineira, minha,

em tempos de primavera

que a minha doce paineira

só no outono floresce

só no outono me aquece

a minha doce paineira.

Agora, é tempo de espera,

da longa, sem fim, espera

da longa espera fera

de agudos dentes, paineira.

Da espera, que é sina minha

por ti e por mim, também.

Longa, amor, só de poréns

espera, a nossa sina.

Olho a paineira a olhar-me

como se me olhasses tu

tu não vens, e é olvidar-me

enquanto não venhas tu

e só nos chegas no outono

amor meu, paineira minha,

seguindo sigo, sozinha,

como tu, amor, paineira.

À espera das nossas flores,

tempo tardio, desde sempre,

nos guardamos, desde sempre,

sempre a dizer-nos: Adeus.

Escrita no crepúsculo de 16 de outubro de 2012.