O COMPASSO PASCAL

O sol nasce no horizonte

naquele Domingo Pascal

p’la encosta do verde monte

há foguetório em sinal.

Repicam os sinos n’Igreja

a missa vai começar

com aleluias de inveja

ouve-se o coro a cantar.

Nenhum Domingo do ano

s’ iguala a este em fulgor

cada cristão ‘stá ufano

com a graça do Senhor.

O Abade bota sermão

no púlpito engrinaldado

ouve-se a música d’órgão

e o povo está consolado.

No fim da missa festiva

há fogo a ribombar

a multidão sai furtiva

p’ra tarefa do folar.

A aldeia está agitada

há flores de braço em braço

cada casa é preparada

p’ra receber o Compasso.

Os putos gritam correndo

vão a apanhar os foguetes

que caem e vão ardendo

e depois levam ralhetes.

O senhor Cura lá vem

a ver a fé que nós temos

o sacristão a Cruz tem:

- Venite, a-do-re-mus !

A casa é aspergida

com água benta das pias...

come-s’o folar de seguida

de volta com aleluias.

Há muitos copos na mesa

amêndoas e pão de ló

não existe ali tristeza

porque ninguém fica só.

Entretanto a garotada,

uns lá na torre a sinar,

outros cá ‘stão d’abalada

com as mãos a tilintar.

O Prior parte na frente

em busca d’outra família

vai cansado mas contente

porque não tem homilia.

P’ra trás ficam Mordomos

para suas contas rever,

tiram na saca dos donos

para os seus sacos encher.

O dia vai-se passando

e já se nota o cansaço

a leve Cruz ‘stá pesando

mais qu’ao sair do Compasso.

Os badalos vão rareando

pois tocaram o dia inteiro

o Compasso está chegando

p’ra dar contas ao tesoureiro.

No coreto ‘stá a fanfarra

esperando a Cruz pascal

que o povo em algazarra

leva ao Prior no passal.

Do nascer ao pôr do sol

assim foi a sã folia

o Compasso terminou

no Domingo d’ Aleluia !

Frassino Machado

In TROVAS DO QUOTIDIANO

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 20/12/2006
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