D'OURO E VINDIMAS

"Fui ao Douro às vindimas,

Não achei que vindimar,

Vindimaram-me as costelas

Olha o que lá fui buscar."

(Cancioneiro popular duriense)

Fui ao Douro à vindima,

Não achei que vindimar,

Vindimaram os meus olhos,

Colheram-mos para o lagar.

Não achei que vindimar,

Nem sequer um só baguinho,

Mas meus olhos d'uva preta

Apanharam-mos p'r'um cestinho.

Nem sequer um só baguinho

P'ra fazer um néctar doce,

Mas meus lábios de cereja

Quiseram-mos p'ra sua posse.

P'ra fazer um néctar doce

Com aroma a mosto fino,

No cálice dos meus abraços

Escreveram meu destino.

Com aroma a mosto fino

E cheirinho de hortelã,

Aromatizaram meus beijos

Certos olhos de avelã.

E cheirinho de hortelã,

Matizada de sol posto,

Beberam-me em copo d'ouro,

Em licor de fino gosto.

Matizada de sol posto,

Orvalhada de tons quentes,

Fui ao Douro à vindima,

Colhi só olhares ardentes...

(Tera)

CLARALNA, é uma honra contar com você, nesta roga* de amizade...

Na beleza da colheita

Com cheirinho de hortelã

Teu doce olhar me espreita

Pegou-me a febre terçã.

Matizado de sol posto

Bebi cada verso teu

O licor de fino gosto

Que alegrou o dia meu.

(Claraluna)

*Roga - grupo de vindimadores, contratados nas populações vizinhas, para fazer face ao trabalho intensivo das vindimas. Eram alojados em instalações da própria quinta, enquanto duravam os trabalhos da alegre colheita...