Mudança
Eu jamais fui solitário!
Tive comigo em noitadas:
donzelas no itinerário,
tive também as casadas,
mulheres loucas demais
querendo muita paixão
e me vi nos vendavais
da torpe e insana ilusão,
novinhas, experientes,
astutas, loucas demais,
descrentes serrando os dentes
buscando no erro a tal paz.
Brinquei tanto quanto pude
e fiz tudo o que bem quis,
fazendo assaz amiúde
para ser muito feliz.
Iludi mulheres sôfregas,
confesso o tolo pecado,
minhas pernas estavam trôpegas,
mas hoje estou tão mudado.
Resolvi deixar as gueixas,
me tornei novo garoto,
esqueci todas as queixas
nos afagos do meu broto.
Então, parei de brincar,
revelo todo o mistério
que desejei no luar,
algo que pra mim é sério:
Não quero mais a luxúria,
ventura em corpos sedentos,
ser pétala na penúria
de quem quer bons sentimentos.
Agora eu quero me dar
somente pra uma pessoa,
viver no mais brando mar,
não leviano ou à toa.
Meu coração já tem dono,
pois sinto em mim a mudança:
o passado no abandono,
futuro é pura esperança.
O meu broto é para mim
quimera, palma tão linda,
então, pergunto-lhe assim:
quer que eu conte mais ainda?