Aniversário: 16 de Janeiro
Velho castelo arruinado,
tua torre ainda em pé,
lembra-me um sonho arrasado
que teima em manter a fé.
Fui rei, depois fui escravo.
O tronco espoliou-me a glória,
e curto até hoje o travo
de mancha negra na história.
Marcaram-me a doce infância
meus campos, o velho moinho,
e a vela acesa, à distância,
iluminando o caminho.
Velho tronco, na queimada,
em dolorosa utopia,
sonha ouvir a passarada
que em vida abrigou... um dia.
Foto, lembrança embaçada
que invade o meu coração,
minha infância perpetuadan
num pedaço de cartão.
“Conheço o mar... finalmente!”,
diz a menina, a sonhar.
E o velho marujo, doente:
“Eu também... conheço o mar”.
Chuvas mansas, ou granizos,
agradecemos em prece;
que é de lágrimas e risos
que consiste a nossa messe.
Velho tronco na queimada,
em dolorosa utopia,
sonha ouvir a passarada
que em vida abrigou... um dia.
Meu coreto da pracinha,
nos teus gradis rendilhados,
vive um pouco da mocinha
que sonhava aos teus dobrados.
- É verdade que te casas
comigo, só por dinheiro?
- Ah, não! E o Jaguar, e as casas,
e o iate... tem outro herdeiro?
- Em que lugar o Amazonas
recebe o Negro, Nestor?
- No Terreiro do Pai Jonas;
querendo ir lá.Professor?
Que bela seria vida
se acima de ódios mortais,
uma ponte fosse erguida
unindo margens rivais!
A brisa afasta a cortina,
e uma nesga de luar,
fugindo à fria neblina,
vem aos meus pés se abrigar.
A existência é definida
não por azar, mas por sorte:
quanto mais cheios da vida,
mais perto estamos da morte.
- Ai, doutor, não acredito...
Picada por um "barbeiro"?
Veja só, pois o maldito
me disse que era engenheiro!
A lua, em passo indeciso,
muda o andante da sonata,
pondo pausas de improviso
no pentagrama de prata.
"Ao céu vai o bem dotado.
E o criminoso aonde vai?"
Diz o filho do advogado:
"Não sei... isso é com meu pai..."
Bem outro seria o clima
se em tantos gritos cruzados,
fosse ouvida, lá de cima,
a prece dos desgraçados!
Cheguei tarde para a festa...
De véu, grinalda e um sorriso,
ela é a imagem que me resta
de um pretenso paraíso.
Dizemos que o tempo voa,
e enquanto filosofamos,
ele vive aí, à toa,
e somos nós que voamos.
Dizem que amas de mentira,
mas gosto de acreditar,
e até que um dia eu confira,
vou-me deixando enganar.
Do coveiro, a noiva, rente
É tão magra o estrupício
Que ele diz: "Literalmente:
Casei com os ossos do ofício."
Do que agitou nossas almas,
restam sonhos calcinados,
cingindo as crateras calmas
de dois vulcões apagados!
Em bando sutil, as garças,
pontilhando o lamaçal,
são quais pérolas esparsas,
adornando o pantanal.
Em cada tarde a cair,
vejo a vida em agonia,
aos poucos se despedir
na morte de mais um dia.
- Este bolso é meritório,
nunca viu nada roubado!
Perguntam lá do auditório:
- Terno novo, Deputado?
Eu me faço de blindado.
Amor? Bobagem... Pieguice...
Meu medo é que, apaixonado,
eu me envolva na tolice.
Guri do boné virado,
estilingue... palavrão...,
hoje, vigário ordenado: –
Pax vobiscum, meu irmão!
Irrequieto, o molecote,
no jeitinho turbulento,
parece um mini-quixote,
perseguindo um catavento.
Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombros fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos...
e eis-me sonhando outra vez!
Na taça de cada dia,
a transbordar de amargura,
cai um pingo de alegria,
e o fel se torna doçura.
Nossa terra e a terra lusa,
na doce língua que as liga,
são cordas nas mãos da musa,
cantando a mesma cantiga.
O amor, ao termo da vida,
deixa na pauta apagada
uma só nota sentida,
canto de cisne... mais nada.
O cara dentro do armário
diz: “Não é o que você pensa”...
“Eu já sei”, responde o otário,
“o gajo é o lá da despensa”.
Ora eloqüente, ora mudo,
teu olhar é uma charada:
promessa sutil de tudo,
no fútil revés de um Nada.
Os erros que fiz na vida
quero apagar sem alarde
mas, a consciência revida
e, aos brados, me diz: é tarde!
O sol, cumprida a rotina,
cerra o painel em que atua,
some por trás da colina
e abre o portão para a lua.
Pancada de chave inglesa
amontoou o Garcês,
que para a própria surpresa,
acordou falando inglês!
"Para sempre!" Será mesmo?
Não importa a duração;
é promessa feita a esmo,
mas aquece o coração.
Por que é que eu te chamo, Nei,
de 'porquinho' ... faz favor?
É que ainda eu não cheguei
ao tamanho do senhor...
Presença eterna do ausente,
perfume em frasco vazado,
saudade é sombra incoerente
num coração apagado.
Quando me entrego ao passado,
sinto-o tão perto e envolvente,
que – esquecido e enevoado –
longe de fato... é o presente.
Que bela seria a vida
se, acima de ódios mortais,
uma ponte fosse erguida
unindo margens rivais!
"Que tanto estudas, Leal?"
"Geografia, Seu Garcês."
"Humm... e onde está Portugal?"
"Na página cento e três."
Somos tão bem afinados,
que, em termo gramatical,
podíamos ser chamados
"encontro consonantal"!
Tecendo trovas ao vento
nascidas do coração,
num pouco de luz e alento,
Eu disfarço a solidão.
Trem-de-ferro, o teu apito
lembra-me um sino plangente:
tanta mágoa no teu grito,
tanta saudade na gente!”
Triste e sozinha eu me deito,
mas encontrando um desvão,
a lua invade o meu leito,
e afugenta a solidão.
Vendo, em mudo sofrimento,
a vida me desertar,
entendo, enfim, porque o vento
se recusa a silenciar.
"Vovô, feche os olhos já!
Vi papai dizendo à Guida
que quando você fechá,
vamo ficá bem de vida!”