UM SÁBIO OBSERVADOR DE CAUSAS
As particularidades da acurada competência são atributos da observação também de homens visionários, que por serem semelhantemente portadores da mesma, o fazem saliente por notório detalhamento de cada ângulo de sua natureza, trazendo à tona a mais significante interpretação da parte que substancializa o em "si" do fato submetido a análise. Como não é de se admirar, não podíamos esquecer-nos de tirar da galeria do notáveis, o célebre general macedônio Alexandre o Grande.
Como filho de Felipe, Rei da Macedônia, sendo também seu pai, notável conquistador, conhecido por persuadir os gregos de forma a manifestar desinteresse, ao ponto de despistá-los e agregá-los posteriormente ao seu domínio; Alexandre mostrou-se surpreendente pela sua enorme estratégia e peculiar interesse e admiração pela intelectualidade, o que poderíamos deduzir que ele cuidadosamente treinado para ser o sucessor de seu pai, ladeado por célebres pensadores, além de manter-se sob a influência do berço helenístico dá um tratamento a questões bastante interessantes. Enfim, um acontecimento curioso nos chama à atenção, quando na sua época Felipe requisitava os melhores e mais hábeis cavalos da Tessália, pelo que entre esses admiráveis animais de estimação, destacou-se o cavalo que tinha por nome Bucéfalo, sendo este enviado ao Rei Felipe por Filônico, natural da Farsália, julgando ser este um presente digno de tão grande Rei, o mesmo o enviou para o campo, procurando submeter ao adestramento.
Após tentativa de amaciar o cavalo e poder montá-lo, nenhum dos cavalariços e picadores puderam montá-lo. O animal saltava, bravio, derrubando os que conseguiam alcançar a sela, e todos foram de opinião que deveria aquele animal ser devolvido por ser indomável. Vendo o que acontecia e sobretudo o desapontamento do pai, Alexandre exclamou:
"É uma lástima que pouca destreza e falta de coragem nos impeçam de possuir um cavalo assim!"
Felipe ao ouvir as palavras do seu sucessor, repreendeu-o com severidade, quem era e que autoridade tinha para desacreditar os melhores cavaleiros do império? E erguendo a voz para que todos escutassem, com a intenção de dar uma lição prática ao filho, indagou:
"E você Alexandre, será capaz de montá-lo?
Respondeu Alexandre: "eu o farei, pai, se o senhor permitir".
Respondeu Felipe: "mas, se você não conseguir que perderá?"
"Perderei o preço do cavalo", concluiu Alexandre."
Felipe aceitou o desafio de seu filho. Ouvindo o ajuste, que consideravam uma bravata do jovem príncipe, os presentes puseram-se a rir, a mais não poder. Fácil era o desafio, porém difícil a prova - pareciam todos pensar. Alexandre, porém, que observara durante as tentativas de doma, que Bucéfalo se assustava com a própria sombra e se tornava com isso furioso, segurou-o pelas rédeas colocando-o contra os raios do sol.
Conseguiu desse modo acalmar o cavalo e passou a acariciá-lo e a afagá-lo, ao mesmo tempo em que, erguendo-se pouco a pouco, montou-o de um salto. O animal agitou-se, inquieto, corcoveando, não querendo sujeitar-se ao freio. Foi e voltou, corcoveando sempre, no esforço para vencer o cavaleiro. Tudo inútil, porém.
Alexandre, então, levou-o para um campo mais aberto e espaçoso onde pudesse correr livremente, e, cedendo às rédeas, esporeou-o para que galopasse à vontade. Dominando-o finalmente, sempre o obrigando a correr, Alexandre o fez obedecer ao seu governo, completamente domado.
Assim, à custa de trabalho e fadiga, o cavalo perdeu a fúria e passou a obedecer ao cavaleiro, como o seu verdadeiro dono. Todos aplaudiram Alexandre com entusiasmo, contagiando Felipe, que não cabia em si de contente, por esse triunfo do filho. Quando apeou, beijou-o e disse:
A Macedônia é demasiada pequena para um príncipe tão valoroso!
Mas Bucéfalo, mantendo a mesma ferocidade, jamais se deixou montar por outro cavaleiro que não Alexandre.
Podemos após essa interessante narrativa fazer uma conclusão, utilizando-se da simbologia a que prescreve uma situação que põe em cheque à habilidade e a experiência corriqueira sobre atividades interessantes, quando enfatizamos até a presunção dos considerados hábeis naquilo que fazem, isso, do ponto de vista da apreciação das pessoas que se prendem a uma determinação aparente e majoritária. Convertendo essa ilustração, decodificando-a, podemos visualizar que Alexandre prescindia de observações infinitamente particulares e minuciosas sobre tudo o que ele se submetia, na preparação para a sucessão de um trono.
Sob uma ótica bem peculiar, ele observou o sujeito cogitado no espectro e a correlação da problemática que ocultava a derivação dos seus efeitos. Porém, ao lidar com a questão, que em si tratava de dar desprendimento a uma meta em torno de um presente de um rei, por que não dizer o lindo animal para a estimação real, o Bucéfalo, preocupou-se em ir à contramão acerca da investida dos nobres cavaleiros. Antes de afirmar abertamente sua destreza, não se precipitou em fazer uma demonstração de sua capacidade de modo instantâneo, antes, em vez de atinar para o lado estratégico comum do evento que enfrentava, o mesmo se preocupou em observar a natureza do animal e o que na relação de sua sensibilidade estaria negativamente influenciando o desempenho daquilo que esperavam; o olho mágico sempre funciona quando conseguimos conter o vulcão do entusiasmo, moldado no adestramento formal, pois que, os sabem enxergar o significado vindo da informalidade, partindo da tranquilidade do observador que não salta de contentamento do impacto causado pelo rugir do mínimo efeito, tal qual, como simbolicamente a expressão da fúria do vento, pode ver e esperar enfim, a perfeita solução daquilo que é objetivado.
E observando o sintoma mais simples, não percebido pelos mais hábeis, Alexandre detectou que Bucéfalo se assustava com a própria sombra e se tornava com isso furioso, segurou-o pelas rédeas colocando contra os raios do sol; parece não ser grande coisa, mas aí está uma lição e um sentido: "todos se concentram em visualizar em primeira mão os acontecimentos aparentes", porém, no mais simples fato, poderá vir uma brecha, fato este que faz até o mais simples observador, transformar-se no maior de todos os pugilistas, devorando todo mundo num ring. Alegoricamente, podemos comparar Bucéfalo com as causas indomáveis pelo sistema tão embasado de mecanismos ditos eficientes, movidos da rompante que determina o traço da ignorância nos moldes da formalidade imatura, e paralelamente seus cavaleiros como uma válvula de pressão, querendo fazer propulsão como um vulcão movido pelo entusiasmo do rotineiro adestramento. E enfim, o procedimento de Alexandre, como o do tranquilo intérprete profissional que enquanto o mar se agita, ele serenamente se imerge num teor de esclarecimento e busca de inspiração, não prescindindo apenas do bojo dos evocados princípios da consonância da inter-relação profissional, mas da criteriosa análise da natureza que se manifesta através dos seus sentidos, muitas vezes não visíveis, quando a presunção de determinadas disposições se inflam, obstruindo a viabilidade do usufruo das coordenadas que salientam os fundamentos da verdade.
E servindo de exemplo para aqueles que militam na defensoria, podemos frisar que notoriamente a observação comentada, concorrerá para que o mesmo tenha um poder de fogo na instrumentação de toda sua sustentação, vazando as brechas, deixadas pela precipitação de certa presunção e entusiasmo do adversário, sendo a mesma alicerçada não no fundamento do conhecimento, mas da sensação de uma falsa convicção, empurrada pelo elogio dos que julgavam-no célebre.
Concluindo, o verdadeiro Advogado não deve dar ou ceder rédeas a promotoria, mas manifestar o verdadeiro, digno papel de um fiel defensor de sua propositura