Meu pai.
Eu e meu pai.
O alpendre do estreito
Foi nosso templo de outrora
Lá brincávamos todo dia
Independente da hora
Meu pai nos acalentava
Contando suas estórias.
Suas rimas? Lembro algumas!
Dizia com lucidez
Sempre amarrando as estrofes
Disse-me uma certa vez.
De cócoras estava Inês,
Quando chegou um freguês.
Pra ir à feira da Barra
sua rima era uma graça,
Dizia para mamãe
Minha roupa não se amassa
Em desfile de cueca
Eu morro e não tiro a calça.
Imitando certo alguém
Que em apuros estava,
Repetia um chamamento
De quem clemência implorava
Vaneime dona coninga
Zé cuninga me acaba.
As lembranças do meu pai
São belas de se contar
O carinho que nos dava
Nos fazia até chorar
Principalmente a estória
Da raposa e o sabiá.
Minha boa formação
Eu adoro proclamar
Herdei dos meus pais queridos
E ninguém vai me roubar
Mamãe me ensinou a ler
Papai me ensinou Amar.