Esperança Esquecida
O que a minha vida tem
para eu ser especial
se eu recebo só o desdém
de uma forma colossal?
Peço esmola – ninguém dá;
peço ajuda e peço paz;
peço: – Cante ó sabiá
pra espantar os vendavais!
Meu discurso é sempre o mesmo;
meu sustento é doação...
Vivo sujo e vivo a esmo
à procura do meu pão.
Mas quem ouve o meu discurso
nunca fita os olhos meus!
Faz de surdo... muda o curso
igualmente aos fariseus.
Diz bem pouco a minha roupa
suja, fétida e estragada.
Mentiroso aqui não poupa
a bituca na calçada.
Está certo! Eu não vos julgo.
Pois meu jeito de giróvago
só te prova que eu sou vulgo,
que não saio do sarcófago.
Mas a culpa não é minha!...
Por não ter meus pais, amor...
Digam, pois, em pouca linha:
Quem aprende sem mentor?
Inda sílex coração
mau?... que não traz esperança.
Que será desta nação
sem o nácar da criança?
15/06/2009 5h35