DEZ TROVEJAMENTOS DE TROVAS
1 Sou desafeto do rei,
modo de ser que me apraz;
se, assim, vou de encontro à lei,
abro mão da minha paz.
2 Convém à democracia
(dizem) o povo votar...
Se eleges pulha, algum dia,
é mais um para engordar.
3 Mãe não morre; mãe se encanta.
Toda vez que falo isto,
vejo qualquer mãe, já santa,
a bater papo com Cristo.
4 Falar em fazer chicana
para um rábula togado
é o mesmo que pôr mais cana
nas ventas do embriagado.
5 Tudo do todo faz parte,
nada do nada se exclui;
cão feio pode ter arte
e um belo, às vezes, dá "ui!"
6 Esse teu nome - Noêmia,
de tão plangente que soa,
é muito mais uma nênia
que embala a minha pessoa.
7 Quando te vejo, a valer,
o suplício que me invade
é quando irei te rever,
daí já sentir saudade.
8 Bom de ser arremessado
na imundície de um monturo
é todo o cabra safado
que está ou foi dedo-duro.
9 O coração, ver um tacho,
além de espinhos e flores,
sobretudo, como eu acho,
é terra fértil de amores.
10 Toda essa terra cercada,
sem-terra, que vês à frente,
Deus a retirou do nada,
não para um pingo de gente.
Fort., 29/12/2008.