O antigo escravo
Arrancado de sua tribo,
Seus gritos não foram ouvidos.
Do peito que o amamentava,
Fora levado.
Em meio à forte dor,
Fome, frio, sede e calor.
Num buraco imundo,
Um abismo escuro.
Chegando a Terra distante
De língua diferente,
O preto esconde sua dor,
Enfrenta seu dissabor.
Vendido segue adiante,
Precisa ser forte,
Não nega sua raça,
Abraça sua sorte.
Sabe que pra lá não volta
Pro berço africano
Da tribo onde nascera,
Usa seu canto.
Sentado, põe-se a tocar,
No peito o afeto de escravo.
Seu senhor lhe trata bem,
É considerado.
Não sentiu o açoite,
Nunca foi pro tronco,
Olhos atentos no senhor,
Servindo-o com canto.
O afeto vai crescendo,
Seu dono percebe isto.
A carta lhe oferece,
Asas para voar é preciso.
Mas o preto as rejeita,
De asas já não precisa.
Na casa do seu senhor,
Encontrou a própria vida.