Trovas de Infância
Hoje, a infância me recorda
esse velho amigo meu:
um palhacinho de corda
tão sem corda quanto eu!...
Elton Carvalho/RJ
Em minha infância, eu fazia
meu sonho ser tão real,
que uma fazenda cabia
no fundo do meu quintal !
Sérgio Ferreira da Silva/SP
Às vezes, na velha idade,
minha infância sobressai,
e eu peço colo à saudade
fingindo que é o teu, meu pai.
Otávio Venturelli /RJ
Entre a tua e a minha idade,
filho meu, quanta distância...
– És a infância da saudade!
– Sou a saudade da infância!
José Maria Machado de Araújo/RJ
Infância é brinquedo usado
que um dia a vida resolve
tomar um pouco emprestado
e nunca mais nos devolve.
Arlindo Tadeu Hagen/MG
A primavera da vida
vi morrer, o peito em ânsia,
naquela calça comprida
que encurtou a minha infância!
Ant. Carlos Teixeira Pinto/DF
Longe agora a infância vai...
E nos caminhos que trilho,
que triste é dizer "meu pai",
sem que respondas "meu filho"!
Sérgio Bernardo/RJ
Da tapera... me encantava
o luar, visto à distância...
E o riacho murmurava
cantigas da minha infância!
Maria Lua/RJ
Minhas trovas de infância:
1
Infância, um eterno impasse
que ninguém pode explicar:
A gente anseia que passe,
quando passa, quer voltar!
Pedro Ornellas / SP
2
Porteira da minha infância,
ao recordar-te enlevado,
meu sonho encurta a distância
entre o presente e o passado!
Pedro Ornellas / SP
3
Na infância, tempo risonho,
de mágoas nada entendia,
e armei balanços de sonho
nos galhos da fantasia!
Pedro Ornellas / SP
4
Ao definir a distância,
o tempo errou na medida;
Fez tão curta a minha infância,
e a velhice tão comprida!
Pedro Ornellas / SP
5
O meu cabelo grisalho
mostrou-me sem que eu pedisse,
que a juventude é um atalho
que vai da infância à velhice!
Pedro Ornellas / SP
6
Na infância, festa de cores,
tudo era encanto e magia...
e eu via muito mais flores,
além das tantas que havia!
Pedro Ornellas / SP
7
Na mente novos enredos
roubam do sonho a importância...
e o tempo estalando os dedos
quebra a magia da infância!
Pedro Ornellas / SP
8
O mundo bom que eu previa,
na infância - doce quimera...
Hoje eu sei que era utopia...
mas nos meus sonhos não era!
Pedro Ornellas / SP
9
Faz tempo... na velha estância,
por desvarios levado,
pulei a cerca da infância
- e me perdi do outro lado!
Pedro Ornellas / SP
10
Culpo da vida a inconstância
pelos problemas que arruma;
faz mil promessas à infância,
depois não cumpre nenhuma!
Pedro Ornellas / SP
11
Na infância que se perdeu
deixando lembrança doce,
o mundo não era meu
- mas era como se fosse!
Pedro Ornellas / SP
12
Cenas da infância bendita
em minha mente gravei...
Hoje, o sonho põe a fita
e a saudade aperta o “Play”!
Pedro Ornellas / SP
13
Volta a lembrança fagueira
cruzando tempo e distância:
mamãe regando a roseira
que perfumou minha infância!
Pedro Ornellas / SP
14
Na minha volta sem graça
sinto tristeza e revolta...
por que eu volto à velha praça,
mas minha infância não volta!
Pedro Ornellas / SP
15
Sonhando sonhos distantes,
envolta num doce enleio,
minha infância foi o ‘antes’
de um ‘depois’ que nunca veio!
Pedro Ornellas / SP
16
De mamãe tinha os abraços,
e assim não tinha importância
que fossem pobres e escassos
os meus brinquedos da infância!
Pedro Ornellas / SP
17
Teve em toda a minha história
papel de grande importância
o sítio que na memória
eternizou minha infância!
Pedro Ornellas / SP
18
“Não saia” a infância dizia
“para evitar que se perca...”
e o sonho peralta, um dia,
debandou, pulando a cerca!
Pedro Ornellas / SP
19
Na infância, tempo fagueiro,
aos meus olhos parecia
primavera o ano inteiro,
feriado todo dia!
Pedro Ornellas / SP
20
Ouço um tropel de boiada,
olho a estrada, olho a distância...
Mas o som não vem da estrada...
É tropel que vem da infância!
Pedro Ornellas / SP