Doze Trovas Líricas do Pedro
DELÍRIO
Meu delírio ouvindo passos,
quase às raias da demência,
abre a porta e estende os braços
para abraçar tua ausência!
SOLIDÃO
Vigia que espreita e sonda
marcas de um sonho desfeito,
a solidão faz a ronda
no quarteirão do meu peito!
SAUDADE
Se canto a felicidade
sou poeta imaginando...
Mas quando falo em saudade
eu sei do que estou falando!
FRACASSO
Tive a noção do fracasso
quando o tempo, em desvario,
encheu de ausências o espaço
que o sonho deixou vazio!
ABANDONO
O trem partindo... um aceno...
e ao retornar pela estrada,
vi lágrimas de sereno
nos olhos da madrugada!
FELICIDADE
Na vida, imensa coxilha,
zombando do meu fracasso,
felicidade é novilha
mais ligeira que o meu laço!
COBIÇA
Meu coração cobiçando
teu belo corpo de fada
é o pôr-do-sol se espelhando
nos olhos da madrugada!
ESCOLTA
Deixei paisagens fagueiras
e os anos, fazendo a escolta,
foram lacrando as porteiras
para impedir minha volta!
IMPRUDÊNCIA
Faz tempo, na velha estância,
por desvarios levado,
pulei a cerca da infância
- e me perdi do outro lado!
CRUELDADE
Hoje voltas, volta ingrata,
depois que o tempo passou...
Como volta alguém que mata
pra confirmar que matou!
DESENCONTRO
Nasceu em época errada
um de nós dois... Só não sei
se tu chegaste atrasada
ou fui eu que me adiantei!
RESTOS...
Resto do sonho que um dia
não previu restos, nem fim,
um resto de fantasia
sustenta o resto de mim!