T R O V A S (6)

Passa o tempo, a existência

flui assim naturalmente...

Eu, nada puro, nem essência,

apenas mais um vivente.

Vão-se as águas da enxurrada

em revoltas cachoeiras,

é o riacho em disparada

pra longe das cabeceiras.

Mais difícil é a rima,

mais a busca entusiasma,

a inspiração esgrima

enquanto o verbo plasma.

Ventos voláteis noturnos

vagueiam pelas esquinas,

vão velozes e às surdinas

com seus gemidos soturnos.

A vida é um sopro só,

diz o filósofo-arquiteto,

respiro firme, fundo e reto

maquinando a minha mó.

O escriba lapidador

não é só um privilegiado,

é, na verdade, iluminado,

filósofo, versejador.

Enquanto vidas sabujam

palavras enxotam

articulações enferrujam

e as idéias embotam.

Teu espírito 'ta com estafa

cheio e cheio de tantas coisas,

faça limpeza, faça abafa

de muitas coisas e oisas.

Da minha torre-calmaria

apenas urubu(ob)(ser)vo,

e em nada eu me enervo

cá longe da estripulia.

Noite nova... venho do mar

coesta chuva fininha,

todo meu ser a pulsar

na vilegiatura marinha.