Mudança

Eu jamais fui solitário!

Tive comigo em noitadas:

donzelas no itinerário,

tive também as casadas,

mulheres loucas demais

querendo muita paixão

e me vi nos vendavais

da torpe e insana ilusão,

novinhas, experientes,

astutas, loucas demais,

descrentes serrando os dentes

buscando no erro a tal paz.

Brinquei tanto quanto pude

e fiz tudo o que bem quis,

fazendo assaz amiúde

para ser muito feliz.

Iludi mulheres sôfregas,

confesso o tolo pecado,

minhas pernas estavam trôpegas,

mas hoje estou tão mudado.

Resolvi deixar as gueixas,

me tornei novo garoto,

esqueci todas as queixas

nos afagos do meu broto.

Então, parei de brincar,

revelo todo o mistério

que desejei no luar,

algo que pra mim é sério:

Não quero mais a luxúria,

ventura em corpos sedentos,

ser pétala na penúria

de quem quer bons sentimentos.

Agora eu quero me dar

somente pra uma pessoa,

viver no mais brando mar,

não leviano ou à toa.

Meu coração já tem dono,

pois sinto em mim a mudança:

o passado no abandono,

futuro é pura esperança.

O meu broto é para mim

quimera, palma tão linda,

então, pergunto-lhe assim:

quer que eu conte mais ainda?

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 22/02/2012
Reeditado em 05/03/2012
Código do texto: T3512939
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