Dissimulada

A gotícula de lágrima

que caiu tão amargosa

no meu peito foi um magma

por ser falsa e mentirosa.

No momento de loucura,

demonstrou-me teu amor

com a sua desventura

de incruenta e insana dor.

Com seu gesto de ternura,

– colossal fragilidade –

fui sensível, com mesura

de abrandar fatalidade.

Mas quem sabe a sua lágrima

foi por causa de carência

por perder a sua dracma

que tu tinhas dependência?...

(E eu fui bode expiatório

com seu charme feminino;

armadilha – o bolodório

que seduz todo menino...)

Foi por causa da tristeza

ou por todo o teu complexo

de ver antes a vileza?...

Ou o desejo de ter sexo?...

Ou quem sabe ainda seja

por orgulho ou por capricho?

Pois com goles de cerveja

transformaste-se num bicho:

Eclodiu todo o desejo

no teu ventre adormecido

se entregando ao carnal beijo

de um rapaz desconhecido.

E o seu corpo violado

num total dionisíaco

de um insano embriagado

colossal e demoníaco...

(Seu primor de anelo intenso)

Fez com que todo o seu pranto

– que pra mim foi tão intenso –

não passasse de amaranto

inefável de mulher

que trabalha docemente,

fazendo o que o homem quer

pela cédula atraente.

Escanchando a carne sua

com torpeza e sem amor...

O rapaz à clara lua

fez de ti mulher sem flor.

E a gotícula do seu choro

que inundou todo o meu mundo

fez cristal dentro do poro

de um poeta vagabundo.

Como eu posso acreditar

em teu pranto e coração

se num breve vacilar

tu cometes traição?

Nunca mais sentirei pena

e serei pra sempre férulo

pra você flor de açucena:

quero ser eterno incrédulo.

14/07/2009 12h30

Mênfis Silva

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 07/07/2009
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