A crítica de Mandeville em "Vícios privados, virtudes públicas"
A crítica de Mandeville se apresenta por meio de uma fábula, em que o autor rechaça de seu pensamento qualquer alusão ao bem ou ao mal, ou seja, aniquila a moral. O autor examina que o esforço em eliminar a corrupção, o egoísmo e os interesses próprios é improdutivo para que se alcance um progresso, visto que os vícios privados alimentam a máquina pública e proporcionam benefícios sociais no sentido de colaborarem para a prosperidade financeira ao estimularem determinados setores da economia, ainda que o conjunto das forças sociais busquem negar sua realidade e sua subversão à moral vigente. Em síntese, os vícios são imprescindíveis. Entre a crítica do autor, se situa de modo satírico a alegação de que a sociedade se autoafirma moral, mas não o é na prática, o que explicita a hipocrisia dos indivíduos que insistem em retornar ao mundo de aparências. Convém ressaltar que Mandeville retrata as condições da Holanda do sec. XVIII, cujo desenvolvimento técnico-científico estava em plena ascensão, assinalando um período de efervescências. Nesse sentido, o autor verifica uma contradição entre os valores morais da burguesia diante do novo paradigma de um sistema econômico que começava a despontar. Uma clara passagem da obra em que se observa o idealismo burguês em vigor abrangendo suas crenças, é o suplício às entidades divinas por parte de um agrupamento de seres humanos moralistas, cuja ilusão de aperfeiçoamento se insere em uma das críticas de Mandeville, já que o bem público não pode ser atingido por meio de um bem moral, mas sim atrelado ao avanço econômico. Por meio de uma metáfora, o pensador identifica as contradições como fatores que provocam dinâmicas na sociedade, e ainda que incômodas e insuperáveis, essas contradições são necessárias, visto que viabilizam as dinâmicas sociais e marcam sua presença especialmente em momentos de transição. Todavia, pode-se atentar para a regulamentação de seus impactos através de uma dosagem das paixões e das extravagâncias que se mostram essenciais, atendendo ao controle dos vícios e das virtudes.
Disciplina: Economia Política