Resumo: Provavelmente o Príncipe Negro seria mais reconhecido pela História se seus feitos militares tivessem obtido consequências políticas mais duradouras. Mas, foi merecedor de vitórias grandiosas que foram comprometidas pela Guerra Civil Castelhana e pela Guerra dos Cem Anos. Foi um dos maiores guerreiros que a Inglaterra produziu.

 

Palavras-Chave: Mito. Militar. Príncipe Negro. Apelido. Vitórias. História.

 

 

Eduardo de Woodstock, Príncipe de Gales (1330-176) mais conhecido como  Príncipe Negro devido a sua armadura e reputação marcial distinta, era o filho mais velho de Eduardo III da Inglaterra. Outros historiadores sugeriram que  seu apelido pode ter sido derivado do hábito francês de se referir a um  comandante extraordinariamente brutal como um “javali negro”. Sem dúvida,  Edward era o guerreiro medieval mais famoso de sua época. Mas ele poderia  ser um homem cruel e nem sempre se comportou como um homem de honra. 

 

Seu apelido, entretanto, pode ter sido dado  pelos franceses devido a terrível estratégia de terra arrasada que ele repetidamente usou contra eles. Outro dos emblemas do Príncipe Negro eram três penas de avestruz brancas colocadas contra um fundo preto, e ainda hoje, as penas de avestruz são usadas como o símbolo do Príncipe de Gales.

 

Quanto ao seu outro nome mais famoso, não o foi até o século XVI (muitos séculos após sua morte) que Eduardo passou a ser conhecido como o 'Príncipe Negro', muito provavelmente por causa de sua armadura negra e / ou devido a cor do seu escudo de justa. Seu elmo de torneio pendurado acima de sua tumba é preto com um grande leão (ou leopardo) em cima dele.

 

Um exemplo pode ser a cidade de Limoges, que foi invadida e saqueada em 1370. Em seu livro “A Vida de Edward, o Príncipe Negro”, Louise Creighton (1850 – 1936) escreveu:

   “O saco de Limoges nos mostra o lado negro do cavalheirismo. Não devemos culpar muito o Príncipe Negro por isso. Ao sacrificar os habitantes inocentes de uma cidade inteira  para sua vingança, ele só estava agindo de acordo com o espírito da época em que vivia…  Isso foi o que o cavalheirismo levou, e todas as suas características brilhantes não  podem nos fazer perdoar seu desrespeito ao sofrimento humano. Sem dúvida, este saco  terrível é uma mancha sobre o caráter do Príncipe Negro; mas dificilmente poderíamos ter esperado encontrá-lo superior à sua idade…”

 

A respeito dos prisioneiros franceses, inclusive quando veio a receber o apelido mais célebre: o de Príncipe Negro.
Tal alcunha relaciona a imagem do jovem, que a essa altura já era Duque da Aquitânia, a um homem cruel e sem compaixão, graças a crença histórica de que, em 1370, o saque a cidade de Limoges, na França, foi capaz de saciar seu amor pela violência.

 

O motivo do saque se originou em uma briga do príncipe com o bispo da cidade de Limoges, Johan de Cross, que traiu a confiança de Edward após se virar contra os ingleses. O relato era de que o príncipe, furioso, se dirigiu a cidade acompanhado de sua tropa e liderou a rendição de 3 (três) mil homens, mulheres e crianças da cidade, de qualquer classe social ou credo.

 

As fileiras de pessoas ajoelhadas, conduzidas sobre a supervisão do príncipe, imploravam por misericórdia na ocasião, mas não pôde muito fazer além de serem ordenador e mortos, um a um, sendo inocentes, apenas por vingança ao bispo. De acordo com historiadores, o ataque foi capaz de massacrar a maioria da população da cidade.

 

O ataque, apesar de muito favorecer os galeses, com os saques rendendo maior segurança financeira para as decisões locais, não gostaram da história que chegou; Edward ficou com fama de um ser sem escrúpulos e sem respeito aos inocentes que nada tinham a ver com a briga do bispo.

 

Com isso, a ideia de que Edward de Woodstock tinha uma alma “negra como o breu total”, fez a ideia de que o príncipe era um cavaleiro justo, humilde e compreensível, caisse por terra. Porém, com os recentes registros, a violência atribuída ao príncipe pode ter sido injusta.

 

Descoberta pelo historiador francês Guilhem Pepin em um arquivo espanhol. Uma carta escrita pelo príncipe Edward ao grande senhor de Gascon, o conde de Foix Gaston Febus. Relatava o que havia acontecido na expedição até a cidade de Limoges, para o acerto de contas com o bispo.

 

Na carta, o príncipe descreve que realmente conduziu diversos prisioneiros de alto escalão neste ataque, incluindo o próprio bispo e Roger de Beaufort, irmão do papa Gregório XI. Porém, o número de combatentes direcionados ao ataque era de apenas 200 (duzentos) cavaleiros e prisioneiros armados, o que impossibilitaria uma luta contra 3 (três) mil pessoas.

 

A hipótese levantada na carta leva a crer que havia 300 (trezentos) homens protegendo Limoges, sendo apenas estes os mortos. O dado coincide com o número de mortes contidos em uma escrita na abadia Saint-Martial de Limoges. Com a ligação dos dados, acredita-se que 100 eram soldados e apenas 200 civis, em comparação aos 3 mil declarados, foram mortos no saque.


Fora feito Príncipe de Gales em 1343, quando lutou com distinção nas duas grandes vitórias da Inglaterra contra
os franceses durante a primeira fase da Guerra dos Cem Anos, em Crécy, em 1346 e  Poitiers em 1356, quando capturou o rei da França. Outra célebre vitória foi em Najera, em Espanha, em 1367. 

 

Mas, a doença abateu o pobre antes que fosse coroado rei a que tantos esperavam. Eduardo morreu, muito provavelmente, de desinteria, em 8 de junho de 1376. Foi enterrado na Catedral de Canterbury, onde sua esfíge e capacete preto original e, escudo permanecem pendurados em exibição. “… O que o Príncipe Negro fez foi sacrificar todos os habitantes de uma cidade próspera à sua própria sede de vingança".

 

Em 1367, o Príncipe Negro participou da campanha espanhola, que não teve sucesso. Além disso, ele estava gravemente doente, o que o forçou a voltar para a Inglaterra. Seu estado crítico de saúde o impediu de continuar a atividade política.

 

Representou uma figura impressionante se casou com sua prima Joana, a condessa de Kent em 1361 no Castelo Windsor. O casal teria dois filhos: Eduardo (falecido em 1371)e Ricardo nascido em 1367 que mais tarde se tornaria Ricardo II da Inglaterra. Edward, o Príncipe Negro também teve filhos ilegítimos que nasceram antes de ele se casar - Sir Roger Clarendon, Edward, Sir John Sounders e Sir Charles Fitzedward. O casamento também foi polêmico, porque Joan (sua prima) tinha uma história conjugal, que era desaprovada, e porque ela era inglesa, também impediu a Inglaterra de formar uma aliança mais forte com uma nação no exterior.

 

Além de sua grande carreira militar, Edward, o Príncipe Negro assumiu como regente em três ocasiões, enquanto seu pai, rei Eduardo III, estava fora lutando. Ele também desempenhou as funções de Alto Xerife de Cornwell em várias ocasiões entre 1340 e 1374. Demonstrou grande devoção ao longo de sua vida, contribuindo generosamente para a Catedral de Cantebury e fazendo peregrinações a Walsingham e Canterbury antes de suas famosas batalhas em França.

 

O Príncipe Negro era adepto de tropas leves e móveis, de rigorosa disciplina, empregava arqueiros dotados com o famoso arco longo inglês e canhões com maestria, demonstrando ser um grande tático.  Como líder militar era audacioso, agressivo, lutava com grande ardor e coragem, se distinguindo  pela bravura pessoal. Além disso, foi o fundador da Ordem da Jarreteira (1348) criada por seu  pai o rei Eduardo III.

 

Esta ordem, a mais antiga e mais prestigiada da Inglaterra, foi criada com apenas 24 cavaleiros selecionados, mais o rei e o Príncipe Negro. Todos os seus primeiros membros lutaram na Batalha de Crécy; estes eram homens de valor, não apenas de posição.

 

O símbolo desta ordem é uma liga/cinto (então usada na parte superior do braço ou perna sobre a armadura) e seu lema é Honi soit, qui mal y pense ou "O mal está sobre quem pensa", provavelmente uma referência a quem duvidava do direito do rei de governar a França. Não é por acaso que a liga também tinha as cores reais da França - ouro e azul.

 

O Príncipe Negro era necessário de volta à França, onde Carlos V estava de volta à ofensiva  e mordiscando terras dominadas pelos ingleses onde o descontentamento com os impostos de  Eduardo era abundante. Em 1370, Limoges foi recapturado, mas o Príncipe Negro causou danos  duradouros à sua reputação, pelo menos na França (onde já era bastante baixa), ordenando a  execução de cerca de 3.000 homens, mulheres e crianças, talvez em vingança por seu ex-aliado  o bispo de Limoges trocando de lado. A cidade foi então incendiada.

 

O filho do Príncipe Negro, Ricardo, seria selecionado pelo parlamento como herdeiro oficial  de Eduardo III, e ele foi coroado Ricardo II da Inglaterra em 16 de julho de 1377 na Abadia  de Westminster. O Príncipe Negro deixou seu filho e todos os outros que seguiram uma advertência  na forma de um poema francês que ele insistiu que estava inscrito ao redor de sua tumba em Canterbury:

Tal como você é, algum dia fui eu.

Como eu sou, você será.

Pensei pouco na morte

Contanto que eu aproveitasse a vida.

Na terra eu tinha grandes riquezas ...

Terras, casas, grande tesouro, cavalos, dinheiro, ouro ...

Mas agora sou um pobre cativo,

No fundo da terra eu deito ...

Minha grande beleza se foi,

Minha carne está destruída até os ossos 

 

Edward e seu pai foram membros fundadores da Ordem da Jarreteira, o clube exclusivo dos cavaleiros que ainda existe hoje. As vitórias continuaram sendo contabilizadas, e em 1.367, o Príncipe Negro conseguiu capturar e vender por um vultuoso resgate um de seus rivais pelo título de maior cavaleiro de todos os tempos, Bertrand du Guesclin, após a Batalha de Najera na Espanha. 

 

Edward, o Príncipe Negro é também um jogo histórico de 1750 feito pelo britânico William Shirleu, com estilo similar ao de Shakespeare, retrata a vida de Edward, o Príncipe Negro que foi um grande líder inglês na Guerra de Cem anos e pai de Ricardo II.

 

Para a compreensão desta peça "A Tragédia do Rei Ricardo II" e de toda a tetralogia de que esta faz parte é o conhecimento das vertentes genealógicas que envolvem os personagens, principalmente os reis. Ricardo II, no caso desta tetralogia o último da linhagem dos Plantagenet (embora o último rei desta linhagem tenha sido, de fato, Ricardo III, cuja morte, em 1485, acabou pondo fim ao período da Idade Média na Inglaterra do ponto de vista histórico.

 

Há um detalhe digno de nota é que embora este rei tenha sido da Casa de York, a linhagem é Plantagenet, e, de fato, a queda desta na figura de Ricardo II não quer dizer que tenha havido um fim da dinastia, tendo em vista, por exemplo, que o próprio Henrique IV era primo de Ricardo II - pode-se compreender esta espécie de queda dinástica como sendo uma dicotomização dentro da própria família, dando início à ascensão dos Lancaster), foi lançado ao trono da Inglaterra com 10 (dez) anos; isto ocorreu quando seu avô, o grandemente reverenciado rei Eduardo III, morreu em 1377.

 

O pai de Ricardo II também tinha por nome Eduardo e, ficou conhecido para a História como o "Príncipe Negro" - era um herdeiro promissor, adorado e bastante capacitado para a guerra; acontece que este morreu um ano antes do pai, Eduardo III, deixando o trono para um jovem Ricardo II. Esta ascensão numa idade jovem significou o crescimento inadequado pelo poder, o que permitiu que se tornasse dependente de conselheiros influentes; em vários momentos da peça, ele é comparado desfavoravelmente tanto com seu avô como o próprio pai, que não chegou a ser rei.

 

Como o Príncipe Negro era o filho mais velho do rei Eduardo III, e as rígidas leis de sucessão do trono inglês determinavam que o filho mais velho do filho mais velho do rei deveria herdar a coroa, o jovem Ricardo II torna-se rei.

 

No entanto, o Príncipe Negro tinha seis irmãos mais novos, muitos dos quais são importantes na peça-tema; um deles é João de Gaunt, Duque de Lencastre. Este é, obviamente, o tio de Ricardo II; o filho daquele, Henrique de Bolingbroke, que acaba usurpando o trono, é, portanto, primo do rei e também um neto de Eduardo III. Um irmão mais novo do Príncipe Negro é Edmundo de Langley, Duque de York; este é, assim, irmão de Gaunt e, também tio do rei, e o filho de Langley, o Duque de Aumerle, é um primo tanto do rei como de Henrique de Bolingbroke.


Um terceiro imrão do Príncipe Negro era Thomas de Woodstock, Duque de Gloucester. Que veio a morrer sob circunstâncias misteriosas um pouco antes do momento em que se inicia a peça (nesta, a viúva de Gloucester pede que João de Gaunt vingue a morte daquele, acreditando fortemente que o responsável é o rei, Ricardo II). O rei, bem como certo número de outros nobres, tanto de dentro como de fora da família real, estiveram envolvidos, ativa ou passivamente, na morte do Duque de Gloucester,  transparece que o rei foi o mandante da execução.

 

Embora ninguém ouse culpar o rei direta e abertamente, a morte daquele assola Ricardo II e simbolicamente parece tanto justificar como prenunciar a queda deste. Os conflitos internos da peça teatral lançam o cenário para o que, nos anos que se seguirão, acaba se desenvolvendo num conflito monumental entre as casas de York e Lencastre; este conflito irá passar para a História como a famosa Guerra das Rosas (isto porque o símbolo das casas era uma rosa: no caso dos Lencastre, uma rosa vermelha, e no caso dos York, uma rosa branca).

 

João de Gaunt, o já citado tio do rei, era o Duque de Lencastre; assim, o seu filho, Henrique de Bolingbroke (o rei Henrique IV) e todos os seus descendentes serão conhecidos nos anos subsequentes como os Lencastre, ou como pertencentes à Casa de Lencastre. Haverá conflito entre esta linha de sucessão e os descendentes do irmão de Gaunt, Edmund de Langley, Duque de York, cuja descendência ficou conhecida como a Casa de York (mas, fica claro que a ascendência é toda dos Plantagenet, portanto esta linhagem acaba mesmo somente com Ricardo III, em 1485, que era um descendente da Casa de York).

 

O conflito entre estas duas casas não irá cessar (como Shakespeare documenta ao final de Ricardo III) até que um filho da casa de Lencastre se case com uma filha da casa de York, e, como Henrique VII, funda a dinastia dos Tudor - e esta estava reinando na época de Shakespeare, e a ela pertencia a Rainha Elizabeth I. 

 

Considera-se que o Príncipe Negro seria certamente bem mais reconhecido pelos historiadores caso os seus feitos militares tivessem conhecido consequências políticas mais duradouras. Efetivamente, as suas meritórias vitórias foram comprometidas a breve (no caso da Guerra Civil Castelhana) e a longo prazo (no caso da Guerra dos Cem Anos).

 

Os seus feitos militares não impediram que Henrique Trastâmara usurpasse definitivamente o trono castelhano em 1369, ou que, mais tarde, Carlos VII, rei de França entre 1422-1461, expulsasse os ingleses do seu território (à excepção do porto de Calais), saindo como inequívoco vencedor de uma das guerras mais cruéis da Idade Média. Contudo, seria injusto da nossa parte ignorar a prestigiante carreira militar de Eduardo que ficou assim bem patente no século XIV.  Apesar de ter sido nomeado como Príncipe de Gales, acredita-se que nunca terá pisado os seus pés naquele principado. 


Referências:

ADAMS, Simon - Poitiers (1356) in 1001 Battles that changed the Course of History. Dir. R. G. Grant. Londres: Quintessence Editions, 2011.
CREIGHTON, Louise. Life of Edward The Black Prince. Londres: Kessinger Publishing, 2007.

GRANT, R. G. - Najera (1367) in 1001 Battles that changed the Course of History. Dir. R. G. Grant. Londres: Quintessence Editions, 2011.

HARRIS, Simon; PEPIN, Guilhem. A colônia inglesa na mais profunda França. Revista History. Março de 2015.
Disponível em: https://www.academia.edu/14400763/The_English_Colony_in_deepest_France  Acesso em 07.01.2022.

SPECK, W.A. História Concisa da Grã-Bretanha. Tradução de Luciana Prudenzi.  São Paulo: Edipro, 2013.
WikiPedia. Eduardo, o Príncipe Negro. Disponível em: .https://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo,_o_Pr%C3%ADncipe_Negro#:~:text=Tal%20como%20voc%C3%AA,at%C3%A9%20os%20ossos Acesso em 6.1.2022.

 

 

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 07/01/2022
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