TROVINHAS DE AGOSTO A OUTUBRO
tropicalista
se tropeça mal tropica
na beirada da varanda
mas o tombo freud explica
na caminha mais desanda.
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DESARVOREDO
desarvora no arvoredo
bem-te-vi numa enrascada
mudo canto, canto ledo
não ouvi na trovoada.
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Trova no telhado
brota aqui mais uma trova
que não é nova nem é velha
é a poesia que comprova
que teu amor me dá na telha.
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a cigarra, oh! coitadinha
canta cantos tão dolentes
quando esconde de noitinha
suas luas transparentes
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vento bate na janela
bate nela uma saudade
a canção da minha goela
foi morar noutra cidade.
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vão andando pela estrada
alteroso e alterosa
como quem não pensa em nada
não se dão dedo de prosa.
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amplidão
amplidão é mar azul
que derrama horizontes
nos verdes campos do sul
com arco-iris nas fontes.
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quando penso na cachopa
também viro português
não dou prego sem estopa
vira, uma a cada vez.
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ternura
a ternura é muito forte
é a força da mulher
você vai faca de corte
perde o corte na colher.
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SAUDADE
À saudade eu mostro o rosto
há no campo algum orvalho
só não sinto que é desgosto
caviar com tanto alho.
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luar
no luar que me alua
é morena a pele dela
ai meu deus que vida crua
só olhar prá essa janela.
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paixão é o que há de melhor
um nó cego, e uma chama
aconchego em sol maior
- a mulher que amo e me ama.