UMA CAÇADA - A VIDA SEM CORTES
No fim da tarde o cão treinado é solto na taboa
O faro atilado impulsiona-o em êxtase
Atrás dos rastros furtivos e frescos junto à lagoa
O cão corre em zigue-zague e ao mato esmaga
Quando sente a presa, o cão ruge, a caça foge,
A capivara aturdida se atira na água
Ela nada submergida, as patas sulcando o chão
A água turva é pista para não perdê-la
Atrás dela, célere, nada o cão
Onde a lagoa é mais suja coberta por aguapés
Por alguns segundos a capivara emerge
Para respirar na ponta dos pés
Ela submerge de novo e nada ofegante
Exatamente aonde os caçadores a aguardam
Com uma rede presa ao fundo da vazante
Sobre a rede esticada, ela dá um pulo espetacular
Escapa da rede armada no terreno cheio de lodo
Mas deixa seu corpo à mostra no ar
Então vem o golpe, o arpão penetra-lhe como uma espada
Presa e empurrada ao fundo da lagoa, ela se debate inutilmente
A água avermelha-se, em segundos ela morre afogada
Os caçadores se exultam e se entreolham triunfantes
Então puxam a enorme capivara fora d’água
Olham seu corpo hirsuto, sem vida, por um instante
Foi um segundo, a chama da piedade nem chega a ser acesa
O animal é transportado escondido para ser picado
Na semana, as famílias pobres terão proteína na mesa