SOU UM PERGAMINHO

Mastigo vagarosamente,

Preciso molhar a porção.

Os dentes estão faltando,

E os outros dançando estão.

As pernas são de chumbo,

Dificultam meu andar.

As mãos qual geleia,

Derrubam no que tocar.

A voz enrouquecida,

Tanto pigarro e tosse.

Noites mal dormidas,

O colchão, a carne torce.

A pele enrugada,

Qual escama de peixe.

Pinica, belisca, cutuca,

Não há cristão que aceite.

A vista anda curta,

O paladar mudou de lado:

O amargo ficou doce,

O doce ficou amargo.

A velha tá cansada.

Não encontro o banheiro.

E se acho, faço no chão.

Tudo vira ‘chiqueiro’.

Deito no lugar certo,

Acordo na contra mão.

Ando de três pernas,

Perco o Ceroulão .

Bem que procuro o Criador,

Conto-Lhe meu enfado.

A casa não me cabe...

Não suporto meu bafo.

Todos se afastam,

Solidão me apavora.

Os oitenta se vão,

Só desejo ir embora.

20/04/11

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 20/04/2011
Código do texto: T2920977
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