UMA CAÇADA - A VIDA SEM CORTES

No fim da tarde o cão treinado é solto na taboa

O faro atilado impulsiona-o em êxtase

Atrás dos rastros furtivos e frescos junto à lagoa

O cão corre em zigue-zague e ao mato esmaga

Quando sente a presa, o cão ruge, a caça foge,

A capivara aturdida se atira na água

Ela nada submergida, as patas sulcando o chão

A água turva é pista para não perdê-la

Atrás dela, célere, nada o cão

Onde a lagoa é mais suja coberta por aguapés

Por alguns segundos a capivara emerge

Para respirar na ponta dos pés

Ela submerge de novo e nada ofegante

Exatamente aonde os caçadores a aguardam

Com uma rede presa ao fundo da vazante

Sobre a rede esticada, ela dá um pulo espetacular

Escapa da rede armada no terreno cheio de lodo

Mas deixa seu corpo à mostra no ar

Então vem o golpe, o arpão penetra-lhe como uma espada

Presa e empurrada ao fundo da lagoa, ela se debate inutilmente

A água avermelha-se, em segundos ela morre afogada

Os caçadores se exultam e se entreolham triunfantes

Então puxam a enorme capivara fora d’água

Olham seu corpo hirsuto, sem vida, por um instante

Foi um segundo, a chama da piedade nem chega a ser acesa

O animal é transportado escondido para ser picado

Na semana, as famílias pobres terão proteína na mesa

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 15/04/2012
Reeditado em 10/02/2013
Código do texto: T3614028
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