A relação entre o filme "A Instituição" e a criminologia psicanalítica
O filme “A instituição”, retrata a trajetória de Allen, um sujeito que cometeu homicídio contra o abusador de sua namorada, e portanto é encarcerado sob custódia protetora na instituição psiquiátrica de Northwood, que segue rígidas tradições manicomiais. Cinematograficamente, o filme apresenta a realidade degradante instaurada nessas espécies de presídios e as cotidianas avaliações feitas para a verificação da condição mental dos sujeitos. O protagonista é inicialmente remetido a uma ala de máxima segurança, e posteriormente enviado a um espaço mais flexível, onde conhece uma moça, apaixona-se por ela e ambos enfrentam as adversidades do ambiente. As cenas contam com um tom sombrio, de modo a aludir à precariedade, aos embates entre os internados e à relação dos mesmos com a violência dos agentes aos quais estão submetidos. No final do filme, Allen se depara novamente com uma tentativa de estupro, dessa vez contra a sua companheira dentro da instituição, motivada por discordâncias, impulsos, obsessões e lutas internas, o que levou a um desfecho trágico com a morte do protagonista.
No âmbito da criminologia psicanalítica, a teoria freudiana da neurose acerca do delito motivado por um sentimento de culpa, que subverte o princípio da culpabilidade, pode ser observada no personagem principal, no sentido de que a culpa seria anterior ao cometimento do delito, visto que seria a razão de ter praticado o homicídio contra o abusador de sua namorada. Sua atitude indica a culpa pela impotência de não ter conseguido evitar o ato de violência contra ela. Até então, a culpa seria decorrente do crime, mas em razão de a criminologia psicanalítica ter uma base etiológica, isto é, pautada no estudo das causas que determinam um dado comportamento, a posição se inverte. Além disso, o filme reconstrói por meio de lembranças na trama, as memórias da infância do personagem, que auxiliam a compreender a formação de sua personalidade e a sua propensão para o crime que cometeu. De forma análoga, os estudos investigativos de Freud discorreram acerca das fases do desenvolvimento psicossexual infantil, com a devida importância sobre o entendimento desses fenômenos, que posteriormente cederam espaço às teorias do aparelho psíquico, com ênfase para o inconsciente, cuja manifestação aparece em uma passagem do filme em que o protagonista simbolicamente é levado a desenhar uma cena marcante de sua infância em constante conflito com seu irmão, causado pelo ciúme em relação à mãe. Atrai a atenção para essa temática, uma frase proferida pelo pai da vítima quando esse visita o instituto psiquiátrico: “Se agarrar à própria raiva é como segurar um carvão em brasa e esperar para jogar em alguém”. O mesmo personagem afirma que Allen guarda uma culpa muito significativa dentro dele, o que mais uma vez retoma as teorizações sobre a culpa como alavancadora da delinquência. Obsessões e angústias, classificadas como neuroses por Freud, são igualmente perceptíveis em diversos momentos do filme, na demonstração do dia a dia psiquiátrico que permeia a sociedade punitiva com suas complexidades psíquicas.
Referência: A INSTITUIÇÃO. Direção: D.W Brown. Produção de Mike Wittlin productions. Estados Unidos: Anchor Bay, 2011. DVD.
Disciplina: Criminologia e Política Criminal