CASTRO ALVEZ UM TROVADOR BAIANO DO TEMPO DO IMPERIO

A CRUZ DA ESTRADA

Caminheiro que passas pela estrada,

Seguindo pelo rumo do sertão,

Quando vires a cruz abandonada,

Deixa-a em paz dormir na solidão.

Que vale o ramo do alecrim cheiroso

Que lhe atiras nos braços ao passar?

Vais espantar o bando buliçoso

Das borboletas, que lá vão pousar.

É de um escravo humilde sepultura,

Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.

Deixa-o dormir no leito de verdura,

Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.

Não precisa de ti. O gaturamo

Geme, por ele, à tarde, no sertão.

E a juriti, do taquaral no ramo,

Povoa, soluçando, a solidão.

Dentre os braços da cruz, a parasita,

Num abraço de flores, se prendeu.

Chora orvalhos a grama, que palpita;

Lhe acende o vaga-lume o facho seu.

Quando, à noite, o silêncio habita as matas,

A sepultura fala a sós com Deus.

Prende-se a voz na boca das cascatas,

E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

Caminheiro! do escravo desgraçado

O sono agora mesmo começou!

Não lhe toques no leito de noivado,

Há pouco a liberdade o desposou.

"Castro Alves"

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 13/04/2011
Reeditado em 13/04/2011
Código do texto: T2906555
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