Jogral do Dinheiro

I ...eu

Com esse Dinheiro; vou dominar o mundo inteiro.

Serei muito forte; no Sul, Leste, Oeste - até no Norte

Na água, na terra, a terei vestida ou de anágua, na paz – e na guerra.

Pedaço de papel, pão seco nunca mais, terei um anel – pão com mel.

Dinheiro que empresto ou não; foi bom botar a mão – o resto é resto.

Dinheiro é bom ou mau; só sei que com ele - ancoro minha nau.

A ... o Dinheiro

Eu sou o dinheiro, o todo poderoso; quando falto - tudo é assombroso.

Adquiro o seu pão –suborno o irmão.

Dou vida à guerra – e levo a vida a terra.

Transformo o homem, aproveito a mulher; e digo - o bicho não come.

Ganho a Ivone, nutro tua fome – na penumbra crio o lobisomem.

II

Porque esta maldade; você deveria ser bom – na verdade.

Com as fraquezas você manipula - e só brinda com a tristeza.

Pratique seu poder para o bem; são poucos - que te têm.

Se é abastado, mais quer; venha de onde vier.

Acho chato; mas você é a desgraça – até fico sem graça.

B

És benévolo porque pouco me tem; se bastante me tiver - fará o bem?

Sim eu obtenho a felicidade; a mocidade – serei tua vaidade.

Posses, status e lugares – levar-te-ei para outros ares.

Um carrão; para esnobar na rua – muitas gatas todas tua.

Não existe Romeu; ela - com grana – todo gajo é seu.

III

Dinheiro tirano; sobre os princípios – um negro pano.

Isto não se faz; peita o corpo da moça e do rapaz.

Cadê as premissas morais? A ética – não há mais?

Pervertes tudo que é legal? Não quer saber se é amoral.

Da vida a dor; desfigura quem te tem – olvidas o amor.

C

Sim; faço tudo isto; porque você ambiciona – já ensinou Cristo.

Falas-me de amor; mas dizem que não existe – tudo é valor.

Que berreiro; mulher não gosta de homem – e sim de dinheiro.

Quem gosta sou eu; aquelas com pinta – só dos dezoito aos trinta.

Sou dos meridianos; vou embora quando avançam - os anos.

IV

Não encontrei graça; iludes sabendo que tudo passa.

Vou tomar uma cachaça; tua crueldade não é algo que se faça?.

E os homens; quando tuas moscas azuis os picam - como ficam?

Devaneiam desde jovem ficar entre os ricos – gozar de teus paparicos.

Olha que graça; é ela que passa, o carrão parou – ela entrou.

D

Viu, não se iluda; assim é, e nada muda – não existe Buda.

É sim, vem pra mim, oh meu bem!; sem mim - você é ninguém!.

Sou lindo, tenho poder e sou mudo – para me ter tramam de tudo.

Tenho centenas de nomes; pataca, carvão – todos me almejam na mão.

Por mim, é verdade; o homem digladia – faz muita maldade.

V

Então sabes que o tino do homem você mina – compra a menina.

Quero distância de você; é cioso, pernicioso – do bem contencioso.

Serei modesto; mesmos que profiram que não presto.

Um pouco me basta; nada quero - que dinheiro gasta.

Uma valentia que de ti me afasta – fico longe de tua escravidão nefasta.

Quem tem, só preocupação tem, quem já teve - sofrimento também.

Que menos tem, o dinheiro valor tem, quem muito tem – sou um vintém.

E

Desgranado? Se quiseres saber meu valor - me pede emprestado.

Deus pode e dá; mas que pensa Deus de mim? – veja a quem me dá.

Na loteria como sonho vem voando e passa - a classe mais pobre castigando.

Liberdade e abuso; todo dia compra escravos para teu uso.

F

Sou uma serpente de elos da moeda corrente:

Sua liberdade é igual ao comprimento de minha corrente.

Sou tuas tragédias; uma se não me tem - outra quando sou seu bem.

Não engano não; para tua desgraça só dou permissão

– nada que homem não faça de coração.

G

Na bíblia tem o caminho:

Vamos lembrar; o Senhor é meu pastor - nada me vai faltar.

Nas igrejas sou dinheirão:

Os pastores; de boca, a Deus sabem orar – querem ao céu chegar.

Mas com o coração; pedem um quinhão – do povo mais um tostão.

H

Moro no trópico; sou a chegada e a ida; sirvo-te na vida – sou o tópico.

Para: e não se engana; sou a grana – compro sua cama.

VI

Até pode; isto eu abono - mas não compra o meu sono.

I

Enriqueço teu saber vivo – só eu compro teu livro.

VII

Isto é prepotência e intransigência – nunca a minha inteligência.

J

Fome tem a todo o momento: quem compra seu alimento?

VIII

Fico com estomatite – mas nunca comprará me apetite.

K

Sou o teu teto, meu poder arrasa – só eu comprar sua casa.

IX

Só o material vai me dar – nunca comprará um lar.

L

Te adoeces neste tormento – só eu compro teu medicamento.

X

Alguém me ajude – Já sei; não pode comprar minha saúde.

M

Está meio murcho; não agüenta o repuxo? – posso comprar muito luxo.

XII

Esta é sua cultura; até uma linda sepultura - mas não minha cultura.

N

Quer longe o aborrecimento, gosta de atrevimento

– posso comprar muito divertimento.

XIII

Isto é vaidade; que exibe a banalidade – mas não compra minha felicidade.

O

Para de imaginar, queres viajar – sou o teu passaporte para outro lugar.

XIV

Queres me tirar do juízo – mas não tem passagem para o Paraíso.

P

Você iniciou; eu termino – vai em frente seu menino.

Cuida-te; quem me tem no bolso – sua cabeça eu mino.

Não me defino - sou longo, largo e muito fino.

Para quem não sabe me usar – só traga pepino.

Samoel Bianeck
Enviado por Samoel Bianeck em 02/07/2006
Código do texto: T186461