Síntese pessoal: Teoria, para quê?
O sociólogo brasileiro Pedro Demo elabora uma investigação científica sobre a finalidade das teorias a partir de um questionamento: “teoria, para quê?”, conduzindo o leitor a refletir sobre os vínculos entre o nível prático e o teórico, assim como suas contribuições mútuas. O pensador afirma que a produção acadêmica do conhecimento está embasada na teorização, que se diferencia de teoricismo pelo fato de a primeira ser contígua à realidade. Nesse sentido, não se pode cindir a teoria da prática, visto que ambas se complementam, ainda que tenham definições distintas. Uma depende da outra para que juntas possam resultar em um conhecimento que se efetive no cotidiano do saber científico. Contudo, o ato de teorizar se estende para além do antro acadêmico e representa uma necessidade humana, uma vez que a teorização busca explicar a realidade de modo simplificado e produzir conhecimento, em razão de sua característica lógica e sistemática. Na história da humanidade, diversas foram as tentativas de explicação teorizada do mundo, como uma forma de refúgio contra as incertezas e de garantia da estabilidade. Pensando sobre esse ponto, pode-se traçar uma analogia entre a criatividade inerente à busca por esclarecimentos com a evolução humana que nos privilegiou intelectualmente.
É instigante notar que a realidade é um conceito subjetivo, sendo reconstruída a partir do interior do sujeito. Desse modo, estabelece-se uma condição autorreferente que leva ao construtivismo, correspondendo a uma análise interpretativa da realidade para estudo. Deve-se a isso o não entendimento do que é real em sua completude, o que gera no ser humano a necessidade de elaborar ideias e teorizar. Assim, a memória funciona como meio de padronizar os acontecimentos e permitir previsões a respeito da realidade. Nota-se que a busca por padrões é bastante recorrente no conhecimento racionalizado, que investiga regularidades e repetições. Entretanto, ao meu ver, despadronizar também tem sua importância na medida em que propõe novos rumos de pensamento.
Percebe-se com clareza o rigor metodológico da teoria científica, na qual prevalece a incerteza como ponto de partida, em virtude do caráter questionador do conhecimento. A compreensão científica abarca um modo mais sedimentado de se pensar a realidade e dispõe de uma estrutura planejada de procedimentos que se iniciam com uma hipótese contendo uma tentativa de explicação acerca do problema proposto, mas não se finalizam com uma resposta absoluta e universal, pois os atores da teoria científica, ou seja, os seres humanos, são dotados de cultura e personificam um produto de seu tempo, o que não é compatível com definições imutáveis. No entanto, segundo Pedro Demo, a teoria não tem como objetivo impedir o surgimento de ideias novas, mas sim oferecer uma base válida e formal para os diálogos sobre uma temática.
Concordo com a afirmação do autor de que é evidente que o método não está em primeiro plano na ciência, mas sim o ser humano, com todos os seus valores e ambiguidades, pois para o meu entendimento, a teorização presume uma incompletude sobre a realidade e dialoga com o lado ordenado da natureza, estendendo sua reflexão à posição teórica ocupada pela singularidade humana, que fornece mais estrutura técnica às teorias que senso de realidade, visto que essa assume desígnios parciais. E na contemporaneidade, houve um resgate do conhecimento que questiona a si mesmo, tendo como base a teoria crítica ao passo em que se verifica um afrouxamento das exigências no meio científico, impulsionado pelo advento do relativismo e das subjetividades. Na superação dessa conjuntura, Pedro Demo busca aliar a teorização à boa argumentação, mantendo-a sob a égide o questionamento e visando à desconstrução em prol do saber disruptivo, ou seja, revolucionário.
Em síntese, teorizar passa pelo crivo do bem pensar, seja em discursos argumentativos, em trabalhos acadêmicos, ou até mesmo em situações cotidianas. É perceptível que Pedro Demo coloca em perspectiva o tema da teorização, debruçando-se acerca de sua importância com o passar do tempo e de sua presença marcante no meio acadêmico, como recurso metodológico de eficácia científica. Para além disso, em sua condição de sociólogo, Pedro Demo examina a teoria a partir de uma ótica ampla que transcende a técnica e se institui no campo do conhecimento. Dessa forma, o olhar diante das teorias se modifica e sugere uma percepção mais vasta sobre a produção do saber com suas respectivas regras. Por fim, é imprescindível comprometer-se com a indagação feita pelo autor no título de seu estudo “Teoria, para quê?”. A resposta é a seguinte: teoria para solidificar a prática, organizar o ato de pensar e proporcionar a ascensão de novos conhecimentos.
Disciplina: Metodologia da Pesquisa em Direito