Síntese pessoal: O que é dialética?
Leandro Konder inicia sua obra “O que é a dialética?” trazendo uma definição ao analisar o contexto da sua origem. Já no primeiro capítulo do livro, o autor explica de forma objetiva o que era a dialética para os gregos antigos: a arte do diálogo, que com o tempo se elaborou ao discorrer sobre técnicas argumentativas. Meu entendimento sobre o tema é compatível com a dimensão filosófica trazida por Konder, visto que a boa comunicação e o pensamento interferem-se mutuamente. Ao pensar no conceito contemporâneo de dialética, nota-se que ela se vincula fortemente à realidade do mundo e busca fugir de qualquer abstração do conhecimento. No entanto, é fundamental a compreensão da linhagem histórica, passando pela Idade média, pelo pós-iluminismo, até alcançar o contratualismo, para que a análise da evolução da dialética esteja melhor respaldada pelo tempo.
Adiante em suas instigantes divagações filosóficas que muito agregaram ao meu conhecimento, Leandro Konder retrata um período de efervescência político-cultural que culmina em uma nova ordem social refletida no pensamento humano. Kant é um dos principais teóricos da época, com importantes contribuições que moldaram o conhecimento ocidental a partir da análise das contradições de seu tempo, visto que inaugura o próprio questionamento: o que é conhecer? Ao lado dele, ergue-se Hegel, que insere na filosofia a centralidade do ser, como um sujeito anterior à sua faculdade do saber e imerso em uma realidade objetiva que se caracteriza fundamentalmente pelo trabalho, o que me faz pensar em um panorama econômico das síncronas revoluções burguesas ao inaugurar uma cisão entre o homem e a natureza.
O autor aprofunda a temática do trabalho, que em minha percepção, constitui um dos grandes marcos da modernidade, uma vez que fixa os meios para atingir os ideais propagados pelas revoluções burguesas. Na perspectiva de Marx, o trabalho humaniza a natureza e a coloca em nosso favor. Aliada a isso está a maior especificidade das etapas de produção, e por consequência, uma visão mais unilateral do ser humano em sua busca pela propriedade privada em uma sociedade de classes. Para embasar esse ponto de vista, pode-se citar uma máxima de Hegel: “A verdade é o todo”, ou seja, verifica- se a importância da totalidade, que se diferencia da generalização por objetivar uma análise completa do objeto em questão. As relações complexas de uma síntese ou de uma elaboração a partir do todo, podem ser auxiliadas pela teoria de investigação metodológica em sua concretude. Nesse âmbito, revela-se o meticuloso trabalho da dialética em identificar as contradições em sua associação com a totalidade.
O título de um de seus capítulos “A fluidificação dos conceitos”, me recordou da teoria da liquidez proposta por Zygmunt Bauman. Contudo, o autor desmistificou minha ideia inicial no decorrer das páginas ao explicar a concepção marxista como uma solução material face à natureza que é por nós condicionada, ao invés da ideia de relativismo que se prende ao sentido.
Marx também analisa as mudanças e permanências dialéticas conforme a passagem do tempo e as determinações reflexivas que persistiram apesar dos paradigmas. É a partir dessas continuidades que estabilizaram a essência dialética, que se pôde pensar nas leis de sua formação e de seu funcionamento com base na materialidade dependente da natureza. Tais leis são três e foram expressamente redigidas pelo autor, consistindo em: lei da passagem da quantidade à qualidade, lei da interpretação dos contrários e lei da negação da negação. Em última instância, na substância dessas leis se situa a necessidade da dialética frente à transformação social em dado momento da história humana.
Outras correntes de vieses diversos elaboraram seus entendimentos sobre a dialética que se mantinha, com revisões e aperfeiçoamentos, na garantia de suas repercussões. Do ponto de vista humano, pode-se dizer que a totalidade é imprescindível para a unificação dos indivíduos na construção coesa da história e de seus elementos indissociáveis, como a consciência crítica que impeça a alienação frente a uma tendência passageira. Ademais, a atividade dialética se sustenta na autocrítica e na reinterpretação dos contextos, visualizando uma realidade atual que se finca no passado e que reverbera no amanhã.
Em síntese, pode-se afirmar que a dialética enquanto aparato de estudo frequentemente se instrumentalizou em um alvo das ideologias, sendo por vezes considerada idealista, subversiva e até revolucionária. Em breve análise, a dialética é um último suspiro de humanidade diante da tentativa de destituir o ser humano de sua substância mais essencial, o que nos leva à conclusão, portanto, de que ela deve ser preservada em seu empreendimento de manutenção da esperança em nível epistemológico e histórico-social. Em uma reflexão final, presumo a partir de tudo o que foi lido, que a dialética não escolhe um lado ou um partido, ela é por si só o caminho a se seguir.
Disciplina: Metodologia da Pesquisa em Direito