Resumo:
No fundo, somos todos gregos... e, mais, somos greco-romanos. O legado do helenismo está na filosofia, nas artes, nas ciências e principalmente no pensamento cristão. O texto aborda de forma didática a imensa riqueza da Grécia Antiga e suas estórias apaixonantes.
Abstract
In the background, we are all greeks ... and more, we are greco-roman. The legacy of Hellenism is in philosophy, the arts, sciences and especially in Christian thought. The text covers didactically the immense wealth of ancient Greece and its fascinating stories.
 
O helenismo foi termo derivado da obra de Johann Gustav Droysen[1]intitulada “Geschichte des Hellenismus” (História do Helenismo, em três volumes).” e vem a designar a grande influência da cultura grega no mundo desde as conquistas de Alexandre Magno[2] e, mesmo após sua morte em 323 a.C., vindo até a conquista romana do Egito em 30 a.C., que passou marcar então a influência de Roma sobre essa mesma região.
 
A importância de Alexandre foi notável e significou a primeira tentativa de criação efetiva de hegemonia em vários aspectos como militar, cultural e linguístico[3].
 
A língua grega se tornou um idioma comum (koiné) por toda região conquistada por Alexandre, e também a moeda grega passou a ser aceita em todo império, traduzindo marcante unificação econômica.
 
Mas, o império teve curta duração e como Alexandre não deixou descendentes, todo o vasto território conquistado, fora dividido entre seus principais generais que foram seus naturais sucessores. Apesar desse evento, perdurou por muito tempo a influência da cultura grega em toda a região da Mesopotâmia ao Egito, indo até a Ásia Menor, Síria e Palestina.
 
Para a história da filosofia, no entanto, embora a periodização não seja precisa, podendo se estender do império alexandrino até o início da filosofia medieval com Santo Agostinho e Boécio, é inexorável reconhecer a enorme contribuição do helenismo.
 
Importante consignar que a influência sobre a filosofia medieval das escolas filosóficas fundadas no início do helenismo permaneceu durante todo o império romano. E, podemos exemplificar bem isso: o filósofo Plotino[4] que escreveu em grego, e a obra de Sexto Empírico do século II, que foi o principal representante do ceticismo fora igualmente escrita em grego.
 
Tanto Plotino como Sexto Empírico[5] viveram boa parte de suas vidas, em Alexandria. E, apesar de existir também uma filosofia desenvolvida em Roma e versada em latim, identificamos que em sua maior parte esta, resultava de desdobramentos das escolas gregas, particularmente do estoicismo e do epicurismo.
 
Há o posicionamento de alguns doutrinadores que tomam o surgimento do cristianismo como um marco do fim do helenismo[6], porém a filosofia cristã em seus primórdios, particularmente, o platonismo cristão de Alexandria, desenvolveu-se no contexto do helenismo.
 
Aliás, a cidade de Alexandria fora um grande centro político e cultural do helenismo, tendo sido fundada por Alexandre (332 a.C.) e capital do reino grego, estabelecida no Egito por seu general e sucessor Ptolemeu (ou Ptolomeu I, Sóter fundou a dinastia ptolemaica, reconhecido como o um dos generais de maior confiança de Alexandre, o Grande, sendo um dos sete somatophylax, ou seja, guardas do corpo).
 
O helenismo ao, difundir-se entrou em contato, com outras culturas através das inúmeras conquistas de Alexandre o que produziu certo sincretismo cultural[7].
 
Alexandria[8] realmente tinha uma vocação cosmopolita (apesar de ser predominantemente grega) tendo adicionado a influência da cultura do Antigo Egito, vindo até mesmo a servir à comunidade judaica.
 
O segundo sucessor de Aristóteles no Liceu de Atenas, o filósofo Strato de Lâmpsaco (esteve por um período em Alexandria), onde atuou como tutor do futuro rei Ptolomeu II Filadelfo que fora fundador do famoso Museum.
 
A célebre biblioteca de Alexandria[9] que em seu auge amealhou cerca de quinhentos mil volumes (rolos de papiros[10]) e fora formada a partir do acervo pessoal de Aristóteles adquiridos por Ptolomeu Filadelfo.
 
O Museum nome que literalmente significa “o templo das musas[11]” que são divindades que presidem as artes e o saber, correspondendo a um centro científico e cultural de ensino e pesquisa que incluía um templo, um anfiteatro, jardim zoológico e botânico e observatório. E, durante os dois séculos seguintes, será o principal núcleo da cultura grega, e suas áreas mais relevantes da produção científica que marcará toda Antiguidade e mesmo o período medieval, se estendendo até o início da ciência moderna no século XVI.
 
A biblioteca do Museum[12] de Alexandria fora incendiada na conquista do Egito por Júlio César no ano de 47 a.C., e novamente em 390 d.C., pelo cristão Teófilo[13] até ser completamente destruída quando os árabes[14] conquistaram o Egito no ano de 642 d.C[15]. Por conta dessas sucessivas destruições, boa parte de seu acervo se perdeu completamente sem jamais ser recuperado.
 
A ciência produzida no Museum de Alexandria refletiu Strato que se afastou das preocupações metafísicas das escolas platônicas e aristotélicas. Vindo a valorizar as ciências naturais, a observação e a experiência.
 
Nas múltiplas vertentes seguidas pela vasta produção científica de Alexandria se destacou, sobretudo, na matemática, na geometria (particularmente com Euclides, no final do século IV a.C.) que fora responsável pela base da geometria clássica, com destaque ainda para Arquimedes de Siracusa que teve importância tanto para a geometria como para mecânica, e Apolônio de Perga (260-200 a.C.) autor do célebre tratado sobre os cones; na medicina, como Herófilo (que descobrira as funções do cérebro); Erasitrato que realizou as dissecações e estudou a circulação do sangue humano; nos estudos de linguagem destacaram-se Aristófanes de Bizâncio, Dionísio Trácio, Aristarco de Samos (que formulou o modelo heliocêntrico de cosmos e uma hipótese de rotação terrestre), Hiparco de Nicéia (190-120 a.C.) na geografia, com Erastótenes de Cirene (280-200 a.C.) autor de relevantes mapas e de uma tentativa de mensuração da Terra.
 
Posteriormente, destacamos o matemático Diofanto (250 d.C.) autor de notável tratado de álgebra e Cláudio Ptolomeu[16] (100-178 d.C.) geógrafo e astrônomo, criador de modelo geocêntrico de cosmos que prevaleceu até ser questionado por Copérnico em 1543.
 
Todos esses pensadores e cientistas apesar de muitos nem terem nascido em Alexandria, guardaram alguma relação direta com esse grande centro cultural, onde por vezes estudaram e lecionaram, disseminando assim o conhecimento na Antiguidade em diversos ramos.
 
A filosofia do helenismo apesar de ser pouco estudada em face de haver poucas pesquisas dentro da história da filosofia, apesar de abranger um período de mais de dez séculos, e por se basear apenas nos poucos fragmentos que sobraram das catástrofes que atingiram Alexandria.
 
Danilo Marcondes, respeitável doutor em Filosofia e professor titular da PUC-Rio, opina que talvez a atual concepção da filosofia esteja bem distante da nossa atual, posto que seja herdeira direta do pensamento moderno que começou mesmo a se desenvolver nos séculos XVI e XVII, valorizando a originalidade e a criatividade do pensamento do filósofo como fruto de sua originalidade e criatividade do pensamento do filósofo.
 
O pensamento helenista, ao revés, caracteriza-se por ser basicamente um pensamento de escola, onde o mais importante que a originalidade, era a vinculação a certa tradição ou corrente filosófica.
 
Apesar de ter existido filósofos originais como Plotino (século III d.C.) o helenismo não se notabilizou por ter grandes mestres que, em verdade, só apareceram apenas na fundação das escolas tais como Zenão de Cítio[17] e Epicuro[18] (século IV a.C.) e, infelizmente, porque nesse período também não existiram filósofos da estatura de Sócrates, Platão e Aristóteles.
 
A contribuição filosófica do helenismo consistiu em sua grande parte em comentários aos textos dos fundadores das escolas ou no desenvolvimento de teorias já propostas por tais filósofos.
 
O grande valor desses comentários feito às obras dos filósofos fundadores das escolas do helenismo foi tornar o pensamento clássico mais acessível, além de servir realmente de marco e ponte entre o momento presente e a Antiguidade Clássica, preservando, reproduzindo e, principalmente, interpretando tais textos.
 
Dentre esses comentadores ou comentaristas destacou-se Cícero[19] (século I a.C.) que foi jurista, mestre em oratória, discípulo da Academia, filósofo eclético, grande tradutor de textos gregos para o latim.
 
A concepção helenista de filosofia deve ser vista como parte de certa corrente com caráter eminentemente dogmático e doutrinário o que a tornava, por vezes, muito repetitiva e reprodutora.
 
O espírito crítico da filosofia clássica se perdeu, ou pelo menos, fora reduzido, mas ainda preservados graças ao ceticismo[20] e aos ataques às escolas dogmáticas. Consagrando-se o cético como eterno adversário da filosofia dogmática.
 
Mas o ecletismo fora um dos mais peculiares traços do helenismo, particularmente, a partir do período romano (final do século I a.C. até o século IV d.C.).
 
Houve várias tentativas de sintetizar as diferentes doutrinas filosóficas aproximando o estoicismo do platonismo[21], o aristotelismo do platonismo, o neopitagorismo[22] do platonismo, sendo que o próprio cristianismo se desenvolveu inicialmente absorvendo elementos da ética estoica, da metafísica platônica e da lógica e da dialética aristotélicas.
 
O esforço do ecletismo focou-se no sentido de conciliar as posições divergentes, elaborando uma doutrina mais ampla. Enfim, o helenismo teve como preocupação central com a ética, preferencialmente defendida no sentido prático, com a fixação das regras do bem viver, como a “arte de viver” (bem ilustra o famoso Manual de Epicteto[23]) que foi filósofo estoico do período romano.
 
Sêneca[24] e Epicteto causaram grande admiração pela figura do sábio que dominava suas paixões, mesmo e, sobretudo, entre seus adversários.
 
As filosofias mais impactantes no período moderno seria o ceticismo, epicurismo e, por fim, pelo estoicismo (fora considerado tanto na Idade Média como na Renascença) quando ocorreu grande divulgação das publicações dos filósofos da Stoá (em grego significa pórtico) notadamente na fase imperial romana.
 
Algumas máximas de Epicteto[25] são interessantes e pertinentes para analisarmos:
“A felicidade não consiste em adquirir nem gozar, mas sim em nada desejar, consiste em ser livre.”; “São as dificuldades que mostram os homens”; “Sucesso é encontrar aquilo que se tenciona ser e depois fazer o que é necessário para isso.”; “Todas as coisas têm duas alças, uma que permite segurá-la, outra que não permite isso.”; “Só a educação liberta.”.
 
Com o fim da pólis grega, após a conquista da Grécia por Alexandre, o Grande, o homem grego deixou de ser a principal referência ético-política bem como a vida na comunidade que pertencia ao cidadão, com suas leis, tradições e cultura.
 
Afora isso, o surgimento de reinos e impérios cujo poder era fortemente centralizado e que também absorveu as práticas religiosas provocou uma sensível redução da participação política do cidadão.
 
Apesar do mundo na época fosse em sua maior parte grego, o homem sentiu-se desenraizado posto que perdera sua referência social básica que era a pólis, necessitando, portanto, de uma ética dotada de forte conteúdo prático, propondo as regras de conduta e buscando uma felicidade pessoal dentro de um novo contexto pluralista e multicultural que então se formou.
 
O helenismo correspondeu a um período de transição da chamada Antiguidade Clássica para a Idade Média cristã, quando ocorreu a formação de tradição cultural da qual somos, em grande parte, sucessores até hoje.
 
É no helenismo que se dá o encontro entre o mundo greco-romano e a cultura judaico-cristã. No fundo, somos todos diádocos (em grego significa sucessores) ou epígonos do helenismo, pois nesse período despontaram as quatro principais correntes filosóficas voltadas para a descoberta da fórmula da felicidade: os cínicos[26], que cultivavam a ideia de que ser feliz dependia de se liberar das coisas transitórias, até mesmo das inquietações com a saúde; os estoicos e os epicuristas, que acreditavam em um individualismo moral e o neoplatonismo, o movimento mais significativo desta época, inspirados pelos pré-socráticos, Demócrito e Heráclito.
 
A cultura helenística resultou da fusão da cultura grega com a cultura oriental promovida pela expansão do império Macedônio com Alexandre Magno. O período helenístico registrou quatro grandes sistemas filosóficos cuja influência é substancial sobre o pensamento cristão, tais como: estoicismo, epicurismo, ceticismo e neoplatonismo.
 
O legado grego é tão expressivo que mesmo os estudiosos contemporâneos são capazes de perceber as múltiplas facetas e a grandeza da Grécia Antiga, ao ponto de reconhecer que no fundo, somos todos gregos. E, mais, somos todos greco-romanos.
 
Pois efetivamente devemos principalmente aos romanos e ao seu império a preservação do helenismo e de seu imenso legado, o que levou Horácio a descrever poeticamente a helenização da cultura romana como “a cativa Grécia capturando a sua feroz conquistadora e introduzindo as artes no rude Lácio”.
 
 
 
 
Referências:
CARTLEDGE, Paul (organizador). Trad.Laura Alves e Aurélio Rebello. 2.ed. História ilustrada Grécia Antiga. (Coleção História Ilustrada) São Paulo: Ediouro, 2009.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13.ed. São Paulo: Editora Ática. 2008.
EPICTETO. A arte de viver: uma nova interpretação de Sharon Lebell. Tradução de Maria Luiza Newlands da Silveira. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2006.
GRANT, M. História Resumida da Civilização Clássica - Grécia e Roma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. 6.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
RAFFIN, Françoise. Pequena introdução à filosofia. Tradução: Constância Morel e Ana Flaksman. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia (Antiguidade e Idade Média). Volume 1. São Paulo: Editora Paulinas, 1990.
 
[1] Johann Gustav Droysen (1808-1884) foi um dos mais relevantes historiadores alemães do século XIX, notabilizou-se não apenas por seus trabalhos sobre a antiguidade grega e da história moderna europeia e prussiana como também por suas reflexões sobre a teoria e a metodologia da ciência histórica.
[2] Alexandre Magno tornou-se imperador aos vinte anos de idade, filho de Filipe II da Macedônia, sendo considerado um dos maiores guerreiros da Antiguidade e com apenas dezoito anos destacou-se como comandante do exército na batalha de Queronéia. Além de excelente militar e exímio estrategista, Alexandre era dotado de notável potencial intelectual, tendo sido discípulo de Aristóteles (o maior filósofo do século IV e de toda Grécia Antiga). Superou a obra do seu pai e da maioria dos imperadores orientais.
[3] Todos que não falavam grego eram rotulados de “bárbaros” porque suas línguas eram constituídas de um “bar-bar”, isto é, de um balbuciar fonético ininteligível.
[4] Plotino além de um místico, fora um filósofo platônico e tentou expressar suas experiências espirituais nos seus textos, mas também formulou uma doutrina filosófica da união mística. Foi uma figura multifacetada, impossível de ser classificada nas categorias intelectuais contemporâneas. Ainda hoje se considera Plotino um enigma para o pensamento moderno, pois tentou conciliar atividades hoje tidas como contraditórias.
[5] Sexto Empírico foi médico e filósofo grego que viveu entre os séculos II e III a.C., Suas obras filosóficas são um dos melhores exemplos do ceticismo pirrônico e fonte da maioria dos dados referentes a essa corrente filosófica. Seus escritos foram publicados pela primeira vez em latim em 1562 por Henricus Stephanus. E seus conceitos influenciaram Montaigne e Hume. Recebeu o apelido de Empírico por suas concepções filosóficas porém, especialmente, por sua prática médica. Sua obra fora muito influenciada dor Pirro de Élis (ou Élida) e Enesidemo, muito dirigida contra a defesa dogmática da pretensão de se conhecer a verdade absoluta, tanto na moral como nas ciências.
[6] O helenismo foi caracterizado pelo desaparecimento das fronteiras entre os diferentes países e culturas. Antes, os gregos, romanos, egípcios, babilônios, sírios e persas tinham adorado seus deuses dentro dos limites de suas próprias religiões. Mas essas diferentes culturas foram miscigenadas num caldeirão que cruzou diversas concepções religiosas, filosóficas e científicas. As novas religiões surgidas durante o helenismo tinham em comum o fato de desejarem ensinar aos seus adeptos como obter a salvação para a morte. E tais ensinamentos eram mantidos em segredo e ocorriam mediante certos rituais, onde o homem poderia ter a esperança de obter a imortalidade da alma e galgar enfim a vida eterna.
[7] Sincretismo representa uma fusão de doutrinas de diversas origens, seja na seara religiosa ou na filosófica. Então, o sincretismo traduz um agir como os cretenses agiam, unido coisas díspares, apesar das diferenças, a favor do que é semelhante.
[8] Alexandria é uma cidade do Egito. É o onde ficava a famosa Biblioteca de Alexandria, representou um famoso ponto de encontro entre a Europa, África e Ásia em razão da ligação entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho. Fora fundada em torno de pequeno vilarejo em 331 a.C., por Alexandre, o Grande. E permaneceu como capital por mil anos até a conquista muçulmana do Egito, quando então a capital passou a ser Futsat e, que depois veio a ser incorporada no Cairo. Júlio César tomou a cidade em 46 a.C., interessado em pôr fim à guerra dinástica havida entre Cleópatra e seu irmão Ptolomeu XIII e promovera a batalha no mar quando ocorreu o incêndio de Alexandria. Depois de assegurar que Cleópatra estava no trono egípcio e casada com seu irmão mais novo, Ptolomeu XIV, Júlio César regressou a Roma.
 
[9] A biblioteca real de Alexandria (ou Antiga Biblioteca de Alexandria) foi uma das maiores bibliotecas do mundo antigo e floresceu sob o patrocínio da dinastia ptolemaica tendo existido até à Idade Média, quando infelizmente fora totalmente destruída por um incêndio de origem controversa. Acredita-se que fora fundada no início do século III a.C., durante o reinado do faraó Ptolomeu I, Sóter ou durante o de seu filho Ptolomeu II, Filadelfo. Plutarco durante sua visita a Alexandria em 48 a.C., escreveu que Júlio César queimou acidentalmente a biblioteca quando incendiou seus próprios navios para frustrar a tentativa de Achillas de limitar a sua capacidade de comunicação marítima. Segundo Plutarco, o incêndio se espalhou das docas até à biblioteca. No entanto, tal versão não é atualmente confirmada. A instituição da biblioteca de Alexandria visava preservar e disseminar a cultura grega, contendo livros que foram levados de Atenas. Existiam também matemáticos ligados a esta, como por exemplo, Euclides de Alexandria. Tendo se tornado grande centro de comércio e fabricação de papiros.
[10] Os antigos gregos escreviam, pintavam ou rabiscavam textos em ampla variedade de materiais tais como madeira, cera, cerâmica, chumbo, pedra, bronze e, no mais destacado de todos, o papiro. Usado cotidianamente era a escrita nos cacos de cerâmica que foram provavelmente o meio mais comum, embora que o percentual de gregos que soubessem escrever não fosse muito elevado.
[11] Musas eram nove deusas padroeiras respectivamente das seguintes artes: poesia épica, história, música para flauta, dança, poesia lírica, tragédia, comédia, hinos e astronomia.
[12] A melhor descrição sobrevivente do museu é feita pelo geógrafo e historiador grego Estrabão que mencionou que era um grande complexo de edifícios e jardins ricamente decorados e salões de banquetes ligados por pórticos ou colunatas.
[13] O Museum era um verdadeiro centro de conhecimento e de investigação, quase um protótipo de uma universidade. Tudo que se sabe ao seu respeito é devido às descrições de escritores antigos posto que nunca foram encontradas as suas ruínas. . Era constituído por êxedra (sala onde os sábios se reuniam para discutir as suas reflexões e investigações) e de diversos aposentos, um refeitório coletivo, dez laboratórios de investigação, cada um dedicado a um assunto diferente, um observatório astronômico e, ainda, jardins botânicos e zoológicos. A proteção e apoio aos que trabalhavam na aventura do conhecimento foi de cunho notável durante a dinastia dos Ptolomeus, e os reis gregos que herdaram a parte egípcia do império de Alexandre Magno. Foram o ódio e o fanatismo os maiores responsáveis pela destruição das preciosidades de Alexandria e do culto a sabedoria. A destruição mais devastadora ocorrera no final do século IV d.C., promovida pelo bispo cristão Teófilo, patriarca de Alexandria, que via no conjunto de edifícios composto pelo Museum e biblioteca e pelo Serapeum como símbolos fortes do paganismo (ou da luz do conhecimento que se opõe às trevas da crendice, ignorância e do fundamentalismo religioso).
[14] Os últimos restos da preciosa biblioteca de Alexandria e seu depósito teriam sido liquidados em 641 ou 642 por muçulmanos comandados pelo general Amrou, sob as ordens do Califa Omar, de Damasco, mas tal fato está desacreditado por grande número de historiadores. Consta também que a biblioteca e o Museum foram realmente incendiados, juntamente com Bruquion, em 273, na época do imperador Aureliano durante a guerra com a princesa Zenóbia. Depois deste acontecimento, a biblioteca fora reconstruída e o museu renovado. Em 391 d.C., o famoso templo de Serápis (enfeitado com mármores, ouro e alabastro de primeira qualidade) que também possuía uma biblioteca fora destruído a mando do patriarca cristão Teófilo que dirigiu um ataque aos templos pagãos. Todo o bairro onde se situava um tempo pagão fora então incendiado. Em 642 d.C., época em que os árabes ocuparam a cidade, não é possível afirmar que a biblioteca e o museum ainda existiam em sua forma clássica. Apesar de que comentou-se que o Califa Omar teria ordenado ao Emir Amr Ibn Al que procedesse à destruição de livros que não estivessem de acordo com o Corão. Alegou-se que Omar justificou a destruição com estas palavras: "Se os escritos dos gregos concordam com as sagradas escrituras, não são necessários; se não concordam, são nocivos e devem ser destruídos." Consta que apenas teriam sido poupados os livros de Aristóteles. Muito mistério envolve os incêndios da biblioteca de Alexandria que representaram um dos mais dramáticos acontecimentos contra toda a história da cultura humana. Carl Sagan bem sintetizou: "Existem lacunas na história da humanidade que nunca poderemos vir a preencher (...)”.
[15] Omar era muçulmano recém convertido, fanático e odiava os livros, e os destruiu por não mencionarem o profeta.  E, por não ver necessidade de outros livros, senão “o Livro”, se referindo ao Corão ou Alcorão. Reza a lenda, no entanto, que a biblioteca fora destruída pelo fogo em três diferentes ocasiões, sendo a primeira (272) por ordem do imperador romano Aureliano (215-275), depois em (391), quando o imperador Teodósio I (347-395) arrasou-a, juntamente com outros edifícios pagãos, e finalmente (640) pelos muçulmanos, sob a chefia do Califa Omar I (581-644). Saliente-se ainda que exista uma suposição de que a pequena biblioteca de Serápis, com pouco mais de quarenta mil volumes, fora destruída quando o Templo de Serápis fora demolido (391) por ordem do cristão radical Teófilo (335-412), nomeado (385) patriarca de Alexandria, durante sua violenta campanha de destruição de todos os templos e santuários não cristãos (ou seja, pagãos) daquela cidade, com o apoio do imperador Flávio Teodósio (347-395), após a proclamação (380) do cristianismo como religião do Estado. Essa loucura destruidora já teria sido responsável, então, pela demolição de outros templos como os de Mitríade e de Dionísio, porém não há uma informação definitiva dos acontecimentos em relação à biblioteca. Saliente-se ainda que Hipatia (370-415), a última grande matemática da Escola de Alexandria, a bela filha de Téon de Alexandria (335-395), fora assassinada por uma multidão enfurecida de monges cristãos, incitada por Cirilo (376-444), sobrinho e sucessor de Teófilo como patriarca de Alexandria, que depois seria canonizado pela Igreja Católica. Após o seu assassinato, numerosos pesquisadores e filósofos trocaram Alexandria pela Índia e pela Pérsia, e a cidade deixou de ser o grande centro de ensino das ciências da Antiguidade Clássica.
[16] Cláudio Ptolemeu ou Ptolomeu, em latim Claudius Ptolemaes foi cientista grego que viveu em Alexandria, no Egito. Ele é reconhecido pelos seus trabalhos em matemática, astrologia, astronomia, geografia e cartografia. Realizou também relevantes trabalhos na área da ótica e da teoria musical. O grande mérito dele foi, baseando-se no sistema de mundo de Aristóteles, fazer um sistema geométrico-numérico, de acordo com as tabelas de observações babilônicas, para descrever os movimentos do céu. O estudo dos céus levou Ptolomeu a afirmar: "Como mortal que sou, sei que nasci por um dia. Mas, quando sigo à minha vontade a densa multidão de estrelas no seu curso circular, os meus pés deixam de tocar a Terra [...]". Sua obra mais extensa é Geographia que em oito volumes, abrigou todo o conhecimento geográfico greco-romano. Incluindo as coordenadas de latitude e longitude dos lugares mais importantes. Naturalmente tais dados continham erros e o mapa apresentado está bastante deformado, sobretudo nas zonas exteriores ao Império Romano. Ptolomeu inventou a projeção cônica equidistante meridiana na qual as distâncias ao longo dos meridianos e ao longo de um paralelo central são representadas em uma escala constante, os paralelos são representados como círculos e os meridianos como retas. É também autor do tratado Óptica composto de cinco volumes que estudou a reflexão, a refracção, cor e espelhos de diferentes formas. É autor também da "Harmónica" ou Teoria do Som que é uma teoria matemática da música, onde escreveu sobre como notas musicais podem ser traduzidas em equações matemáticas e vice-versa.
[17] Zenão de Cítio foi filósofo da Grécia Antiga. Nascido na ilha de Chipre (possuía origem fenícia), lecionou em Atenas e fundou a escola estoica por volta de 300 a.C. Baseado nas ideias dos cínicos, perfilhou o estoicismo que enfatizava a paz de espírito, conquistada pela vida plena de virtude e regida de acordo com as leis da natureza. O estoicismo floresceu e foi predominante no mundo greco-romano até o advento do cristianismo. Zenão fora descrito como tendo aparência desgastada e bronzeada, levando vida simples e ascética, o que coincide com os ensinamentos do cinismo, que foram, pelo mesmo em parte, continuados na sua filosofia estoica. Começou seus ensinamentos nos pórticos cobertos da ágora de Atenas conhecidos como Stoà Poikíle, em 201 a.C., e seus discípulos começaram a ser denominados estoicos, uma designação originalmente devotada aos poetas da época.
[18] Epicuro de Samos foi filósofo grego deste período e seu pensamento fora difundido em numerosos centros que se desenvolveram na Jônia, no Egito, e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio fora seu maior divulgador. O maior propósito da filosofia de Epicuro era atingir a felicidade, estado caracterizado pela aponia, a ausência de dor física, e ataraxia ou imperturbabilidade da alma. Apoiou na natureza as referências do seu pensamento: o homem, a exemplo dos demais animais, deve afastar-se da dor e se aproximar do prazer. E, tais referências serviriam como medir o que é bom ou ruim. Utilizou-se da teoria atômica de Demócrito para justificar a constituição de tudo que existe. Das estrelas à alma, tudo é formado de átomos, sendo, porém de diferentes naturezas.
[19] Cícero, era Marco Túlio Cícero, em latim Marcus Tullius Cicero (106 a.C. - 43 a.C) foi filósofo, orador, escritor, advogado e político romano.  É reconhecido como uma das mentes mais versáteis da Roma Antiga. Foi quem apresentou aos romanos a grandeza das escolas filosóficas da Grécia e criou um vocabulário filosófico em latim, distinguindo-se como linguista, tradutor e filósofo. Fora um impressionante orador e advogado de sucesso. Mas, sua carreira política talvez tenha sido sua maior façanha. Durante as guerras civis e a ditadura de Júlio César, veio a defender o retorno do governo romano para a república tradicional. Tinha uma personalidade sensível e impressionante, sendo capaz de reagir de forma exagerada sempre que havia mudanças políticas e privadas.
[20] O ceticismo filosófico é uma abordagem global que requer todas as informações suportadas pela evidência. Derivou da Skeptikoi, uma escola que nada afirma. Adeptos de Pirronismo, por exemplo, suspenderam o julgamento em investigações. Os céticos podem até duvidar da confiabilidade de seus próprios sentidos. Um dos primeiros defensores foi Pirro de Élida (360-275 a.C.) que pregava o ceticismo prático. Contrariou os estoicos, e alegou que a certeza no conhecimento seria impossível. Juntamente com Sexto Empírico é considerado como autoridade maior do ceticismo grego. Por vezes, atualmente o ceticismo filosófico costuma ser confundido com o ceticismo vulgar e com aquilo que a tradição cética denominou de "dogmatismo negativo". Porém, nada é mais tão em desacordo com o espírito do ceticismo do que a reivindicação de quaisquer certezas, sejam essas positivas ou negativas. Lembremos que o cientista cético ou empírico questiona crenças com base na compreensão científica. E testam a confiabilidade de certas afirmações, submetendo-as a uma sistemática investigação utilizando de alguma forma método científico.
[21] É corrente filosófica baseada no pensamento de Platão e da sua escola (filósofos que viveram entre o século IV a.C., e a primeira metade do século I a.C.). Fora desenvolvido no final da Antiguidade no período helenístico: é considerado por muitos como uma autêntica corrente filosófica. Formou-se mais precisamente da fundação da escola alexandrina por Amônio Sacas (232) ao fechamento de Atenas imposto por Edito de Justiniano em 529. Nasceu de particular momento histórico, quando o homem impulsionado por uma crise interna profunda, sentiu intensamente a transitoriedade da realidade sensível. Foi direcionado para aspectos espirituais e cosmológicos e, sintetizam tanto uma teologia egípcia como a judaica. Destacamos várias vertentes neoplatônicas que engrossaram a influência sobre os pensadores cristãos tais como Agostinho, João Escoto Erígena, Boaventura de Bagnoregio.
[22] O neopitagorismo é corrente filosófica inspirada em Pitágoras, a partir do século I, dotada de elementos do platonismo e aristotelismo. Há uma mistura de princípios platônicos, aristotélicos e estoicos dominados pelo misticismo pitagórico, por uma tendência à matemática, às ciências naturais e pelo simbolismo dos números.
[23] Enchirídion ou Manual de Epicteto trazia conselhos éticos estoicos compilados por Arriano, que fora aluno de Epicteto no início do século II.  Não é propriamente um resumo dos Discursos, mas uma compilação dotada de preceitos práticos. É um guia passo-a-passo, para o cotidiano. Epicteto focou sua atenção numa maneira prática do ensinamento filosófico. O tema primário dessa obra é a opinião de Epicteto sobre o julgamento dos eventos, percebendo que algumas coisas nos são dependentes e outras não o são. Sendo que devemos reagir e interagir em concordância com essas coisas.
[24] Lúcio Aneu Séneca ou Sêneca ou em latim Lucius Annaeus Senca foi um dos mais célebres advogados, escritores e intelectuais do Império Romano, conhecido também como “o Moço”, ou ainda, “o Jovem”, sua obra literária e filosófica foi considerada como modelo de pensador estoico durante o Renascimento e muito inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia europeia. Ocupou-se da forma correta de viver a vida, ou seja, da ética, da física e da lógica. Enxergava o estoicismo como a maior virtude, o que lhe permitiu praticar a ataraxia (imperturbabilidade da alma) termo utilizado pela primeira vez por Demócrito em 400 a.C.. Juntamente com Marco Aurélio e Cícero é reconhecido entre os mais importantes representantes da intelectualidade romana. Para Sêneca, o destino é uma realidade. O homem pode apenas aceitá-lo ou rejeitá-lo. Se o aceitar de livre vontade, goza de liberdade. A morte é um dado natural e o suicídio não é categoricamente excluído. A obra de Sêneca influenciaria profundamente o pensamento de João Calvino.
[25] Epicteto foi filósofo grego pertencente à escola estoica e que viveu na maior parte de sua vida como escravo em Roma. A data de sua libertação legal (ou manumissão) é incerta. Mas, no ano 93 d.C., foi exilado, junto com outros filósofos residentes em Roma, pelo imperador Domiciano. Epicteto compôs ao lado de Sêneca de Córdoba e Marco Aurélio, imperador romano da dinastia dos Antoninos, o grupo chamado de "novos estoicos" que correspondeu à terceira fase do estoicismo. A escola estoica conheceu outras duas fases, sendo a primeira representada por Zenão de Cítio, Cleantes de Asso e Crisipo de Solunte ou de Sole. E, na segunda fase, conhecida como médio estoicismo, representada por Panécio de Rodes e Posidônio, mestre de Cícero e introdutor do estoicismo em Roma. Como professor grego apesar de ter nascido escravo não se cansava de ensinar e alegava que "A liberdade é o único objetivo que tem valor na vida".
[26] Cinismo foi uma corrente filosófica fundada pelo discípulo de Sócrates, chamado Antístenes e, cujo maior representante foi Diógenes de Sínope (por volta de 400 a.C.) que pregava essencialmente o desapego aos bens materiais e externos. Infelizmente, o termo cinismo deixou para a posterioridade uma caracterização pejorativa de pessoas sem pudor, indiferentes ao sofrimento alheio. A palavra deriva do grego kynismós, chegando ao latim cynismu. Para os cínicos, a vida virtuosa consiste na independência, obtida pelo domínio de desejos e necessidades, para encorajar as pessoas a renunciarem aos desejos criados pela civilização e pelas convenções. Os cínicos, assim como Sócrates, nada deixaram de escrito. E, o que se sabe sobre estes, fora narrados por outros filósofos, em geral críticos de suas ideias.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 13/09/2020
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