Tendências filosóficas do século XXI. 
A Era da globalização.


A mais adequada filosófica dos pungentes problemas sociais e políticos nos apresenta uma sociedade progressivamente mais global e, a Filosofia trata de refletir sobre o novo modelo de sociedade. A globalização é considerada o maior avanço da humanidade desde as grandes conquistas do Império Romano, questiona-se ainda as relações sociais e jurídicas neste processo.

Deu-se a formação de gigantescos blocos econômicos, onde se procurou até fixar uma moeda única, e procurou-se abolir as delimitações que antes se apresentavam como uma grande conquista, a formação do Estado moderno e acepção de soberania. Portanto, a nova leitura da sociedade atual que tenta descobrir novo modelo de progresso e reorganização no espaço geográfico, econômico e cultural. E, na dialética composta de avanços e retrocessos, surgiram inúmeras teorias sobre a realidade. Vários ramos do saber humano e estudiosos procuraram com suas observações e reflexões identificar os problemas emergentes da sociedade contemporânea e, ainda buscar novas soluções.

Reconhece-se que o existencialismo nunca fora tão útil. A má-fé é o subterfúgio mais debatido. Novamente, as desigualdades sociais e econômicas são surpreendentes e a exploração do homem pelo homem, é cada vez mais clarividente. Nem mesmo Karl Marx poderia ser capaz de imaginar que o trabalho operário fosse capaz de angariar tanta riqueza e tantos lucros. A mais-valia é mero rascunho ultrapassado do que ocorre em nossa sociedade.

Por outro lado, deu-se o advento de muitas seitas e igrejas instituindo um autêntico tribalismo religioso e a construção de novos mitos, potestades e divindades, numa época onde a ciência aprecia ter se tornado obsoletas as investigações teológico-religiosas, retratam uma reaproximação do homem com à infindável busca do seu criador e, em busca de sua gênese.

Num profundo oceano múltiplo de fatos, atos e fenômenos que somente aparentemente estão desconexos, há um entrelaçamento no interior da sociedade e constituindo um elemento complexo que se traduz no homem contemporâneo que é por excelência, um ser social diante do seu embate cotidiano, com a realidade, seus problemas e, novas tecnologias. Apenas em tese, caberia à Ética, à Epistemologia, à Filosofia Política, à Metafísica e, à Religião dentro de tantas outras ramificações da Filosofia ajudar o homem na busca de soluções para seus cruciais problemas que, no fundo, versam sobre moral, reorganização social, e a existência de paradoxos e controvérsias, por vezes, incontornáveis.

De fato, as ciências empíricas construíram um castelo de certezas e mesmo com o domínio do positivismo se encarregaram de desempenhar, de forma deficiente, a função da Filosofia. No final apenas esboçam uma breve compreensão fenomênica dos fatos sem atentar com maior o rigor crítico para entender a cadeia de causa e efeito.

Uma das maiores contribuições da Filosofia é a tentativa de mostrar ao homem que ele não é meramente um produto do meio, um ser passivo que sofre as interferências das pessoas que o circundam e reage como tal. Afinal, o ser humano igualmente interfere no meio de forma ativa e vai criando e transformando a sociedade, qualquer que seja o seu modelo político-ideológico. e todos seus componentes.

O homem convive com seus pares e semelhantes numa espécie intrincada de dialética existencial, interagindo com outras pessoas e com o meio. Diante dessa complexa interação nada estática e, muito dinâmica os traços pessoais se confunde com os coletivos e, percebe-se que um passa a agir em razão do pensamento do outro.
Portanto, o discurso filosófico aparece para fomentar o pensamento crítico, buscando refletir sistematicamente sobre as inúmeras práticas sociais, porque não se pode pensar em nenhum indivíduo que não seja solicitado a refletir e agir dentro da realidade onde está inserido.
Essa complexa interação dinâmica confronta a existência humana, a formação de sua essência e o humanismo disputa com a inteligência artificial um novo protagonismo. A inteligência artificial representa novo desafio decisivo para futuro da humanidade. Há dificuldade de previsões seguras, devido à celeridade com que os processos tecnológicos evoluem e suas implicações globais afetam todos os setores da vida, do sistema econômico-financeiro das empresas até à pesquisa, informação, educação, saúde, família e mesmo meras amizades. O que reverbera na consciência social e pessoal e ainda nas relações inter-humanas. Dá-se uma mistura de fascínio e medo, de expectativa e inquietação.

As novas e consistentes potencialidades implicam em majoração da capacidade cognitiva, devido a possível extração de dados em grandes quantidades e, através do algoritmos, podemos analisar adequadamente problemas cada vez mais complexos e, no âmbito do mercado de trabalho, a atribuição para a máquina de tarefas mais enfadonhas e repetitivas com a consequente possibilidade de reservar ao ser humano maior tempo para tarefas criativas e de controle de qualidade, ou ainda, ao desenvolvimento de processos mais longos de comunicação, em virtude da possibilidade fruir da tradução imediata e direta dos discursos em línguas diversas fornecidas por instrumentos tecnológicos que atualmente seguem em perfeito aperfeiçoamento.

De fato, existem os negativos efeitos conforme afirmam as previsões que apontam para drástica redução dos postos de trabalho e, ocasionando o aumento do desemprego e, calcula-se que, em 2020, nos EUA, 47% dos trabalhos serão automatizados e, conforme constata o Fundo Monetário Internacional que a revolução dos robôs faça o PIB subir, mas, também envolve o crescimento de desigualdades, ou a proliferação de meios de defesa militar, cada vez mais automatizados, os chamados killer robts ou robôs assassinos, que podem expulsar os sujeitos humanos das decisões e da possibilidade de exercício do controle, diminuindo, consequentemente, até mesmo anulá-la a responsabilidade pessoa e alimentando a progressiva desumanização dos processos com dramáticas consequências sobre a família humana.

Tem-se, simultaneamente, cenários promissores e alarmantes conforme destaca Max Tegmark , do MIT de Boston, em sua recente obra Vita 3.0, que  aponta que os desenvolvimentos da inteligência artificial são capazes de produzir em poucas semanas autêntica revolução, na configuração industrial e na geopolítica.

Cogita-se se ocorrerá mutação antropológica o que afetara o futuro do gênero humano. O que agrega valor ao
termo trans-humanismo, cunhado em 1957 por Julien Huxley, famoso biólogo, geneticista e escritor britânico e,
parece encontrar cumprimento a suprema esperança, referida por Nietzsche na obra "Assim Falou Zaratustra", a de
galgar a superação da humanidade, em razão do nascimento de nova espécie de seres humanos superiores.

A referida mutação não deve ser atribuída apenas à robótica, mas igualmente, às biotecnologias, conforme já ocorre
nas manipulações genéticas e as noções adquiridas graças ao conhecimento que advém das neurociências.

Enfim, a tendência é reinventar o ser humano elevando-o a um patamar biológico superior e confiando na tecnologia como hábil instrumento capaz para se alcançar esse fim. Existe uma certa confiança incondicional nas potencialidades da técnica, como uma forma de otimismo humanista, igual a do Prometeu moderno que é capaz de fazer com que o ser humano supere todos os limites, que, desde sempre, experimenta.

Defronta-se a concepção da pessoa humana com novos parâmetros definidores de sua dignidade, e o novo sistema de valores que se refere a avaliar suas mais diversas etapas evolutivas.

Os ciosos defensores do pós-humanismo ou do tecno-humanismo erguem a hipótese de fabricação através das práticas de antropopoiese biotecnológica, de espécies futuras dotadas de capacidades que somente de modo inapropriado podem ainda ser definidas como humanas.

Lembremos que as competências técnicas sozinhas não são suficientes, posto que requeira um pensamento criativo, uma nova cultura dinâmica de síntese, capaz de obter as potencialidades oferecidas pela ciência, integrando-se a visão global do ser humano, que preserve ainda sua identidade.

A preocupação sobre o medo sobre o desaparecimento dos estudos humanísticos, conforme escreveu Martha Nussbaum, filósofa dos EUA que em Non per profitto Percé le democrazie hanno bisogno della cultura umanistica (Não por lucro. Por que as democracias precisam da cultura humanista), Editora Il Mulino, 2014. A obra enfoca a capacidade de pensar criticamente, a capacidade de transcender os localismo e de enfrentar os problemas mundiais como "cidadãos do mundo" e, por fim, a capacidade de representar simpaticamente a categoria do outro". Cogita-se, portanto, na reforma do Estado Social, e a satisfação das necessidades básicas das categorias menos privilegiadas.
E, dois setores merecem atenção, do mundo do trabalho, pois tornou-se necessária a definição de novo contrato social que  preveja a redução de horas laborais e adoção do slogan "trabalhar menos para que todos trabalhem" que adquire natural atualidade como incremento, além o desenvolvimento de outras atividades propícias ao crescimento pessoal, a socialização que exija formação permanente dos trabalhadores para obter constante requalificação profissional e, que oferece grande mobilidade atual e criar as condições para a reinserção no ciclo produtivo.
O segundo setor afetado é o militar com a presença de armas completamente autônomas e exige que seja reguladas por severas normas internacionais, voltadas a evitar seu desenvolvimento e sua proliferação e, a permitir a possibilidade do controle e da tempestividade das intervenções.

A introdução da inteligência artificial provoca uma reflexão antropológica e moral e seus impactos tanto na vida pública como privada traça um compromisso capaz de ter envolvimento com toda a cidadania.

As responsabilidade políticas específicas, para tornar os novos sistemas introduzidos pela evolução tecnológica mais confiáveis e mais controláveis. 

Zygmunt Bauman, filósofo que cunhou o termo “Modernidade Líquida”, dizia: “Escolhi chamar de modernidade líquida a crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza, a única certeza”. Com base nessa afirmação, podemos então traçar diversos paralelos entre o século XXI e o século XVI:
Assim como o século XXI está iniciando uma era de transformações, o século XVI também foi uma época de transformações radicais.

Vivenciamos o humanismo digital o que significa transportar os costumes humanos para as máquinas. E, assim
a inteligência artificial entra para aprimorar a experiência das pessoas como a tecnologia. E, no atendimento
ao cliente, essa evolução tende a ser benéfica ao consumidor, cliente, trabalhadores ou funcionários.

A filosofia contemporânea foi desenvolvida ao longo do século XVIII e seu marco foi a Revolução Francesa que
trouxe a reflexão sobre as diferenças de classe dentro da sociedade. Percebe-se que esse período reflete aos
séculos XVIII, XIX e XX. Tal período antecedeu a chamada filosofia pós-moderna.
Destaca-se que esse período deu-se a consolidação do capitalismo e houve grande respaldo para reflexão e, com
a Revolução Industrial inglesa, o início do século XVIII se tornava um marcante período de grande desigualdade
social. 
Assim o trabalho humano começou a ser explorado com jornadas laborais extenuantes e, igualmente se deu grande
avanço tecnológico, científico, mercadológico e a sociedade começava ser desigual. Muitas descobertas eram feitas, tais como a eletricidade, o uso do petróleo como matéria-prima, o carvão como recurso energético, o automóvel, o telefone, o telefone celular e, por assim em diante. Erigiu-se forte automatização da produção industrial e a força humana manual foi sendo substituída. E, nesse momento se consolidou a chamada consciência de classe.

A Indústria Cultural e a Escola de Frankfurt foram algumas das importantes correntes que surgiram juntamente da
filosofia contemporânea. As características englobam, principalmente: pragmatismo, cientificismo, niilismo, positivismo, utilitarismo, racionalismo, idealismo, Liberdade (início do liberalismo),  Fenomenologia,  Subjetividade,
pluralismo.

As duas grandes guerras mundiais, o nazismo, o fascismos, o período pós-guerra, a guerra fria e todas as tensões
existentes no embate entre o capitalismo e comunismo. A desigualdade social e econômica se expandia com celeridade, a péssima distribuição de renda, a grave degradação do meio ambiente em face do progresso industrial e, assim, a filosofia contemporânea passou a ser encarada como pós-moderna.

A crise do homem contemporâneo, algumas questões se destacam: Revolução darwiniana (origem das espécies) em decréscimo ao criacionismo; Evolução do freudianismo (escola da psicanálise começa a ser mais estudada e aprofundada); Revolução copernicana e o fim do geocentrismo; Einstein e a teoria da relatividade como proposta;
Todos estes casos passaram a fazer parte de novas questões que já não mais abrangiam a revolução industrial, a Igreja e a aristocracia.  Por esse motivo, o pós-modernismo se compromete a refletir sobre um avanço do que se notava na filosofia contemporânea.

 

 

Referências

GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. O que é Filosofia Contemporânea? Volume 336. Coleção Primeiros Passos.
São Paulo: Editora Brasiliense, 2009.
MARÍAS, Julian. História da Filosofia, 1941. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
MIGUENS, Sofia. Uma Leitura da Filosofia Contemporânea: Figuras e Movimentos.  São Paulo: Edições 70,2019.
REALLE, Giovanni. ANTISERI, Dario. Filosofia: Idade Contemporânea. Vol. III. Idade Contemporânea. São Paulo:
Paulus Editora, 2018.
ROVIBHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Contemporânea. Do Século XIX à neoescolástica. 5ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia contemporânea no Brasil: Conhecimento, política e educação. 6ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
STEGMÜLLER, Wolfgang. A Filosofia Contemporânea. Introdução Crítica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/03/2023
Código do texto: T7738878
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.