DEZ TROVAS TROVEJADAS [I]

1 ANTES que te vás embora,

quero que saibas que eu

jamais me levei um fora,

e o que dói seria o teu.

2 TEU olhar no meu se estreita?

Minha alma reza contrita

no altar em que foste eleita

como a santa mais bonita.

3 NÃO fujas de mim... São pejos?

Que coisa besta, meu Deus!...

Não posso limpar-te os beijos,

jamais vais cuspir os meus.

4 A trova não é perfeita,

se medicinal não for,

trazendo-te por receita

qual drágea do meu amor.

5 TRANSMUDOU-SE em rebuliço

todo o sossego que eu tinha.

Hoje, sou um caos... Por isso,

te dei minha alma, todinha.

6 A alma de amor partida

deste teu sempre amador

sofre e pena mais, na vida,

quanto mais te tem amor.

7 UNS goles de chá de tédio

com drágeas de solidão,

a tristeza - meu remédio,

eis-me a doença - paixão.

8 QUANTA candidez macia

tua doce voz resume:

ouvi-la, assim, dia-a-dia,

é vestir-me de perfume.

9 PASSEIA meu pensamento

pelo saguão do teu corpo,

sem trégua, a cada momento,

como o barco busca o porto.

10 COMO num astral passeio,

quando cai no teu olhar,

minh'alma, coitada - creio -

é nau perdida no mar.

Fort., 07/12/2008

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 07/12/2008
Reeditado em 10/12/2008
Código do texto: T1323789
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