QUANDO VAI PARAR A SANGRIA?
*Nadir Silveira Dias
Os juros nacionais foram reduzidos para cinco por cento ao ano (5%) na última reunião do Copom. Ao ano, por ano, num prazo de doze meses. No cartão de crédito de todos os brasileiros, no entanto, a taxa é de quinze, vírgula quarenta por cento ao mês (15,40%) ou quatrocentos e setenta e um, vírgula vinte e seis por cento ao ano (471,26%), conforme consta nas faturas desses mesmos cartões.
Alguém que não viva no Brasil e não sofra os efeitos desse realismo fantástico brasileiro certamente não acreditaria no que está lendo. E é exatamente isso que precisa acabar no Brasil ou isso acabará acabando com o Brasil. Ah! Mas como, dirão astutos ou incautos?
É muito simples. Basta que qualquer leitor aponte que atividade, em qualquer setor da economia, primário, secundário ou terciário, que renda lucro capaz de pagar um spread, ou essa diferença entre o que qualquer banco paga pelo seu dinheiro e o quanto ele cobra de nós quando ele empresta o nosso próprio dinheiro para outros de nós.
Sim, porque todos sabem ou devem saber que os bancos emprestam apenas dez por cento (10%) de capital próprio, do banco, pois os outros noventa por cento (90%) é dinheiro de correntistas, poupadores, investidores e tais. Ou, em outras palavras, pessoas que põem nos bancos o seu dinheiro e são remuneradas conforme os juros definidos pelo Copom, e menos ainda caso os recursos sejam de depósito compulsório, como é o caso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Isso, a meu ver, não é democracia. Bem ao contrário, é tirania. Sim, tirania com fundamento legal chancelada pelo dito Estado Soberano de Direito, que, de Direito não é, menos ainda Estado de Justiça, e que é, sim, um Estado Legal que permite essa perpetração de crimes contra a economia popular, contra o direito do consumidor de produtos financeiros que, aliás, se ampliaram exponencialmente a partir do momento que a lei permitiu que os bancos cobrassem por serviços.
Por serviços, mas que serviços, se o serviço da empresa de banco é exatamente esse que pratica para obter lucros com o dinheiro alheio? E diga-se, não de passagem, pois isso é muito antigo e precisa mudar. Com taxas covardes, escorchantes nas duas pontas do processo: Paga absolutamente muito menos e cobra mais, absolutamente muito mais.
Basta cotejar a taxa a auferir de qualquer dinheiro depositado, cinco por cento ao ano, mais ínfimas migalhas, com o que é pago em todas as demais operações de empréstimo em que bancos cobram pelo que emprestaram, perto de quinhentos por cento ao ano (500%), em quase todas as modalidades.
Caso isso não seja tirania, por favor, alguém diga o que é, justificadamente.
Essa sangria precisa acabar ou essa sangria vai acabar acabando com todos os brasileiros, acabando com o Brasil!
01.11.2019 – 22h06
* Jurista, Escritor e Jornalista