ARTHUR DE LOUISE (Louise de France)

Arthur, da pele macia e morena,

Do olhar de menino sonhador,

Do perfume profundo de verbena,

Já, posso, então, contar-te o meu amor.

Ó, realeza agreste do meu peito,

Tanto existe em mim para dizer-te

Que de encurtar-me não há mais jeito,

Digo-te, agora, antes de ver-te.

Eu, Arthur, não sou mais uma mulher

Das que se acham hoje por aí.

Sou diferente do que hoje quer

Que eu seja a vida triste que vivi.

Porque não quero, Arthur, meu bem-amado,

Ser a Louise das sociedades,

A que respira o ar envenenado

Desse mundo velho de inverdades.

Não quero mais a pobreza da alma

Covarde, que se faz no comodismo,

No ócio, na inércia, falsa calma,

Na resignação e no etilismo.

Quero ter as rédeas do meu destino,

Conhecer, meu Grande Nobre, a vida

Que me deu Nosso Senhor Criador Divino,

Viver, usar, gozar a referida.

Perdi tempos, Arthur, me conformando

Com a ração que me davam aqui.

Sofri bastante e, hoje, vou tomando

O que é meu: um banquete de Rani.

Tive, Arthur, das Mãos de Seda Afável,

Um grande amor que me lançou no escuro.

Não penses tu que não fui responsável!

E é duro aceitar isto, Arthur, é duro!

Dói lembrar a dor que eu mesma causei

Ao sangue do meu sangue, carne minha,

Lírio em flor que eu sempre desejei.

E não contive o pranto que eu continha.

Já fui de um comodismo inveterado.

Tive coisas de que não precisava,

Injustiças, até o corpo acamado.

Terminei odiando quem mais amava.

Corpo e mente abalados, à vera,

Noção da realidade perdi.

Ó, Arthur, Minha Coluna, quisera,

Naquele instante, conhecer-te a ti.

Porém, o coração, mais que ferido,

Recusava-se a te procurar.

Deparei-me com o desconhecido

Coração, que teimava em me habitar.

Vaguei, pelo mundo, alucinada,

Meu Rei, provando várias bocas, sim.

Errei, acertei após a topada.

Isso foi que me fez ficar assim.

Nada melhor, Rei do Meu Coração,

Que cair, levantar, para aprender.

Não caias, Arthur, nessa emoção,

Mas, se cair, não se deixe sofrer.

Pois é quase sempre culpa a queda

De quem o coração não sabe ouvi.

Ouças e não te faças como a pedra.

Depôs não adiantará fugir.

Ó, Majestosa Vida da Minha Vida,

Tentei fugir do meu pobre destino,

Perdi riquezas, só, fiquei perdida.

Foi um erro, meu Pequeno Menino.

Outro erro não amar prometer.

Promessa vã, que cumprir não pude,

Mas do medo pude me acorrer.

Nova mulher me fiz. Nova atitude.

De tudo fiz, ó, Bela Estrela Humana,

Para encobrir o que eu não conhecia.

E, até hoje, meu coração reclama

Do tempo de “ser” que eu já perdia.

Não deu. Encobri-me por pouco tempo.

Abri a viver pelo que gostava,

Abri a ser eu, bem a contento,

Pena que ainda não labutava.

É preciso, Homem, sentir-se útil,

Tratar da Nação e seu crescimento.

Sem isso, todo o resto só é fútil,

Fruto que não me serve de alimento.

Procurei, Doce Rapaz Esforçado,

Com tanto esforço e não conseguia.

Era como o Jacó enganado,

Que queria Raquel e tinha Lia.

No meio tempo, amei novamente.

Arthur, que coração aventureiro

Tenho eu. Entreguei-me plenamente,

Como ao seu linho o costureiro.

Porque, Arthur, o homem corajoso

Não é o que de nada tem temor,

É o que deixa o covarde invejoso,

Por não deixar de viver por horror.

Eu, meu Valente Cavaleiro Forte,

Nada mais perco em minha curta vida

Só por medo do frio vento norte

Ou de me encontrar em alto mar perdida.

Pois minh’alma divina tudo sabe,

Das coisas da vida que eu não sei.

Mas sonho e, à noite, o Poder se abre

E sei de mares que não naveguei.

Confies no tempo, Girassol indo!

Faças como eu, tua Margarida,

Que crê, vive, cai e luta sorrindo

E, se morre, é com a fé florida!

Novamente, até por merecimento,

Perdi quem amei, por querer ser livre.

Aí, derramei pranto e sofrimento,

Mas não desisto dos sonhos que tive.

Fiquei só, ó, Arthur, com minha crença,

E é nela que e encosto a cada dia.

Nela achei a grande diferença

Entre o mundo e a minha vida vazia.

Através dela, encontrei trabalho,

Na fé em Santa Catarina egípcia.

Só então, consegui aquele atalho

Para além a minha vida fictícia.

Aprendi a usar dons naturais

Com o mago padrinho que encontrei.

Difícil entender o que o mundo faz…

Procuro saber tudo, mas não sei.

Corro feito louca, Arthur, Menino meu,

Tentando acertar os erros do mundo,

Abrindo os olhos de quem se perdeu

No triste reino do sono profundo.

Há quem me chame de bruxa, anarquista,

Revolucionária, também teimosa,

Não sabem que, ao invés de feminista,

O que quero é viver vida de rosa.

Mas, meu Pequeno Homem Lutador,

Bem, que é muito fácil eles pensam,

Viver belezas, se lutar, sem dor,

E nunca a si mesmos se enfrentam.

Nunca crescem, perdedores omissos,

Nunca vêem o real valor da vida.

Desperdiçam seus reais compromissos

E choram a juventude perdida.

Não é fácil mesmo, Arthur Divino,

E a dor da solidão me consumia.

Embora sabendo que é o meu destino,

Perante Deus, eu chorava e sofria.

“Meu Pai, de mim esse cálice afasta”

Implorei no interior da capela:

“Por favor, Senhor, só lutar não basta!

Acende a minha pequena estrela.”

Parece que me ouviu a prece, Deus.

De mim o cálice ao afastou,

Terei de zela pelos filhos Seus

Sem ser protagonista do Seu show.

Ma, eis que Ele me deu um companheiro,

Alguém com quem posso compartilhar,

Que é o verbo do espírito verdadeiro

Dos que buscam a verdade encontrar.

É o Rei de um Reino Inimaginável

Que transforma todo os sofrimentos

Em experiência aproveitável,

Para melhorar todos os momentos.

Esse Gigante de Conhecimento

É Pintor, Filósofo Arqueólogo,

Vê o mundo em constante movimento

E descarta totalmente o monólogo.

É, também, exímio navegador

Que me leva a viajar o mundo inteiro,

Sem seus firmes pés num navio por,

Sem nunca na vida ser marinheiro.

Ah, Arthur, do corpo bonito forte,

Como o de Apolo, da mitologia,

Sabes que tens aquele mesmo porte?

Não e vendo, até, não te esqueceria.

Sabes, Arthur, que de ti que digo

Todas as venturas do reino humano?

Quero mostrar-te o caminho que sigo

Pr ver se tu queres seguir meu plano.

Com tua força, Cavaleiro Azul,

E com minha sutil independência,

Mudaremos o mundo, Norte e Sul,

Criaremos o Reino da Decência.

Eu, meu Arthur, não creio mais na sorte,

E sim nas transformações conscientes.

A inércia nos levará à morte.

Quer viver? Vem e te apresentes.

Correremos esse louco planeta

Perseguindo nosso real caminho,

Se for necessário, usando a baqueta,

Transformando água em puro vinho.

Como Nosso Senhor, Cristo Jesus,

Que saiu pregando Amor Verdadeiro,

Arthur, ofereceremos a Luz

A quem queira encontrar seu paradeiro.

Porque, Amor, ninguém foge ao seu destino

Por muitos tempos, assim, incontáveis.

Meu desejo, Arthur, é peregrino

E as minhas paixões são incontroláveis.

Eu amo a poesia, a música, a vida,

O trabalho, a luta e a própria dança,

O florescer da rosa arrefecida,

Amo ver seu sorriso de criança.

Vem, Arthur, para rainha fazer-me,

A levar-me num caminho de paz.

E, assim, já não mais poderei conter-me

Em ser feliz, em ser feliz demais!

Beatriz Oliveira
Enviado por Beatriz Oliveira em 05/01/2009
Código do texto: T1367817
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.