Consenso e outras (trovas)
CONSENSO
Já nem sei o que escrever...
Muito menos o que penso;
— ‘Spanascar o revolver...
Ou morrer nesse consenso!
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IMORAIS
Nos delírios mais profundos,
Sobre idéias imorais...
Vivemos no submundo...
Entre planos infernais.
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ALPINISTA
Não pretendo ser poeta,
Muito menos ser artista;
Quero andar de bicicleta...
E dar uma de alpinista.
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IRIDESCENTES
Quimeras resplandecentes,
Fazem calar meu cantar...
Elas são iridescentes...
Mas não vou desconcertar.
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VELEIDADE
A trova tem quatro versos...
Soa sempre um epigrama;
Já pensou se no universo —
Só tivesse melodrama?
Se a trova tem quatro versos,
E exige a espontaneidade...
Já pensou se no universo —
Só tivesse a veleidade?
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A CALCINHA
Na calça tem mor remendo...
Dá pra ver até a calcinha...
Perdoai-me, oh! Reverendo —
Mas é muito bonitinha!...
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FOBIAS
Meus filhos tinham fobias,
Principalmente, de altura...
Mas, o esperto do Tobias...
— Estudou arquitetura.
Pra fazer uma bela trova,
Não podemos ter fobias...
Vão tirar zero na prova,
Se fizerem algaravias!
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BESTA-FERA
Eternizas no universo,
Que o confim já está à espera...
Não viajas no converso...
Podeis ser a besta-fera!
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EXPLORAR
Nada achei pra melhorar
O que ainda não convém...
Mas podemos explorar —
Tudo aquilo que contém.
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MARONITA
P’ra manter a excitação...
Tem que ser muito bonita...
Mas não pode ser um canhão...
— Muito menos, maronita!
Pra qu’eu fique a noite inteira,
Tem que ser muito gostosa;
Mas não posso dar bobeira,
Co’a pantera cor-de-rosa.
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SACOLEJO
Corpos amando na cama,
Superam qualquer desejo...
Pode ser até na grama —
Onde há menos sacolejo!
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DONZELA
... E começa a enrolação...,
Mas com toques tão vibrantes...,
Que a donzela entra em ação...
— “Por que não me beijou antes?”
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MISTURA
Foi difícil essa mistura...
Transformar poema em som!
Som se escreve em partitura,
O poema — no crepom!
Foi difícil essa mistura...
Para unir poema e música;
Som s’estuda em partitura,
O poema — em metafísica!
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DILÚVIO
Pecado no mundo dúbio,
Deus sentiu muita tristeza...
Vai criar outro dilúvio... —
Pra acabar co’essa estreiteza!
Pecado no mundo dúbio,
Dilacera toda a glória...
Só havendo outro dilúvio,
P’ra fazer u’a nova história!
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VASSOURA
Encontrarás companhia...
U’a vassoura bem novinha!
Se vais voar pra Bahia...
Não esqueces a sombrinha!
Encontrarás companhia...
Nem que seja um jacaré!
Se vais morar na Bahia...
Lá tem muito acarajé!
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DAQUI PRA ACOLÁ
Quando me vejo a correr!...
Daqui pra acolá co’o vento;
Será que vou percorrer...
Todo aquele acampamento?
Mixolídio
Mixolídio é um dominante:
Quinto grau na escala grega;
Também vira u’a dissonante,
— Quando imita a toutinegra!
Universo
Começou uma nova era...
‘Stava escrito no universo!
Destruíram a atmosfera...
Só nos resta fazer verso!
Destruíram a hidrosfera...
Morreremos submersos!...
É o que quer a besta-fera —
Devastar — todo o universo!
Paulo Costa