Trovas de Bem-querença - I
Gabriella,
Eu bendigo em ti a mulher e a menina.
Bendigo teus amores e teus inimigos;
Bendigo os que te deram fogo e abrigo,
Bendigo até os que te fizeram mal,
Os que te arrancaram a luz e o pão
E que te obrigaram a procurar outros caminhos,
Outras rotas na solidão em que foras lançada.
Bendigo os que conduziram tristemente
Ou alegremente teus passos!
Bendigo, também,
Os que te fizeram dançar na chuva
E os que teus pés pisaram,
Os que te arrancaram lágrimas
E os que te descobriram chorando
E na face da noite,
Como por encanto,
Teu riso luminoso! Bendigo, não obstante,
Tua pressa e tua calma,
A mãe que ainda não fora
E a filha que tu és.
E se bendigo tudo isso,
Se bendigo tanto sol
E tanta lua,
Se bendigo as sombras e as luzes,
Se bendigo as flores e seus espinhos,
As rotas alegres e os tristes caminhos,
É só porque te conduziram a mim
E fizeram daquela triste menina
A esplêndida mulher que tu és!
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