A Dor Na Lembrança

Por que vens num pensamento

e me causas nostalgia?

Já não basta o sofrimento

do meu duro dia a dia?

Por que vens em hora estranha,

nunca vais - somente vens

me trazendo dor tamanha

que não passa como nuvens?

E eu me lembro da mulher

que doou tua ternura,

simples ato de querer

puro amor da criatura.

Teu sorriso, teu olhar,

teu carinho doce, ameno

e o teu jeito singular

me deixaram bem e pleno.

O teu beijo afetuoso...

(Tua boca é tão macia!)

Faz lembrar que tive gozo

num pregresso, em algum dia.

E o desejo que me aperta

e comove o coração

só traz dor que me desperta

pra chorar em convulsão.

Fantasio em melodias

este meu passado ledo,

revivendo as utopias

com meu cândido segredo.

E o sorrir que nunca vi?...

Diversão que aí tiveste...

Num cismar que me atrevi

vislumbrar meu bem sem veste.

E o meu punge pensamento

é meu érebro fremente,

pois queria... em meu momento

ter a ti só não na mente.

Como jóia pura e rara,

minha décima alva dracma

sumiu, rosa que ficara

na plangência de uma lágrima.

Por que vens num pensamento?...

Por que tiras a esperança?

Não podia ser tormento

a mais cândida lembrança!

14/04/2009 12h12

NOTA:

Érebo: o inferno; as profundezas do inferno.

Dracma: antigamente as judias usavam uma espécie de colar que formava uma auréola na cabeça. A jóia tinha dez moedas e era de valor imenso. A mulher que perdia uma só dracma não tinha valor algum, pois era considerada como uma meretriz.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 15/04/2009
Reeditado em 29/07/2010
Código do texto: T1541070
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