INFÂNCIA VIVIDA EM ROÇA

COM OITO ANO DE IDADE

EU COMECEI NA BATALHA

CRIANÇA POBRE TRABALHA

PORQUE TEM NECESSIDADE

ME CRIEI SEM VAIDADE

SÓ COMECEI NAMORAR

DEPOIS QUE PUDE COMPRAR

UMA CALÇA COMPRIDA GROSSA

INFÂNCIA VIVIDA EM ROÇA

TEM MUITO O QUE SE CONTAR

PROCURAVA ERVA CIDREIRA

PARA MAMÃE FAZER CHÁ

ANDAVA NUM CAÇOÁ

ME DEITAVA NA ESTEIRA

TANGIA A VACA LEITEIRA

PRA O BEZERRO NÃO MAMAR

OLHAVA O POVO AMANSAR

BOI PRA BOTAR NA CARROÇA

INFÂNCIA VIVIDA EM ROÇA

TEM MUITO O QUE SE CONTAR

EU FUI UM NENÉM SEM BERÇO

ME CRIEI COM PAPA D’ÁGUA

MAS CONFIANTE E SEM MÁGOA

ESSA FUNÇÃO HOJE EXERÇO

JÁ FUI REZADOR DE TERÇO

PROFESSOR PARTICULAR

COLHI FRUTOS NO POMAR

DORMI SONO NA PALHOÇA

INFÂNCIA VIVIDA EM ROÇA

TEM MUITO O QUE SE CONTAR

JOGO DE BOLAS DE GUDE

NO TERREIRO DO RECINTO

PAPOSA PEGANDO PINTO

MOLEQUE TIRANDO O GRUDE

PATO NADANDO EM AÇUDE

BODE SEM QUERER ANDAR

PASSARINHO A SE BANHAR

DEPOIS QUE A ÁGUA EMPOSSA

INFÂNCIA VIVIDA EM ROÇA

TEM MUITO O QUE SE CONTAR

UM CABRITO SENDO ASSADO

NA BRASA DO FOGAREIRO

PANELA EXALANDO O CHEIRO

DE MOCOTÓ COZINHADO

MELANCIA NO ROÇADO

DEZ QUILOS CHEGA A PESAR

QUE DEPOIS QUE ELA VINGAR

QUANTO MAIS CHOVE ELA ENGROSSA

INFÂNCIA VIVIDA EM ROÇA

TEM MUITO O QUE SE CONTAR

Heleno Alexandre
Enviado por Heleno Alexandre em 19/12/2008
Reeditado em 25/01/2011
Código do texto: T1344626