Síntese pessoal - Palestra: Gandhi e a filosofia para a paz
A libertação do ser humano consiste na busca pela verdade por um caminho pacífico e livre da violência, no qual predomina a bondade e a igualdade entre os homens. Muitos modos de se pensar a condição humana e o mundo em que os seres se realizam, partem de uma experiência viva e cultural, que fornecem um vasto arcabouço de exemplos concretos que despertam no indivíduo aquilo que há de melhor em seu interior. Nesse sentido, pode-se pensar a vida de Gandhi como uma total entrega à causa humanitária em sua essência, que tenha o respaldo dos valores mais puros e elevados, sem segundas intenções ligadas ao prestígio e à fama de se buscar uma vida sublime.
Gandhi nasceu na Índia e em minha compreensão, é um ilustre nome a ser estudado, visto que se formou em Direito na Inglaterra e empregou seus conhecimentos jurídicos da forma mais admirável, visando ao bem comum em um contexto de exploração dos indianos por parte da metrópole inglesa. A religião sempre o acompanhou, bem como a renúncia às riquezas materiais. No entanto, Gandhi não era um fanático extremista, pelo contrário, ele tinha como máxima a generosidade e o respeito a tudo aquilo que é sagrado para o outro. Um ponto importante de mencionar é o fato de que em 1948, no ano de sua morte, após anos de ativismo pela paz e pela plenitude da vida humana, foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o que simboliza em meu entendimento, uma resposta àquilo que Gandhi lutou em vida, recebendo por isso, o título de Mahatma: a alma grandiosa.
A palestra da professora Lúcia Helena Galvão, membra da escola de filosofia Nova Acrópole, em comemoração aos 150 anos do nascimento de Gandhi, foi muito enriquecedora e possibilitou inúmeras reflexões sobre a missão do ser humano na Terra, que pode ser espelhado pelas lutas que Gandhi empreendeu aliadas à sua determinação moral de seguir adiante, mesmo após ter sido preso em razão de defender ideais subversivos à condição colonial da Índia. O ser humano é dotado de potência, que sendo bem utilizada, se transforma em luz para o mundo e acende a singularidade do homem em fazer a diferença em seu campo de atuação possível, que para Gandhi, consistia em um local precário, de desigualdades e divisão
da sociedade em castas injustas. Ou seja, apesar das mazelas presentes, constituía um espaço de muito progresso a ser feito ainda.
Gandhi nos legou uma autobiografia, que possibilita um estudo minucioso de sua vida e a constatação de que não é necessária uma proclamação exterior, tudo o que é necessário está no interior do homem e deve reverberar em atitudes de reverência à vida e a ao semelhante. Sendo Gandhi muito espiritualizado, a noção de Deus para ele tem como fundamento um ente unificador e é sinônima à verdade, fugindo das abstrações metafísicas sobre o divino, posto que a verdade está no plano da realidade, sendo a outra face de Deus. Gandhi se apropria da ideia de que sua sede advém do espírito, o que demonstra novamente sua busca incessante pelo bem em suas lições sobre a humildade, e tendo a religião, um apelo etimológico “religare”, ao restabelecimento de vínculos com a essência do ser em um plano superior.
Outro grande ensinamento que nos foi transmitido é a ideia de que o homem não deve ser julgado por suas atitudes, uma vez que elas não o definem por completo, e estão sujeitas à volatilidade humana. Não se pode odiar os homens, mas somente as ideias por eles detidas e que em muitos casos, os escravizam. Vê-se que Gandhi foi muito além de um personagem histórico e de um líder da paz, pode-se dizer que ele foi sobretudo, uma alma sensível, capaz de buscar na natureza uma fonte de saberes preciosos à mente humana e de aplicar da melhor forma possível suas meditações naquilo que as pessoas deveriam seguir como código universal de ética.
Após assistir à palestra, considero que um determinado trecho seria bastante agregador aos que buscam o ofício de jurista, em que a professora Lúcia Helena reafirma a presteza de Gandhi em visualizar o lado bom do ser humano, na efetivação de uma justiça benéfica para ambos os lados, sendo competência do jurista a criação de elos entre os homens, ao invés de provocar rompimentos que levem à discórdia. Em seu exercício como advogado, Gandhi aplicava um jeito muito particular às causas em sua responsabilidade e entendia a tolerância como imprescindível para a purificação do ser.
Em última análise, a palestra estimulou um olhar de deslumbramento sobre as nobres causas defendidas por Gandhi, como a resistência pacífica firmada na verdade e no amor, expressa pela palavra “Satyagraha”. Ao mesmo tempo, porém, e sob um ponto de vista pessoal, a apresentação promoveu um questionamento acerca da forma como lidamos com os conflitos contemporâneos no que toca aos valores humanos, tal indagação crítica não deve permanecer somente no campo das ideias, deve também ganhar os espaços da realidade e se concretizar como exemplo de respeito e dignidade, tal qual a concretude das ideias de Gandhi vistas na prática por suas eminentes contribuições.
Disciplina: Antropologia Jurídica