LUA DO SERTÃO
O galo amiúda sobre o poleiro
Os rebanhos mugem ao meio do terreiro
O sol aninhou-se no ocidente
O seu fulgor já se faz ausente
Do lado oposto vê-se uma alvura
Sobre montes e frondes em plena abertura
É a lua que surge fulgente.
Luma cristalina, lua do sertão
Surge numa auréola de vermelhidão
Eu olho absorto sobre a areia
Contemplando a magnífica lua cheia
Cheia de desejos do meu coração.
Lua que reflete as folhas do arvoredo
Que bate e reluz no rochedo
Ela faz siciar o grilo
Que faz contemplar o esquilo
E o viandante se vai sem medo.
No terreiro povos até a madrugada
Palestram sob a luz enluarada
Um fala, um, canta outro dormita
Outro faz comentário sobre a lua que fita
Outro observa a lua sem dizer nada
Meninos contam casos do trancoso
Sob o luminar fico airoso
Começo a imaginar-me um caminheiro.
Lua sertaneja, vejo-a refletida
Sobre a lagoa és mais colorida
A coruja em canto louva e te bendiz
Lua do sertão, ó lua petiz
Que faz ficar âmbar a flor da margarida.
Finge diamante teu clarão ameno
As gotas nas folhas, gotas de sereno
Eu me rolo tenso sobre a areia fria
Encho-me de amor e de melancolia
Observo os grãos, um cristal pequeno.
E assim a lua ascende ativa
Rápida, veloz como uma ogiva
É do astro cristalino este clarão
Ouro sobre a terra, lua do sertão
Seja tua chama para sempre viva.