TROVAS (3)

É manhãzinha, antemanhã,

uma manhãzinha gostosa

e os pássaros em rebordosa

na sinfonia mais chã.

Ventos fortes um tempão,

de repente a calmaria ...

Nossa vida não teria

este mesmo diapasão ?

Lá praquelas nebulosas

nas alturas infinitas

brilham estrelas bonitas,

bem felizes, venturosas.

Nesta vida de velh(a)(i)dade

a coisa é mesmo de amargar,

a "véia", já sem velocidade,

- a tua bengala, "véio", posso usar ?

Abro os olhos pro infinito

nesta manhã sabatina

e um azul imenso, bonito,

surge grátis na retina.

Versos são como passarinhos

desejando sempre voar,

até mesmo os pequenininhos

querem vôos altos alçar.

Tanta doçura a vista

até parece uma quimera,

procuro o alquimista

que inventou a primavera.

No domingo modorrento

não vejo nada construtivo,

só preguiça, não há momento

nem pro ócio criativo.

Silmar, você não existe !!

Realmente eu não existo

e ainda tem gente que insiste

que sou querido e benquisto.

Ventos...ventinhos... ventosos...

A natura totalmente em festa,

céu azul, pássaros, a floresta,

trinados... ubérrimos... virtuosos...

Já viste uma bicheira

em constante ebulição,

minhas idéias assim o são,

fervilham sobremaneira.

Obras do acaso, meus versos

também são filhos de Zeus

juntados dos universos

para os regaços meus.

Apaixonado pela existência,

por extensão, pelas mulheres,

essas luzes, bem-me-queres,

numes da mal-bem-querência.

Imaginar-me sem papel

é muito pra minha veia,

viro um Anchieta a granel

fazendo rabiscos na areia.

Muitos vivendo o ter

neste mundo tresloucado,

eu vou vivendo o ser

pra viver bem sossegado.