DEZ TROVAS TROVEJADAS [II]

1 QUANDO me chega a saudade,

faz-se em mim um fuzuê...

É que me falta a metade

guardada aí com você.

2 MEU amor nasceu adulto

desde quando a conheci

e, naquele ensejo, um culto

por você eu construí.

3 VEM-ME a saudade, e me bate,

e me fustiga no peito,

porém, se lhe dou combate,

ai, que saudade sem jeito!

4 PODE ser lusa a saudade,

mas creio que é brasileira

a nossa antiga amizade,

feita do bem de primeira.

5 HÁ um perfil de mulher

impresso no meu caminho,

antigo e saudoso "affair"

da minha alma em desalinho.

6 TRISTE, triste, muito triste

é não se ter de regresso

a que se foi, mas que existe...

Por isso, volte - lhe peço.

7 SEU olhar, como um botão

de rosa, ao léu da manhã,

é ver um sol espião

na minh'alma, sua irmã.

8 NO mar do meu pensamento,

vai uma nau sem receios;

é seu semblante, no vento

verde dos meus devaneios.

9 EU desenterro na trova

meu bem por você, querida,

mas por que levar na prosa,

sempre assim, mal-entendida?

10 NESTAS trovas trovejadas,

em simples trovejação,

lhe envio flores, cortadas

ao jardim do coração.

Fort., 10/12/2008.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 10/12/2008
Código do texto: T1329134
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