SÃO MARTEINHO (beio atrasado!...)

São Marteinho foi à faira
Comprar uma samarra* noba,
Sai-l'ó caminho um bigairo,
Qu'inda por cima o soba!

Mas o santo milagrairo,
Que já num é doutras eras,
Prega-l'um sermão a séiro,
Mandó prós quintos... das feras...

Pôe-le a samarra às costas
E mandó pró meio do pobo,
A gola munto bem posta,
Feita da pele de um lobo!

O desgraçado do ladrão,
Lá se foi acabrunhado,
Mal sabia ele que não
Le bastaba ir disfarçado!

Beio logo a tia Benta:
"Acudam, qu'há lobo à solta!
Aqui d'el-rei, Birgem santa!"
- Deu-se ali uma rebolta!...

São Marteinho já se fora,
Já num le podia baler,
Mas antes de ir embora
Não deixou de o benzer...

Coitado do desgraçado!
Estoirou que nem castanha!
Mais balia ir pelado,
Que do lobo já tinha a manha!...


*Samarra - casaco rústico, grosso, com a gola em pele de raposa (tradicionalmente... né?...)