As duas faces da "in-justiça".
Hoje, como ontem e, não obstante, amanhã, os operadores do direito, se assim pudermos designar as pessoas que se dedicam a esta nobre arte, são oriundas de várias camadas da sociedade. Isto é óbvio, mas não ululante, como dizia Nelson Rodrigues.
Não há como também retirar do ser - homem e mulher - suas características, seus valores e aspirações sobre o mundo. E o que é o mundo para cada um? Muito relativo, não!
O acadêmico de Direito, ao se ingressar numa Faculdade, começa a ter contato com a filosofia, teoria geral do direito e outras matérias de cunho gerais, antes mesmo de dedicar-se aos estudos das codificações. Eis a rotina do futuro operador de direito. Aprende-se sobre ética, imparcialidade e a busca da justiça.
Confesso, o direito é deveras uma ciência de paixão. Aí se esconde um enigmático problema, pois às vezes a paixão não suporta as intempéries da realidade. Emannuel Kant, assim denominava a paixão: “Charco que não tem firmeza, infiltrando-se, paulatinamente, sobre o solo.”
Não raras são as vezes que muitos dos operadores do direito se deixam infiltrar, paulatinamente, nos seus mais mesquinhos desejos, valores e ideais. Esquecendo-se dos valores sagrados da imparcialidade, da ética e da busca da justiça? Exemplos: juízes nos interrogatórios, abusam de seu “poder” e perguntam além do necessário aos réus, que já coagidos pelo próprio momento, ainda tem que suportarem o peso da perversidade humana, infiltrada no subconsciente do ser – homem e mulher. Advogados que sem a mínima sensibilidade de valores humanos se vendem aos mínimos valores financeiros. Promotores que, via de regra, são originados da classe social mais alta, buscam sempre os valores da lei e ordem, sem ao menos contraporem com a razoabilidade.
Enfim, o quadro esboçado não é de tudo ruim. Como todas as áreas, existem os valiosos profissionais que fazem a grande diferença. Não seria diferente na “in-justiça”, ou seja, dentro da justiça. Afinal são homens, e como tais, são propensos aos mais variados vícios.