Um poeta de versos
           quase esquecidos



     1. Nesta data, 7 de janeiro de 1872, na pequena Fazenda da Reserva, em Vargem Grande, no interior de Minas Gerais, nasceu Belmiro Ferreira Braga, um poeta de versos quase esquecidos.
     Ó Minas Gerais ! Terra de inspirados poetas e belos escritores, citandos estes, dentre muitos: Paulo Mendes Campos, Pedro Nava, Fernando Sabino, Adélia Prado, Rubem Alves, Cyro dos Anjos, Otto Lara Rezende e o vate maior e cronista especial, Carlos Drummond de Andrade. 
     
2. Muito bem! Dou continuidade ao meu projeto de, em pequenas crônicas, falar sobre poetas e escritores com os quais mantenho alguma aproximação, através de suas obras.      Advirto, de logo, que não pretendo  ser mais um biógrafo dessas estrelas que continuam brilhando, umas mais outras menos, no céu da literatura pátria. Jamais!. 
     
3. Recentemente, em duas crônicas, falei sobre os poetas Odylo Costa, filho e o beneditino Marcos Barbosa; o primeiro maranhense e o segundo das Alterosas. Ambos da Academia Brasileira de Letras. Hoje é a vez do poeta, também mineiro, Belmiro Braga.
     
4. Belmiro, mesmo tendo produzido versos muito inteligentes, inspirados e elegantes, é pouco lembrado, permanecendo sua obra sem a projeção que merece. Dedicou-se mais às trovas, mas tem sonetos que engrandecem a caneta de qualquer poeta de boa rima. Mais adiante, transcrevo um desses poemas e algumas de suas trovas.
     
5. O escritor J.G. de Araujo Jorge, sobre Belmiro, escreveu: "Trovador, no velho e no novo sentido da palavra, estava em permanente dueto lírico com a vida.Tudo lhe era assunto para  a quadra, para um soneto, uma redondilha.
     A gente vai lendo e se admirando de que as palavras casem tão bem no fim dos versos, como se tudo já estivesse feito, e o poeta fosse apenas o "instrumento" que as cantava e divulgava. Foi um grande, um extraordinário versejador".
      E prossegue o J.G de Araujo Jorge afirmando que, de Belmiro Braga, "se poderia dizer que ele quase falava em versos. E se não falava, escrevia". 
     
6. Animo-me em mostrar ao caro leitor o talento do Belmiro, transcrevendo, como prometi, algumas de suas trovas e um soneto que encontrei num dos seus livros, se não estou enganado, adquirido num sebo qualquer.                Aconselhando os noivos:
               "À notícia bato palmas/ e mando um conselho aos dois:/ - primeiro, casem as almas,/ casem os corpos depois. == Que eu tenho os olhos cansados/ de ver ( umas mil talvez)/ dentro de corpos casados./ almas em plena viuvez". Outra: - "Quanta vez junto a um jazigo/ alguém murmura de leve: / - Adeus para sempre, amigo!/ E diz-lhe o morto: - Até breve". 
     7. E mais outra, talvez a mais conhecida:           "Pela estrada da vida subi morros/ Desci ladeiras e, afinal, te digo:/ Se entre os amigos encontrei cachorros,/ Entre os cachorros encontrei-te, amigo!" 
     
8. E agora este soneto, uma preciosidade: - "A bunda - Quando ela passa todo mundo espia,/ Não para a cara, que não é formosa,/ Mas para a bunda, que é maravilhosa/ Em bunda, nunca vi tanta magia.  ==   Requebra, sobe, treme e rodopia/ Dentro de  uma expressão maravilhosa./Deve ser uma bunda cor-de-rosa,/ da cor do céu quando desperta o dia.  ==  E ela sabe que sua bunda é boa./ Vai pela rua rebolando à toa,/ Deixando a multidão maravilhada.  = =  Eu a contemplo, num silêncio mudo, Embora a cara não valesse nada,/ Só aquela bunda me valia tudo."  
     9. Belmiro Ferreira Braga, autor de uma poesia humilde e plena de simplicidade, morreu no dia 31 de março de 1937, em Juiz de Fora, onde se encontra enterrado.
     É, amigos, os poetas cantam, cantam e cantando morrem! Mas mostram que são imortais quando abrimos um de seus livros.  

     

     

               
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 09/05/2021
Reeditado em 10/05/2021
Código do texto: T7251694
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