Pobreza
Na tua tela posso ver:
Multidões em pele e osso;
Olhos arregalados,
Dentes à mostra,
Barrigas vazias;
Terra por biscoito.
Esqueletos ambulantes,
Mãos cadavéricas,
Anelantes.
Não buscam outra coisa.
Sua imagem é um grito:
Comida, preciso!
Nem lágrimas rolam,
E a boca secou.
Ouço os passos da Morte,
Ela vem com lotação.
Suas garras são poucas
Para essa multidão.
Lá há velhos e meninos,
Jovens que nunca verão,
Seus sonhos transformados
Na real satisfação.
Enterrados ou jogados,
Em valas ficarão.
Valas do esquecimento,
Da miséria no viver.
Valas da desigualdade,
Que tanto faz padecer.
Valas do desamparo,
Do não ter o que comer.