Lacan e a filosofia
 
Lacan sempre insistiu em enfatizar o caráter antifilosófico[1] do seu pensamento. E, a tese do inconsciente freudiano e sua interpretação na cura, não se inclui em nenhuma tradição hermenêutica e, a estrutura delimitadora não se encaixa em ontologia alguma. Assim, a diferença existente entre a filosofia e a psicanálise seria mesmo irredutível.
 
As relações entre a psicanálise e a filosofia foram marcadas de uma parte por tensão e, por outra parte, por estranhamento. Mas, não há como denegar, contudo, uma mútua atração e um envolvimento intrínseco, muitas vezes inconsciente[2], entre as duas disciplinas.
 
Freud sustentou uma impressão geral bastante desfavorável sobre a filosofia. Não obstante, tomou como modelo teórico para a psicanálise uma psicologia associacionista fundada no empirismo e, assumiu sem crítica a pressuposição de que a psicanálise fosse uma espécie de ciência natural".
 
Como tal, a psicanálise estaria isenta de contaminações filosóficas e ideológicas. Para Freud, portanto, era a filosofia quem deveria aprender com a psicanálise e, não o contrário.
 
A relação entre a psicanálise e a filosofia se apresenta em duas facetas: uma que trata da forma pela qual a cena analítica, no sentido de sua prática clínica, inscreve-se na sociedade contemporânea; e a segunda trata das relações teóricas entre o pensamento psicanalítico e a filosofia trágica.
 
Ao disciplinar a primeira face, não se adota a perspectiva do psicanalista, nem se recorre à teoria psicanalítica, mas tenta-se, deixando-se influenciar pelo método clássico da antropologia.
 
Quanto à filosofia da psicanálise, com o seu crescimento e consequente variedade de trabalhos produzidos, terminou-se por fazer confusão em relação aos seus limites. A filosofia da psicanálise passou, então, a demandar critérios que, de alguma maneira, pudessem definir, com o máximo de clareza, a sua delimitação. Nesse sentido, algumas questões se impõem.
 
É possível, então, de acordo com as indicações de Monzani, formulá-las assim: 1- Em que consiste a filosofia da psicanálise? 2- Que espécie de pesquisa pode ser incluída nessa categoria? 3- Que relação pode ser estabelecida, nessas pesquisas, entre a filosofia e a psicanálise?
 
Afinal esta mencionada diferencia fora melhor situada por Lacan, porque em contraposição aos outros psicanalistas realizou três operações a esse respeito, discriminado ao longo de seu pensamento e ensino.
 
Em princípio, mostrou a filosofia[3] como emergência exemplar do discurso do amo, que pretende estabelecer o ser-no-mundo para além dos impasses que a diferença sexual impõe ao ser falante.
 
No entanto, a clínica analítica, sendo a experiência cujo meio é a palavra, exigiu atravessar todas as figuras da tradição metafísica ocidental. A leitura lacaniana de Descartes sobre o sujeito do inconsciente e a de Kant e Spinoza, para propor uma ética de psicanálise; a de Marx, para indagar o funcionamento do sintoma nos vínculos sociais.
 
Surge ainda a possibilidade dialética de que a experiência mesma da psicanálise permita interpelar os filósofos de forma inédita, numa operação de leitura que subverta a concepção de subjetividade presente na filosofia. Aceitando a intervenção desta, Lacan, conseguiu escrever uma página ausente que atravessa diametralmente a filosofia.
 
Na psicanálise aparece um novo ordenamento das categorias do ser, do saber, da verdade, do sujeito, mormente destituídas da carga metafísica, disposto a dar conta do sujeito que a ciência exclui e, desentranhar sua relação com o ser.
 
Como consequência, no hiato entre o ser e o sujeito que a psicanálise nunca costura, podem ser explicados as modalidades de gozo implícitas e consumadas no objeto técnico que o discurso da ciência usa para povoar o real.
 
O ensino de Lacan inaugura uma partida distinta nos lugares onde a questão do gozo, aquela forma paradoxal de satisfação descoberta pela clínica freudiana se encontra encalacrada: no valor do objeto técnico e sua função estética na teia que captura o sujeito nas suas relações com o real; no modo em que os povos, as línguas e as religiões configuram insígnias, brasões, nomes, monumentos que não podem ser reduzidos pelo sentido e que se abrem aos diferentes sentimentos do gozo, na lógica coletiva das formações sociais.
 
Na última lógica de Lacan confirma-se que sua reflexão, ainda habitando a época da ciência, não estaria abrangida pela ontologia que é própria desta última.
 
Tanto seu esforço para construir uma topolingua do dizer que não se sustenta apenas no metafórico da palavra, quanto sua decisão de produzir uma escritura do tecido material do pensamento, tentam preparar as condições para que aconteça “um dizer menos tonto” sobre o real, que aquele da filosofia, da ciência e da religião.
 
Após duas guerras mundiais, o pensamento freudiano perdera força e o psicanalista francês percebeu que era urgente revisitar a obra do mestre. Seu retorno a Freud[4], porém, ganhou o reforço de sua visão da linguística, da obra de Lévi-Strauss e da filosofia de Heidegger.
 
Foi então que algumas de suas teorias causaram polêmica na International Psycoanalytical Association (IPA). Entre elas, o estádio do espelho, em que Lacan diz que a matriz constitutiva do ego é ilusória.
 
Ao afirmar que o ego é uma instância ilusória e não o centro da personalidade psíquica do homem, Lacan se confrontou com a psicologia do ego norte-americana que naquele período ganhava força.
 
Além disso, em seu famoso Discurso de Roma, o psicanalista afirmou que o inconsciente está estruturado em uma linguagem própria de significantes. Lacan, em 1964, saiu da vice-presidência da IPA e fundou a Sociedade Francesa de Psicanálise (SFP).
 
Essa peregrinação por diferentes instituições marcaria a vida de Lacan. Sua proposta era o total rompimento com o establishment e com as regras rígidas da IPA. Para Lacan, o analista não se autoriza senão por ele mesmo.
 
Segundo o pensador francês[5], o psicanalista deve ter o compromisso de saber quando está preparado. Com seu conceito de Sujeito Suposto Saber, o papel do analista e do analisando se equivalem, sem que o psicanalista precise ser um mestre que imponha os caminhos. O analisando é o único que pode se conhecer e mudar sua realidade.
 
Sua segunda excomunhão, como ele mesmo chamava, ocorreu em 1980, quando saiu da SFP e fundou a Escola da Causa Freudiana. Mais uma vez, Lacan se desligava das amarras institucionais e impunha como primordial seu próprio pensamento, independente de seguidores.
 
Os lacanianos, que começavam a aparecer, não o fascinavam: Lacan continuava se dizendo freudiano, com a intenção de não criar um movimento de fiéis seguidores. Ele buscava a verdade em sua teoria, sem institucionalizá-la ou engessá-la. Para ele, a análise confronta o sujeito com a sua verdade, pela qual ele é constituído.
 
O mérito de Lacan, portanto, estaria em conferir consistência filosófica à recusa freudiana da filosofia em nome da necessidade de se pensar o inconsciente, em impor essa recusa ao discurso filosófico nos seus próprios termos.
 
Pierre Macherey[6], ao comentar o trabalho de Borch-Jacobsen, não deixa de apontar para a "transformação que sofre a noção de inconsciente quando ela é remodelada por um psicanalista-filósofo como Lacan".
 
Por aí se resolveria a ambiguidade: Lacan se teria feito filósofo para, de alguma maneira, demonstrar a própria impossibilidade da filosofia, pelo menos na forma que ela assumiu no pensamento moderno clássico.
 
Esse autor não deixa de enfatizar o uso errático e nada sistemático que Lacan faz das noções filosóficas, o que, à primeira vista, resultaria na impossibilidade de pensá-lo como um filósofo stricto sensu e, na medida da sua insistência em ligar filosofia e psicanálise, numa evidente descaracterização desta última
 
Na primeira etapa de seu ensino, Jacques Lacan definiu o sujeito como o que um significante representa para outro significante.
 
O conceito de sujeito, como qualquer estudante de ciências humanas deveria saber, não é uma noção unívoca, ou seja, comporta uma diversidade de interpretações e definições. No campo filosófico, o termo sujeito é elevado ao estatuto de conceito a partir do pensamento de René Descartes. Como foge aos nossos propósitos, analisar o conceito de sujeito em Descartes em todas as suas particularidades, serei bastante sucinto ao falar dele, mesmo correndo o risco de simplificá-lo demasiadamente.
 
Assim, o sujeito cartesiano poderia ser identificado ao eu, realidade supostamente irredutível, pois, segundo Descartes, sua existência não poderia ser posta em dúvida, já que o próprio ato de duvidar pressuporia um sujeito. No domínio da linguística, diz-se que sujeito é o elemento de uma sentença que sofre a predicação. Em outras palavras, o sujeito é aquilo ao qual atribuímos ou negamos determinadas características.
 
Observe que tanto do ponto de vista cartesiano quanto linguístico, o termo sujeito é um lugar vazio. Com efeito, para Descartes, tudo o que se diz a respeito de alguém pode ser colocado em dúvida pelo próprio sujeito. Qualquer atributo que sobre ele recaia não pode lhe servir como representante último, pois o próprio sujeito possuiria a capacidade de colocar o mérito do qualificativo em xeque e, se necessário, descartá-lo.
 
Nesse sentido, o sujeito constitui-se em um lugar a priori vazio. Ocorre o mesmo com a noção linguística de sujeito: a palavra “Pedro” considerada isoladamente não possui sentido algum. Só adquire significação quando atribuímos a ela algum predicado, como na sentença “Pedro é um aluno”. Portanto, o sujeito “Pedro” considerado em si mesmo é um lugar inicialmente vazio a ser preenchido com predicados.
 
A noção de significante utilizada por Lacan é proveniente de Ferdinand de Saussure, um linguista que propôs uma visão estruturalista da linguagem. Para Saussurre, a linguagem seria formada por elementos chamados signos. Esses, por sua vez, seriam compostos de duas dimensões, unidas arbitrariamente, ou seja, em função do acaso, a saber: o significante e o significado. O significante seria a parcela material do signo linguístico (o som da palavra, por exemplo). Já o significado seria o conceito, o sentido, a ideia associada ao significante.
 
A teoria da linguagem de Saussure é estrutural porque pressupõe que o valor de um determinado signo não é dado a priori, mas depende da relação com os demais signos do sistema linguístico.
 
O grande questionamento é: como definir a imagem tal como esta funciona na linguagem? E não apenas a imagem invocada pela linguagem?
Para que tais questionamentos fossem formulados fora preciso uma inovação da linguística que somente ocorreu no curso da primeira metade do século passado.
 
Lacan estava ciente dessa inovação da linguística contemporânea através de três figuras eminentes da ciência da linguagem. A primeira que precisamos nomear, evidentemente, é Ferdinand de Saussurre, ou mais precisamente, sua obra Curso de linguística geral que lhe forneceu a noção de significante.
 
O fato de a unidade fundamental da linguística geral ser definida como imagem acústica tem uma relevância particular para a concepção lacaniana de linguagem.
 
Com tal mudança de perspectiva, na qual a linguagem aparece não em sua realização escrita, mas falada, a unidade linguística não é mais concebida como uma entidade atômica e autônoma que evocaria as letras na escrita, mas ela depende essencialmente da intervenção subjetiva e decomponível, que Lacan designa pelo termo pontuação, trazida por aquilo que ouve na continuidade da fala, que Saussure ilustra ao invocar o exemplo de uma fita ou cadeia fônica.
 
Que essa fita da fala se componha, na realidade, de uma série articulada e, todavia, ininterrupta de fonemas não diminui em nada a importância dessa observação. Importa então sublinhar que essa fita ou cadeia fônica nunca é significante em si mesma.
 
Tomemos o exemplo de uma série de fonemas que pode variar conforme o idioma. Duas decomposições ou mais são possíveis sobre essa única e mesma cadeia fonética, conforme se suponha seja a língua japonesa ou a francesa. E, essa suposição que a torna diferentemente significativa.
 
Ocorre, do mesmo modo, com a cadeia que parece tolerar apenas uma única decomposição possível, posto que sua articulação decomponente que não se pode encontrar na cadeia, não se justifique finalmente senão na referência a uma língua que se escolha para decompor.
 
Nem filósofo e nem antifilósofo é o que significou Lacan na construção da psicanálise. Lacan aborda muito de filosofia. Entre a pluralidade de referências extrapsicanalíticas que assimila sem seu trabalho de reinterpretar Freud. Essa relação com a filosofia aparece afetada por um ecletismo que bem caracteriza sua aproximação com os demais campos do conhecimento humano.
 
Lacan cita ou nomeia filósofos que vão de Sócrates, Platão, Aristóteles até Heidegger, passando por Descartes, Pascal, Kant, Hegel e Kierkegaard para apenas evidenciar os famosos. E numa inspeção meramente superficial dos Écrits tem-se pelo menos outros quarenta e tantos filósofos.
 
Tal interlocução filosófica constantemente reiterada é considerada uma traça que o notabiliza dentro do campo psicanalítico, distinguindo-o, sobretudo, do próprio Freud, sempre tão circunspecto ao admitir as influências filosóficas na elaboração das ideias psicanalíticas.
 
Reitera Lacan, a condenação freudiana da filosofia principalmente na construção dos grandes sistemas metafísicos especulativos. A condenação freudiana se enuncia a partir do privilégio concedido às ciências naturais, no que se prolonga, em seu pensamento, numa versão de programa positivista.
 
A atitude lacaniana com relação à filosofia é mesmo ambígua para dar margem a várias interpretações contraditórias sobre o Lacan-filósofo e o Lacan-antifilósofo.
 
Levando em conta apenas as manifestações textuais de Lacan a respeito da filosofia, podemos encontrar em seus trabalhos três atitudes básicas mais ou menos claramente delimitadas:
1. num extremo, afirmações que exprimem uma condenação em bloco da filosofia (as generalizações antifilosóficas de Lacan);
2. no outro extremo, as fórmulas conciliatórias a que nos referimos acima, que no limite suprimiriam as diferenças essenciais entre psicanálise e filosofia (a identificação entre psicanálise e filosofia);
3. por fim, numa posição intermediária, encontramos afirmações que apenas enunciam a diferença e a especificidade de cada disciplina (a demarcação entre psicanálise e filosofia).
 
Tais atitudes não configuram nenhuma espécie de evolução perceptível do pensamento lacaniano: todas podem ser identificadas nos diversos momentos do percurso da obra.
 
Por derradeiro, com o diálogo de Lacan com a fenomenologia de Merleau-Ponty parece ter influenciado na evolução seguida por seu pensamento na década de cinquenta, conduzindo-o ao um progressivo distanciamento do modelo estruturalista e à flexibilização do papel atribuído à linguagem na gênese e na determinação do sujeito, onde Lacan aponta a evolução das posições de Merleau-Ponty sobre a psicanálise, traduzindo uma avaliação mais positiva e de franca significação filosófica.
 
Referências
 
SIMANKE, Richard Theisen. Nem filósofo, nem antifilósofo: notas sobre o papel das referências filosóficas na construção da psicanálise lacaniana. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302005000200001   Acesso em 19.2.2016.
 
SIMANKE, Richard Theisen. Filosofia da psicanálise: autores, diálogos, problemas. São Carlos: EdUFSCar, 2010.
 
 
[1] Lacan fala muito de filosofia. Entre a pluralidade de referências extrapsicanalíticas que assimila em seu trabalho de reinterpretação de Freud, a filosofia certamente ocupa um lugar de destaque. Essa relação com a filosofia aparece afetada do mesmo ecletismo que caracteriza sua aproximação com os demais campos do conhecimento, com os quais faz dialogar com a psicanálise: Lacan cita ou nomeia filósofos que vão de Sócrates e Platão a Heidegger, passando por Aristóteles, Descartes, Pascal, Kant, Hegel, Kierkegaard, para ficarmos apenas com os mais famosos (uma inspeção superficial dos Écrits revelará pelo menos outros quarenta e tantos). Essa interlocução filosófica constantemente reiterada é mesmo considerada um traço que singulariza o pensamento de Lacan dentro do campo psicanalítico, distinguindo-o, antes de tudo, do próprio Freud, sempre circunspecto ao admitir influências filosóficas na elaboração das ideias psicanalíticas.
[2] Na busca de uma prática psicanalítica que conseguisse abordar os mecanismos do inconsciente, Lacan chegou a seu mais famoso aforismo: "O inconsciente é estruturado como uma linguagem". A linguagem passou a ocupar o centro de suas preocupações e de seu trabalho clínico e teórico (leia biografia no quadro acima). Foi nesse aspecto que se deu sua maior contribuição para a Educação.
[3] Filosofia e psicanálise se afrontam e se entrelaçam uma na outra. Uma como sintoma da outra. Mas sem a psicanálise, hoje, a filosofia seria o que é sem aquilo que a problematiza (...), e a psicanálise, sem a filosofia, resvalaria para a impostura da "ação".
 
Ao contrário de certos autores (Milner 1995, por exemplo), que veem no esforço de formalização da teoria empreendido por Lacan através de seus famosos matemas um trabalho de superação da perspectiva filosófica e dos impasses envolvidos em qualquer formulação discursiva do real,4 Juranville assimila os próprios matemas a concepções filosóficas, reforçando dessa maneira a aproximação que promove entre o conhecimento psicanalítico e aquele articulado pela filosofia:
 
E essas "estruturas firmadas na psicanálise", de que espécie são elas, senão filosóficas? Elas ordenam elementos segundo uma consistência imaginária e um sentido. Matemas, sem dúvida , mas conceituais, e não científicos.
[4] A revolução protagonizada por Freud apareceria, assim, aos olhos de Lacan, em última instância, como uma revolução filosófica, por mais que a heterogeneidade entre filosofia e psicanálise defendida por um e outro exija que se considere essa revolução como travada contra a filosofia, pelo que a psicanálise se converteria num discurso pós-filosófico  - mas não mais rigorosamente antifilosófico, note-se bem -, na medida em que se destinaria a ocupar o lugar deixado vago pela forma de conhecimento a qual supera.
 
A leitura de Macey, afinal de contas, já não parece mais assim tão distante da de Juranville. O próprio argumento central para a recusa da filosofia - seu esforço vão para uma totalização do saber - perderia sua força a partir da constatação de que a teoria dos quatro discursos, na qual a figura do "discurso do Senhor" exprime a ilusão filosófica denunciada pelo discurso psicanalítico, consistiria, ela própria, num esforço totalizador desse mesmo tipo, a saber, numa teoria que tende para um sistema universal de classificação discursiva, onde todo discurso concreto deve forçosamente vir a encontrar o seu lugar.
 
Daí que, ao fim e ao cabo, todas as medidas de cautela contra uma identificação total entre as duas disciplinas acabem por revelar-se ineficazes. Macey percebe a metáfora perfeita para esse estado de coisas na identificação que Lacan efetua entre sua "excomunhão" da IPA e a exclusão de Espinosa da comunidade judaica de Amsterdã:
 
Fazendo assim, ele com efeito admite seus pontos de vista ambivalentes sobre a filosofia: esta é tanto outra que a psicanálise quanto um objeto a ser absorvido pela psicanálise, um objeto de identificação. No momento da sua identificação com Espinosa, a visão da pós-filosofia se desvanece em uma visão da psicanálise como filosofia. (Macey 1988, p. 120, grifos nossos).
[5] Enquanto criava e desenvolvia as bases teóricas e práticas da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939) se correspondia e participava de encontros com colegas e discípulos. O grupo que se constituiu em torno dele promoveu congressos regulares a partir de 1908 e formou a Associação Psicanalítica Internacional, presidida pelo mestre. Das ramificações desse núcleo surgiram as gerações posteriores de psicanalistas. Uma delas tem como principal representante o médico francês Jacques Lacan (1901-1981). "Numa época em que a psicanálise buscava fundamentações na Biologia, Lacan escolheu a linguística e a lógica para reconfigurar a teoria do inconsciente", diz Christian Dunker, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (US
[6] Pierre Macherey é francês, marxista, crítico literário na Universidade de Lille Norte da France. Foi ex-aluno de Louis Althusser, e colaborador no volume Reading Capital. É figura central no desenvolvimento francês do pós-estruturalismo e marxismo. Sua obra é relevante na teoria literária e na filosofia continental europeia, embora seja geralmente pouco lido nos EUA.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/02/2016
Código do texto: T5550817
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