Na parede da memòria.
Existem coisas na vida
Que jamais serão esquecidas
Passe o tempo que passar
Hoje eu acordei saudoso
De um tempo delicioso
Que se foi pra não voltar
O meu tempo de criança
Onde tudo era esperança
E sò se vivia pra sonhar
Lembrei a casa da fazenda
Do munjolo e da moenda
E o moinho de fubà.
O nascer e o por do sol
E da pesca de anzol
E o barulhão da cachoeira
A estradinha de cascalho
Umedecida de orvalho
E as batidas da porteira
A taipa do fogão a lenha
De madrugada a ordenha
Eo cafè quente na chaleira
A capelinha do sino
A catequese dos meninos
Dona merenciana,a parteira.
A professorinha linda
Tornava mais bela ainda
A escolinha do lugar
Da brincadeira de pique
Là no terreiro do alambique
E o cantar de um sabià
O olhar azul da italianinha
9 anos, bem miudinha
Mas que motivo pra sonhar
Là no prego uma sacola
Com os apetrechos da escola
E o estilingue não podia faltar.
Um pomar e um roseiral
E a linda florada do cafezal
E as boas modas de viola
Ao redor de uma fogueira
O bom papo a noite inteira
Enquanto fazia restea de cebola
Domingo depois da missa
Não se entregava a preguiça
Pois tinha o jogo de bola
Na hora do cafè da tarde
A mamãe trazia o balde
Para colher acerola.
Moro hoje na cidade grande
Aqui o progresso se espande
Mas não dà pra comparar
As vezes medito muito
Penso atè que meu intuito
È um dia qualquer voltar
Mas logo eu me recomponho
Pois tudo não passa de um sonho
Que nunca vai se realizar
È sò na parede da memoria
Que tem o retrato dessa història
Que eu acabei de contar.