Trova: Complexa Simplicidade.

                                                                                   Compadre Lemos

Inicialmente, Trova era qualquer poema ou canção, chamando-se Trovador o poeta - ou vate -, aquele que declamava a trova.
 
Depois, passou-se a chamar Trova a forma fixa que hoje é empregada, isto é, o poema autônomo de quatro versos em redondilha maior. 

Estrutura 

Trova é um poema monostrófico (contém uma estrofe apenas) com quatro versos heptassílabos (redondilha maior), sem título, que se completa em seus quatro versos. 

A Trova também se chama Quadra ou Quadrinha. Porém esta sinonímia não é perfeita, uma vez que as regras rígidas da trova não se fazem necessariamente na quadra. Entre os atuais cultores desta forma de poesia, é preferível o termo "Trova" como designativo.
 
Há a necessidade de se diferenciar a Trova da Quadra que compõe um poema maior, vez que a trova se completa em si, sem aceitar mais nenhuma estrofe. 

O esquema rítmico da trova é de rimas alternadas (A B A B) ou opostas (mais raras) (A B B A). 


Exemplo de Trova:

Quando tu dizes que és minha,
Teu reino sofre um agravo:
Como pode, uma rainha,
Pertencer ao seu escravo? 

(Izo Goldman) 

Trovas do Compadre Lemos:

No simples fazer da trova
A Poesia tem valor.
E o poeta tem a prova
Que, se trova, é por amor!

***

Toda flor tem seu perfume,
Nem todo perfume é flor!
Toda mulher tem ciúme,
Mas nem todas, por amor!

*** 

Gaivotas vão, pelo céu,
Sem ter, do céu, consciência!
Meu coração grita, ao léu:
-- Como dói a tua ausência!

***

Andando só, pela estrada,
Uma coisa eu aprendi:
Que esta vida é mesmo nada,
Desde quando te perdi!

***

Solidão, bebida amarga,
Mas que, às vezes, faz bem:
Se o amor se faz uma carga,
Antes só, que sem ninguém!

***

Se há versos de protesto,
De tristeza, de alegria,
Como poeta, eu atesto:
Diversidade é Poesia!...

***

Ser mineiro ou nordestino,
Não importa: sou poeta!
Rimando, cumpre o destino
Minh'alma, essa inquieta!!! 

***

Não tenho terra ou dinheiro,
Nem fama, fortuna ou glória!
Mas tenho um amor verdadeiro
E o resto... o resto é história!

***

Tem gente que sofre e chora,
Tem gente que ri de tudo,
Mas, quando o amor vai embora,
O Cantador fica mudo!...

***

Eu amo Minas Gerais,
O meu lar, de tantas serras.
Sair daqui? Nunca mais,
Pra sofrer, em outras terras!

***

O Repentista é poeta
Que tem final diferente:
Se morre, alguém já completa:
-- Esse, morreu "de Repente"!

***

Já quando se perde o prumo,
Não há caminho e nem meio:
O homem vaga, sem rumo,
Sem paz, sem sorte e sem freio!

***

Quando nasce a boa trova
O coração está cheio
Do amor que sempre renova
O homem, para o seu meio!... 

***

Poeta, a meio caminho
Da morte, mas sempre andando,
Colhe a rosa, colhe o espinho,
Mas continua trovando!
 
***

Trovando, deixa pegadas
Que outros podem seguir.
Porque as pedras, paradas,
Não têm razão pra sorrir!

***

Para o homem ser feliz
Que escute com atenção
A receita, que já diz:
É festa, trabalho e pão! 

***

A vida traz a emoção
Que é tudo o que nos resta.
Alimenta o coração
Só de pão, trabalho e festa! 

***

Sem isso a vida não presta,
Vira tempero sem alho...
E fica muito indigesta,
Sem festa, pão e trabalho! 

***

Neste ferro frio eu malho
Desculpe a repetição...
Mas bato o pé, no assoalho:
É festa, trabalho e pão!... 

***

Já virou mote e refrão
Só não ouviu quem não quis:
É festa, trabalho e pão
Receita pra ser feliz!...

***

Digo: pão é Caridade
Se se dá com o coração.
Se se guarda, na verdade,
Quão seco se torna o pão!

***

Pão seco também se doa
Alguém pode utilizar...
Melhor que viver à toa,
Sem nada compartilhar! 

***

Quem convida dá banquete,
É assim que a vida é...
Para o pão seco, o macete
É um bom gole de café!... 

***

Pão seco, coisa de pobre!
Diz o outro, evaidecido!
Mas, no empanado, tão nobre,
Farinha de pão dormido!!!

***

Não quero ser passarinho,
Pra voar em céu aberto!
Prefiro seguir caminho,
Olhando o mundo de perto! 

***

Vendo as dores, socorrendo,
Tentando ser mais carinho
Para quem segue, sofrendo,
Penando, pelo caminho! 

***

Sejas tu o sal da terra,
A mão que ergue essa luz!
Sejas paz, em plena guerra,
E segue o Mestre Jesus!

***

Tem gente que se preocupa
Com frascos de comprimidos.
Eu sou mais quem se ocupa
Dos fracos e oprimidos! 

***

Quem leva pão e alegria
Minorando o sofrimento.
O pão, que a fome sacia,
Mas dado com sentimento! 

***

Se tens pouco, não importa,
Pois é bem melhor que nada!
Se a linha da vida é torta,
Coragem, na caminhada!

***

"Convém a mim ser amado",
Isso é o que sempre se diz.
Eu sou mais outro ditado:
"Sem amar... sou infeliz!..." 

***

Ser amado é conseqüência
Do amor que se espalha
Como assim, toda a Ciência
É o fruto de quem trabalha! 

***

Trabalha, pois, tua vida
Nos caminhos do labor.
E terás, sempre, na lida
Fortuna, paz e amor!... 

***

O povo tem sua vontade
Expressada pelo voto.
Mas não pode ser verdade
o "ele rouba e eu nem noto"!

***

Se ele rouba é o dever
De quem votou, reclamar.
Pois o certo é o bem fazer,
Mas não precisa roubar! 

***

Quem rouba o que é do pobre
Tá roubando o que é de Deus.
E ainda que muito sobre,
Faltará, pros filhos seus!...

***

O passado é o plantio,
O presente é a colheita
O futuro, desconfio,
Seja a tal da porta estreita! 

***

O presente é o que tenho
O passado é o que vivi.
Do futuro não desdenho,
Pois ele começa aqui! 

***

O futuro é mais um passo
O presente é pé no chão.
No passado, estudo e faço
Meu caminho e direção!

***

Eu ligo a televisão,
O tiro espouca, no ar.
E eu pergunto, meu irmão:
E a Cultura Popular?...

***
O pobre do pobre é pobre
O rico é pobre também.
Escravo, ainda que nobre,
Do "cobre" todo que tem!

***
À beira-mar, numa mesa,
Sobrescritei o envelope:
Mandei pra Dona Beleza,
À beira-mar, um Galope!


***
Não tem quem agüente ler
Poeta sem correção.
Pois Poesia tem que ser
Muito mais que inspiração!


***

Para, então, se aprender,
Não precisa sofrimento:
Basta estudar e querer
Sem choro, grito ou lamento!


***

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