Reflexões filosóficas sobre a linguagem

Percebe-se que já na Antiguidade, no pensamento socrático, a linguagem se tornara objeto de estudo e interesse para os sofistas. Podemos ainda destacar duas relevantes teses: a primeira, defendida por Górgias , sobre a impossibilidade do discurso verdadeiro, e a segunda, que é a tese convencionalista de Demócrito, sobre a significação das palavras.

Os sofistas eram os mestres da retórica ou da cultura geral e, tivera, na Grécia notável influência no clima intelectual da época (séculos V e IV a.C.).

É verdade que a sofística não era propriamente uma escola filosófica, mas uma orientação genérica, que os sofistas acataram genericamente pelas próprias exigências de sua profissão.

Insurgiu contra a sofística Platão que defendeu que existe uma reflexão sobre a linguagem. Entre os diálogos platônicos que tratam sobre a linguagem, destaca-se o Crátilo (388 a.C.), onde após indagar sobre como uma expressão adquire sua significação, respondeu o filósofo por meio da adoção da teoria naturalista da linguagem, segundo a qual as palavras apresentam a essência das coisas.

Crátilo é oficialmente o texto fundador da discussão filosófica sobre a linguagem. Fora escrito originalmente no século V a.C. e apresenta três personagens: 1) Crátilo, filósofo que tem uma compreensão naturalista da linguagem; 2) Hermógenes, que tem uma visão convencionalista em relação à linguagem; e, por derradeiro Sócrates, melhor dizendo, o Sócrates platônico .

Nesse diálogo, no Crátilo, Platão então abordou um assunto novo, ou seja, a linguagem, e neste momento, se concretiza que "Platão que fala pela boca de Sócrates".

Nesse contexto Crátilo e Hermógenes representam pois dois polos extremos e, por conseguinte, em conflito. Crátilo que segundo a tradição filosófica de Heráclito (de quem era discípulo) defendeu a tese de que os nomes ou são verdadeiros, ou não são nomes de qualquer espécie. Para o filósofo, ou uma palavra é a expressão perfeita de uma coisa, ou é apenas mero som articulado.

Por outro lado, Hermógenes defendeu que o ato de nomear, de dar nome aos objetos, é convencional. Para ele os nomes podem ser dados arbitrariamente de acordo com os interesses e valores socioculturais envolvidos.

Já Sócrates emerge como a alternativa a estes dois polos antagônicos. Segundo ele, o objetivo da especulação sobre a linguagem não é demonstrar se a mesma é natural (posição defendida por Crátilo) ou convencional (posição defendida de Hermógenes) mas que tenha uma dimensão natural, no sentido de que existem categorias universais e metafísicas a serem observadas, e, ao mesmo tempo, convencional, visto que a mesma está ligada à diversidade das atividades socioculturais do ser humano.

Nesse sentido, uma palavra é justa ou certa, na medida em que apresenta a coisa, respeitando os limites impostas pela essência do objeto. O pensamento é concebido como espécie de visão intelectual : a contemplação do ser verdadeiro.

Assim, a ordem objetiva, uma vez captada, serve de medida, de norma de retidão para a linguagem, estabelecendo-se, então, um isoformismo entre a estrutura gramatical e a estrutura ontológica, ou seja, a construção de uma língua não é puramente arbitrária (rejeição da teoria convencionalista).

Afirmou então Platão haver uma correspondência entre a linguagem e o ser, pois os nomes separam e distinguem essências.

Quanto é exato, o nome apreende todas as coisas, entre as diversas que possuem a mesma essência, sendo, por isso, um instrumento de ensino (diadascallion ).

Desse modo, a adequação dos nomes às coisas se mede pela sua capacidade de correspondência à estrutura ontológica dos objetos. Daí porque quem julga a exatidão dos nomes é precisamente aquele que é capaz de conhecer as essências, ou seja, o filósofo.

A principal tese platônica afirmou é que o real é conhecido verdadeiramente em si, sem a utilização de palavras, isto é, sem a mediação linguística (é a contemplação de ideias de Platão).

A linguagem não é constitutiva da experiência do real, mas é apenas um instrumento com a função designativa, utilizado posteriormente para expressar o objeto do pensamento.

Desta forma, é possível se conceber um sistema ideal de sinais, que, melhor realizando sua função designativa, permite ao homem dominar o mundo objetivo .

Há a separação radical entre a palavra e o ser, o que constitui o fundamento da teoria instrumentalista da linguagem até os nossos dias. Tal questão permaneceu no pensamento de Aristóteles que desenvolveu a teoria do significado , na qual ao estudar o discurso em geral, deu especial atenção às proporções, observando que no discurso, se faz abstração da existência da coisa significada, a significação não contém em si referência à existência.

Já na proposição, há uma referência à existência da coisa , uma vez que é um julgamento a respeito da existência do que é significado.

A proposição é, desse modo, o lugar da verdade ou da falsidade, já que pode corresponder ou não às coisas. Não é enquanto significante, mas enquanto a verdadeira que a linguagem humana se assemelha ao real (discurso judicativo).

Entende Aristóteles a linguagem como símbolo do real, o símbolo não substitui o objeto, sendo uma intervenção do espírito (convenção), em um determinado sentido. Assim, a linguagem não manifestaria o real, mas o significaria.

Surge aí, um busilis pois, se as palavras são significativas por convenção, o que garante que as mesmas conservem uma unidade de significação? Portanto, para a comunicação ser possível é necessário pressupor um fundamento objetivo, que é a própria essência.

O que garante, por exemplo, que a palavra “aula ” tenha uma significação una é o mesmo que faz com que a “aula” seja sempre aula, ou seja, a ousia (essência).

Percebemos que assim a permanência da essência é pressuposta como fundamento da unidade de sentido: é porque as coisas possuem essência que as palavras têm sentido.

Analisando a linguagem chegamos até a ontologia pois há correspondência entre a exigência linguística de unidade e o princípio ontológico de unidade. Então, a essência aparece como condição de possibilidade da comunicação.

A Idade Média representou um período homogêneo em relação à Antiguidade, salientando-se, porém, que essas questões passaram a ser pensadas no interior da Revelação Cristã .

Tal contexto fora modificado pelo nominalismo , representado pelo pensamento de Guilherme de Okham que significou uma ruptura com o movimento anterior, ao defender entre outras teses, a ausência de substancialidade dos universais, afirmando que estes são desprovidos de realidade ontológica, na medida em que existem apenas no intelecto humano, como signos, designando um conjunto de semelhanças abstraídas de coisas individuais.

Mesmo assim prosseguiu a tradição filosófica ocidental que perdurou por toda modernidade, a ideia de que a consciência pode atingir a certeza plena (questão fundamental da teoria do conhecimento), independente da mediação filosófica.

Segundo Habermas o progresso gerado pela filosofia de G. Frege significou o primeiro passo para o chamado linguistic turn. O que foi capaz de oferecer relevante distinção entre o pensamento (Gedanke) e representação (Vorstellung) mas não foi suficiente para romper essa tradição, que continuou predominando no pensamento filosófico do século XX.

Nessa direção, encontra-se, por exemplo, o neopositivismo lógico do Círculo de Viena , como se percebe em Moritz Schlick e Rudolf Carnap. Warat observa que há uma ideia medular no Círculo de Viena, que é referente às condições semânticas de verificações como critérios de significação (uma ideia é sempre representação de certos efeitos sensíveis). Acontece que essas concepções semiológicas encontram-se comprometidas com uma filosofia da ciência, que devota um culto obstinado e cego a certas concepções míticas de verdade.

Assim, todo enunciado, que não possa ser relacionado como critério de verdade, carece de sentido, o que marginaliza as outras funções da linguagem.

Os neopositivistas assumem o rigor discursivo como paradigma da investigação científica, aparecendo a linguagem como instância fundamental, na medida em que serve para só para o intercâmbio de conhecimentos, como também como forma de controle destes, que podem ser obscurecidos por certas perplexidades de natureza estritamente linguística.

Para estes, onde não há rigor linguístico é traduzir em uma linguagem rigorosa os dados do mundo. Segundo essa concepção, o signo que é composto por dois elementos: o indicador (significado) e o indicado (referência), é estudado sob três pontos de vista, a partir das relações que podem manter.

O primeiro ponto de vista é o da sintaxe, que é a relação de um signo com os outros signos; o segundo é o da semântica, relação do signo com os objetos designados, e o terceiro é o da pragmática que é a relação entre os usuários.

O Positivismo, seguindo a tradição conforme já demonstrado, privilegiou os dois primeiros aspectos, isto é, o da sintaxe, onde se estuda as relações dos signos entre sim, prescindindo dos usuários e das designações (v.g., estuda as regras de formação e da derivação de toda linguagem), e da semântica, cujo problema central é o problema da verdade, em detrimento do aspecto pragmático.

Uma expressão linguística, bem formulada sintaticamente, é semanticamente verdadeira, se puder ser empregada para subministrar uma informação verificável sobre o mundo, ou seja, se tiver correspondência com os fatos.

Exemplificando, “o livro é vermelho” ou “a bola é amarela” são enunciados aos quais se pode aplicar o predicado verdadeiro, já que expressam um fato que efetivamente pode ocorrer.

Porém, outros enunciados como “os duendes são verdes e se apaixonam em abril” são semanticamente sem sentido porque se referem aos fatos que não podem ocorrer.

A verdade opera como critério ou condição de sentido, pois um enunciado não será semanticamente significativo se não for empiricamente verificável.

Por isso, positivismo lógico procura formular as condições semânticas de sentido, o que expressam as condições, nas quais um enunciado pode adquirir o estatuto de uma sentença científica, separando-se, assim, aqueles que não podem ser aceitos como integrantes de uma linguagem científica.

Essa regra de significação exposta estabelece que determinado enunciado somente poderá integrar o discurso da ciência, se ele for de algum modo verificável.

Por isso, são desprovidos de sentido os enunciados que extrapolam as fronteiras do discurso fático, por fronteiras do discurso fático, por não possuírem referência empírica (v.g. os enunciados sobre a justiça).

Alerta Warat que, dentro dessa teoria surge a necessidade de se estabelecer dois níveis de linguagem (linguagem-objeto e metalinguagem) como forma de se evitar o paradoxo, que resulta do objeto de nossa reflexão a própria linguagem.

É célebre o exemplo da antinomia do mentiroso: um cretense afirma: “todo cretense é mentiroso”, onde ou o que ele diz é verdade, essa frase tem que ser falsa, pois quem a afirma é um mentiroso, ou o que ele diz é falso e, desse modo, a frase será verdadeira. De qualquer forma, não conseguimos fugir do paradoxo .

Daí a noção de metalinguagem desenvolvida por Alfred Taski segundo a qual a firmação citada não pertenceria ao conjunto objeto. Na linha da metalinguagem teria por objeto o estudo da estrutura da linguagem científica, determinando assim, as regras de precisão e de controle do discurso.

No campo da ciência jurídica Kelsen foi o primeiro a trabalhar com essas categorias, a linguagem-objeto e a metalinguagem, ainda que de forma implícita, ao estabelecer para a ciência do direito, a tarefa de efetuar uma descrição do direito positivo do Estado.

Assim as proposições descritivas assumiram uma metalinguagem que não poderiam ser confundidas com as regras de direito.

Desta forma, a validade da norma está sempre uma preocupação metalinguística, de se definir as propriedades que a mesma necessita para ser considerada válida (estabelecimento de critério que permitam decidir se qualquer enunciado ou proposição pertence ao conjunto formado pela linguagem objeto).

As insuficiências do positivismo lógico conduziram ao estudo da linguagem ordinária, com a preocupação de se dar maior ênfase ao nível pragmático de análise em contraposição ao que era feito pela positivismo .

Há dois níveis elementares de significação de um termo, a saber: a significação de base e a significação contextual. “É proibido usar tanga” possui um significado padronizado, que nos permite entender que a ordem está relacionada com determinada peça do vestuário; porém o sentido da mensagem e a adoção de um comportamento frente à mesma variação conforme se trate de cartaz colocado na praia de Ipanema ou numa praia de nudismo (ou utilizar uma peça de banho maior ou não usar nada).

Porém ocorre que existem expressões cuja significação de base apresenta cuja significação de base apresenta “anemia significativa”, de modo que seu sentido designativo é sempre contextualmente construído.

São os chamados estereótipos entre os quais encontramos expressões como abuso de direito ou legítima defesa que, sob aparência de definições empíricas, encobrem juízos de valor.

Tais expressões como abuso de direito não são passíveis de definições abstratas daí o porquê as cargas valorativas possua elemento indispensável para a detecção das justificações e legitimações travestidas de explicações, quando se procura efetuar leituras ideológicas dos discursos jurídicos.

A vagueza é um problema ligado ao aspecto denotativo, ou seja, inexiste uma regra definida quanto à aplicação de um termo que é, por isso, impreciso. Exemplo célebre mencionado pelo Bertrand Russell sobre o termo “calvo” inexistem regras que estabeleçam as condições necessárias para a utilização denotativa, não sendo possível decidir, na totalidade dos casos, os seus limites precisos.

Já ambiguidade que difere da vagueza, refere-se ao aspecto designativo, ocorrendo quando o termo utilizado possui mais de um subconjunto de propriedades designativas (como os homônimos, por exemplo, da palavra “manga”).

A análise das definições léxicas feitas pela filosofia da linguagem ordinária, postula uma técnica definitória chamada de definição de domínio que consiste no exame de diferentes contextos nos quais os termos podem ser empregados.

Às definições lexicográficas, cujo exemplo mais significativo é o dos termos existentes no dicionário opõem-se as definições especulativas, como é o caso do termo democracia que possui sentido denotativo incerto, dependente de critérios axiológicos adotados, o que corresponderia a uma opção entre várias definições lexicográficas.

O pensamento de Ludwig Wittgenstein que, em sua crítica contundente contra as concepções que caracterizaram a filosofia da consciência, demonstra que a teoria da linguagem abraçada pela tradição, incorre em grave erro de base, na medida em que vem, ao longo dos anos, afirmando, de forma reducionista que a única, que a única, ou pelo menos, a principal função da linguagem é a função designativa ou descritiva.

Para Wittgenstein não existe um mundo em si cuja estrutura possa ser conhecida pela razão do sujeito cognoscente, independentemente da mediação linguística.

Então, a linguagem não é mero instrumento de comunicação do conhecimento, esta é, antes de tudo, condição de possibilidade para a própria constituição do conhecimento.

Rejeitando-a concepção tradicional de linguagem, de base ontológica (a ideia de que as palavras partem das essências). Para Wittgenstein não existem essências e nem fronteiras definitivas entre o uso das palavras.

A significação das palavras não está estabelecida de modo definitivo, porém o fato de não ser possível conhecer todos os casos de aplicação de uma palavra não implica que ela não tenha sentido.

O primeiro passo é abandonar o ideal da exatidão da linguagem (mito filosófico), pois esse ideal completamente desligado de uso em situações concretas, carece de qualquer sentido.

É impossível se determinar a significação das palavras sem uma consideração do contexto sócio-prático, em que as mesmas são usadas, uma vez que os conceitos são intrinsecamente abertos, admitindo abertos, admitindo a possibilidade de aplicação aos casos não previstos, anteriormente (é no uso efetivo que a palavra ganha significação).

Entende Wittgenstein entende a linguagem como uma atividade humana como o andar (a relação entre a linguagem e a ação), que só pode ser compreendidas no contexto (formas de vida) em que está inserida.

Nesse sentido, introduz a noção de jogos de linguagem , pretendendo acentuar que, nos diferentes contextos, são seguidas diferentes regras, a partir das quais é possível se determinar o sentido das expressões linguísticas.

A semântica só atinge sua finalidade por meio da pragmática, pois o sentido das palavras só pode ser resolvido no contexto pragmático. Só se pode cogitar de significado quando há uma compreensão que é tida como verdadeira e outra que é falsa, o que só ocorre quando há regras para diferenciar ambas.

A mudança da postura de Wittgenstein a partir de sua primeira obra intitulada de "Investigações Filosóficas" é tão grande que se costuma falar que existem vários Wittgensteins (o I e II) sobre o assunto, há menção em Robert Alexy. Teoria de La Argumentación Jurídica. Madri: Centro e Estudios Constitucionales, 1997. p.64.

Acontece que, para Wittgenstein, o aprendizado de uma regra não implica sua aplicação automática, já que pressupõe um ato de liberdade.

Mesmo seguindo as mesmas regras, ninguém joga do mesmo modo, pois não se trata de reflexos condicionados. O seguir de uma regra significa, pois, adquirir uma determinada práxis de uma determinada (hábitos e costumes).

Ainda dentro dessa linha de superação do paradigma da filosofia da consciência situa-se o pensamento do filósofo alemão Jürgen Habermas , como desdobramento das investigações empreendidas por G. Frege, C. Pierce e pelo próprio Wittgenstein.

A filosofia de Habermas se desenvolve dentro do paradigma da comunicação, através da noção da razão comunicativa, que substitui a reflexão transcendental, solitária anterior à fala, pela configuração da ação e do discurso interior do processo comunicativo... ela substitui o conceito de razão não processual, centrado no sujeito, por um conceito processual comunicativo, deduzido de uma lógica pragmática da argumentação, a qual se expressa através de uma compreensão descentralizada de mundo.

Nesse sentido, afirma Habermas: "Saltam aos olhos os novos instrumentos de representação e de análise que a filosofia do século XX empresta à semântica fregeana e a lógica pós-aristotélica, desenvolvida no século XIX".

Todavia, o elemento especificamente moderno, que atingiu todos os movimentos do pensamento, não reside tanto no método como nos motivos do pensamento. Quatro motivos caracterizam a ruptura com a tradição. Os tópicos podem ser caracterizados da seguinte maneira: pensamento pós-metafísico, guinada da linguística, de modo de situar a razão e inversão do primado da teoria frente à prática, ou seja, superação do logocentrismo .

A passagem do paradigma da filosofia da consciência para o paradigma da filosofia da linguagem representou um corte, a partir do qual os sinais linguísticos, que serviam apenas como instrumento e equipamento das representações adquirem, como reino intermediário dos significados, uma dignidade própria. As relações entre linguagem e mundo, entre a proposição e o estado de coisas, substituem as relações de sujeito-objeto .

Nesse contexto, a "filosofia da comunicação ", considera insuficiente a posição semântica formal, exposta por Frege, para elucidar a questão da razão através da linguagem, uma vez que está limitada à relação que se estabeleceu entre linguagem e o mundo (função designativa), abstraindo sua dimensão pragmática, referente à relação entre os sujeitos, no momento em que se comunicam sobre algo no mundo.

É verdade que a guinada aconteceu inicialmente no interior dos limites do semanticismo, onde se pagou o preço das abstrações que tornaram impossível explorar plenamente o potencial de solução do novo paradigma.

A análise semântica permanece essencialmente uma análise de formas de proposição, principalmente das formas das proposições assertóricas ela prescinde da situação da fala, do uso de linguagem e de seus contextos, das pretensões, das tomadas da posição e dos papéis dialogais dos falantes, numa palavra prescinde da pragmática da linguagem, a qual iria deixar a semântica formal entregue um outro tipo de abordagem, a saber, à consideração empírica.

Segundo Habermas, a abstração semântica pode a linguagem, desfigurando-a, ao amputar o seu caráter autorreferencial, graças ao qual o ato que fala revela a intenção do falante.

O ouvinte pode deduzir, do conteúdo semântico do proferimento, o modo como a sentença proferida é utilizada, ou seja, pode saber qual é o tipo de ação realizado através dele. "As ações linguísticas interpretam-se por si mesmas, uma vez que possuem uma estrutura autorreferencial."

Habermas afirma que as três teorias do significado mais conhecidas são: a) a semântica intencionalista (de Grice, por exemplo); b) a semântica formalista (de Frege); c) a teoria do significado enquanto uso, cujo precursor foi o segundo Wittgenstein, são parciais, abordando apenas um dos aspectos do processo desse entendimento. Estas pretendem esclarecer o significado de uma expressão e uma única perspectiva: a) do que é pensado (intenção); b) do que é dito (aspecto textual); c) do uso em interações.

O agir comunicativo é um desdobramento da intuição de que o telos do entendimento habita a linguagem. Não é, pois, possível separar a questão fundamental da teoria do significado da questão referente ao contexto em que essa expressão pode ser aceita como válida. Na linguagem, as dimensões do significado e da validez estão ligadas internamente.

Desse modo, compreende-se um enunciado afirmativo, por exemplo, quando se sabe que tipo de razões um falante deveria aduzir, a fim de convencer um ouvinte, de que tem o direito de levantar uma pretensão de validade (verdade) para a sua frase.

Portanto, as condições de compreensão, são preenchidas na prática comunicativa cotidiana, induzem a um suposto jogo de argumentação no qual o falante, na qualidade de proponente, poderia convencer em ouvinte de que a pretensão de validade possivelmente problemática é justificada.

Após essa guinada epistêmica de semântica da verdade, não podemos mais considerar a questão de validade de uma proposição como se fora uma simples questão de nexo objetivo entre a linguagem e o mundo, completamente alheia ao processo de comunicação.

Cabem as reflexões filosóficas sobre a linguagem, cabe ressaltar ainda que a teoria da argumentação jurídica de Robert Alexy é devedora também das contribuições oriundas das teorias da linguagem normativa (metaéticas ), como por exemplo, as desenvolvidas por R. M. Hare e, por St. E. Toulmin, na medida em que, como o próprio Alexy reconhece, na base de uma teoria da fundamentação de enunciados normativos tem que estar uma teoria da linguagem normativa, pois, enfim deve-se primeiro saber o que os enunciados normativos são.

Interessa a Alexy a distinção estabelecida entre os significados descritivo e valorativo, das expressões morais, que correspondem às duas regras fundamentais da argumentação moral: o princípio da universalidade e o da prescritividade.

O princípio da universalidade é fundamentado pelo fato de todos os objetos possuírem as mesmas características relevantes devem necessariamente ser classificados do mesmo modo. Ora, as expressões valorativas, como demonstra Hare, também têm essa mesma qualidade, uma vez que possuem, em si, a dimensão descritiva.

A designação de algo como bom está ligada à existência de certas características, que correspondem a determinado standard (critérios) referente ao significado descritivo do valor bom, não é também bom.

Ao afirmarmos que algo é bom é porque ele possui determinadas propriedades que, em razão do princípio da universalidade, nos obrigam a designar, como bons todos os objetos que tenham as mesmas características.

Assim, o fato de possuir as mesmas propriedades relevantes é a razão, doravante suficiente para que se afirme que algo é bom, estabelecendo-se, assim, uma conexão entre a afirmação de que algo é bom e a razão que temos para fazê-lo.

Essa conexão existe exatamente como regra moral que diz que o fato e algo ter determinadas qualidades é uma razão para designá-lo de bom.

É mister, então, se formular o princípio da prescritividade que nada mais é do que a regra de ouro (é o exemplo retirado do Novo Testamento, Mateus, 18:23 ).

Em relação à teoria de Toulmin interessa Alexy a questão sobre o motivo que permite que um conjunto particular de fatos reais seja uma boa razão para alguma conclusão ética particular.

Isso ocorre, devido à existência das regras de inferência, específicas dos argumentos morais, que possibilitam a passagem do plano das razões fáticas gerais a uma conclusão normativa.

Ao procurar demonstrar como é possível justificar as convicções morais, Alexy aceita como concepção fundamental a de que o discurso moral é uma atividade guiada por regras, rejeitando, desse modo, as posturas defendidas pelo emotivismo, pelo intuicionismo e na naturalismo.

A filosofia analítica trata da investigação da linguagem e suas relações com o real na virada do século XIX para o século XX. Através da análise lógica da linguagem, procurava esclarecer o sentido das expressões (conceitos, enunciados, uso contextual) e seu uso no discurso linguístico.

De acordo com essa corrente, muitos dos problemas filosóficas se reduziriam a equívocos e mal-entendidos originados do uso ambíguo da linguagem. Destacaram-se alguns nomes tais como o alemão Johann Gottlob Frege, o britânico Ludwig Wittgenstein e Bertrand Russell, John Langshaw Austin e Gilbert Ryle.

O desenvolvimento da filosofia da linguagem e influenciou filósofos de outros campos da filosofia, que passaram a atentar mais para o fenômeno da linguagem. Um dos filósofos contemporâneos que se vale dos resultados da filosofia analítica é Jürgen Habermas, pertencente à Escola de Frankfurt .

O movimento da filosofia analítica passou por várias etapas, nas quais se voltou para as questões específicas em relação à linguagem. O reconhecimento da importância do sentido e a linguagem que desempenham o papel fundamental na filosofia.

Essa preocupação começou com Frege que era lógico e matemático que percebendo que a linguagem comum contém expressões, propôs a constituição de uma linguagem formal que restringisse os inconvenientes e imprecisões da linguagem comum.

Bertrand Russell desenvolveu a análise da linguagem chegando à teoria do atomismo lógico. Segundo essa teoria, a cada proposição simples, que ele chama de proposição atômica, corresponde um, fato simples, o fato atômico.

Por exemplo: "O livro azul" é uma proposição atômica, pois consiste num enunciado simples que indica que determinada coisa tem determinada propriedade ou está em determinada relação.

Na linguagem, essas proposições podem articular formando as proposições compostas ou moleculares. Por exemplo: "O livro é azul e pertence a Paulo".

O problema, de acordo com Russell, é que, no uso da linguagem comum, na maioria das vezes não paramos para fazer análise da linguagem. Nós tendemos aceitar as proposições em seu conjunto, como um todo, e não analisá-las em suas partes.

Isso pode levar a equívocos que conduzem às falsas questões recolhidas pela filosofia. Quando construímos uma proposição causal como "A casa pegou fogo porque além dormiu com o cigarro aceso" pode ser que, embora as duas proposições possam estar corretas.

Com isso, Russell concluiu que ou a lógica formal não consegue captar a riqueza da linguagem comum, que traduz noções confusas como causalidade, finalidade etc., que criam problemas filosóficos.

Desta forma, muitas dos problemas filosóficos seriam simplesmente frutos de equívocos e imprecisões da linguagem comum. Ludwig Wittgenstein propôs que seria necessário fazer uma "terapia da linguagem"; ao final da qual muitos dos problemas filosóficos se mostrariam como falsos problemas, como simples problemas de linguagem.

O percurso filosófico de Wittgenstein pode ser dividido em duas grandes fases. Em sua primeira fase no Tractatus logico-philosophicus, intensificou a busca de uma estrutura lógica que pudesse dar conta do fracionamento da linguagem.

A estrutura da linguagem deveria corresponder à realidade dos fatos. Em suas palavras: "um estado de coisas é pensável, quer dizer: podemos fazer uma figura dele. A totalidade dos pensamentos verdadeiros é uma figura do mundo.

Já a segunda fase do filósofo britânico, se afastou dessa compreensão de que a verdade da proposição deve ser verificada na experiência do mundo real, e passou a afirmar a impossibilidade de uma redução legítima entre um conceito lógico (da linguagem) e um conceito empírico (da realidade).

Em outras palavras, a linguagem não é captura conceitual da realidade, isto é, não é a reprodução do objeto, mas sim, uma atividade, um jogo. E os jogos de linguagem adquirem o seu significado no uso social, nos diferentes modos de ser, e de viver no qual a fala está inserida.

A linguagem comum possui uma riqueza e espécies e de tipos de frases que são utilizadas em situações específicas(mandar, pedir, relatar, descrever, inventar, agradecer e, etc.,) e formam os "jogos e linguagem" e não individualmente (vai desde o discurso acadêmico até a gíria utilizada pelos jovens e marginais).

Com essa perspectiva, Wittgenstein abandonou a intenção de fazer da linguagem comum a "pintura da realidade" como ele mesmo havia dito. O termo linguístico não poderia mais ser explicado por meio de uma análise lógica, mas apenas a partir de seu uso social.

Na sua obra "Investigações Filosóficas' o filósofo explicou: "A linguagem é como uma caixa de ferramentas". Para ele, não se trata de considerar se é falsa ou verdadeira, mas de saber usá-la. A tarefa da filosofia é usar adequadamente a linguagem, sabendo seus limites e calando-se diante do que não pode ser falado.

A Escola de Frankfurt é o nome dado ao grupo de pensadores alemães do Instituto de Pesquisas Sociais fundado em 1920. Sua produção ficou conhecida como teoria crítica. Entre eles, se destacaram Theodor Adorno, Max Horkheimer , Walter Benjamin, Herbert Marcuse , Erich Fromm, Jürgen Habermas.

Apesar das diferenças de pensamento entre todos esses pensadores e estudiosos, identificamos nestes a preocupação comum em estudar os variados aspectos da vida social de modo a compor uma teoria crítica da sociedade como um todo.

Para tanto, investigaram as relações existentes entre os campos da economia, da psicologia, da história e da antropologia. Os pontos de partida fundamentais de suas reflexões foram a teoria marxista (elaborando uma leitura original a partir dessa tese) e a teoria freudiana que trouxe à tona elementos novos sobre o psiquismo.

A Escola de Frankfurt concentrou seu interesse na análise da sociedade de massa, termo que busca caracterizar a sociedade atual, na qual o avanço tecnológico é colocado à serviço da reprodução da lógica capitalista, enfatizando o consumo e a diversão como formas de garantir o apaziguamento e a diluição dos problemas sociais.

Um tema muito presente é a crítica da razão, e de acordo com Max Horkheimer e Adorno, a razão iluminista, que visava a emancipação dos indivíduos e o progresso social, terminou por levar a uma maior dominação das pessoas em virtude justamente do desenvolvimento tecnológico-industrial.

Horkheimer acreditava que o problema estava na própria razão controladora a instrumental, que busca sempre a dominação, tanto da natureza quanto do próprio ser humano.

Na obra "A dialética do esclarecimento" de 1947 Adorno e Horkheimer tecem duras críticas ao iluminismo, que estimulou o crescimento dessa razão controladora e instrumental que predomina na sociedade contemporânea.

Denunciam ainda o desencantamento do mundo, a deturpação das consciências individuais, a assimilação dos indivíduos ao sistema social dominante.

Um dos fundadores da Escola de Frankfurt, Theodor Adorno desenvolveu crítica ao projeto iluminista da modernidade, que teria desembocado na "razão instrumental", uma racionalidade que burocratiza e dirige as vidas e consciências dos indivíduos.

Adorno elaborou o conceito de "indústria cultural" para referir-se à banalização comercial da cultura pelos meios de comunicação de massa: cinema, revistas e televisão e, etc.

Denunciaram Horkheimer e Adorno a morte da razão crítica, asfixiada pelas relações de produção capitalista. Se denúncias semelhantes já haviam sido feitas no campo do marxismo, o que há de característico nos filósofos da Escola de Frankfurt é a desesperança em relação à possibilidade de transformação dessa realidade social.

Isso se deveria a uma ausência de consciência revolucionária no proletariado (trabalhadores) que teria sido assimilado, absorvido pelo sistema capitalista, seja pelas conquistas trabalhistas alcançadas, seja pela alienação de suas consciências promovida pela indústria cultural.

Indústria cultural é um termo difundido por Adorno e Horkheimer para designar a indústria da diversão vulgar veiculada pela televisão, rádio, revistas, jornais, músicas e propagandas e, etc.

Através da indústria cultural e da diversão se obteria a homogeneização dos comportamentos, a massificação das pessoas.

A falta de perspectiva de transformação social levou Adorno a se refugiar na teoria estética, por entender, que o campo da arte é o único reduto autêntico da razão emancipatória e da crítica à opressão social.

Walter Benjamin se distingue de Adorno e Horkheimer por uma postura mais otimista no que se refere à indústria cultural. Em seu texto "A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução" se mostra esperançoso com a possibilidade de que a arte, a partir do desenvolvimento das técnicas de reprodução (discos, reprografia, e processos semelhantes), se torne acessível a todos.

Enquanto, na visão de Adorno e Horkheimer, a cultura veiculada pelos meios de comunicação de massa não permite que as classes assalariadas assumam uma posição crítica em relação à realidade, Benjamin acredita que a arte dirigida às massas pode servir como instrumento de politização.

Além disso, desenvolveu reflexões nas quais buscou conciliar a teoria marxista com a tradição judaica, dando origem a um pensamento de difícil penetração, ainda que de grande beleza literária.

Herbert Marcuse desenvolveu uma obra marcada significativamente pelas teorias freudiana e marxista. Em "Eros e civilização", retornou o tema desenvolvido por Freud da necessidade de repressão dos instintos para a manutenção e o desenvolvimento da civilização.

De acordo com Freud a história social do homem é a história de sua repressão, do combate ao livre prazer em prol do trabalho, do adiamento do princípio do prazer para atender ao princípio da realidade.Sem essa, renúncia, a vida social seria impossível.

Marcuse considera Freud tem razão em diagnosticar esse fato. Porém, discorda do psicanalista quando apresenta essa situação como eterna, ou seja, que é impossível uma civilização não repressiva.

Marcuse defendeu que as imposições repressivas são antes produtos de uma organização histórico-social específica do que uma necessidade natural e eterna.

Ele apontou que a possibilidade de civilização menos repressiva pode surgir do próprio desenvolvimento tecnológico, que criaria condições para a libertação em relação à obrigação do trabalho e a consequente ampliação do tempo livre.

No entanto, isso não se dará segundo Marcuse, sem a intervenção do ser humano para reorientar o rumo da trajetória histórica possibilitada por esse desenvolvimento.

Nesse ponto, a tarefa da filosofia seria anunciar essa possibilidade. Se isso não ocorrer, teremos o contrário, ou seja, a perpetuação do desenvolvimento tecnocientífico a serviço da dominação e da homogeneização dos indivíduos, criando o que ele mesmo denominou o homem unidimensional, capaz de criticar a opressão e construir alternativas futuras.

Habermas propõe um novo conceito de razão, a chamada razão comunicativa como forma de retomar o projeto emancipatório da humanidade fundado em novas bases.

O mais influente dos filósofos da atualidade da Escola de Frankfurt, Habermas discorda de Adorno e Horkheimer no que se refere aos conceitos centrais da análise realizada por esses dois filósofos: razão, verdade e democracia.

Assim, de acordo com essa análise Adorno e Horkheimer chegaram a um impasse quanto à possibilidade de uma razão emancipatória, já que a razão estaria asfixiada pelo desenvolvimento do capitalismo.

De acordo com Habermas, essa é uma posição perigosa em filosofia, pois poderia conduzir a uma crítica radical da modernidade e, em consequência, da razão, que levaria ao irracionalismo.

Em seu artigo "Modernidade versus pós-modernidade" enfatizou esse ponto, afirmando, contra a tendência ao irracionalismo presente na chamada filosofia pós-moderna, que "o projeto da modernidade ainda não foi cumprido".

Ou seja, que o potencial para a racionalização do mundo ainda não está esgotado. Por essa razão, Habermas é descrito como o último grande racionalista.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/11/2015
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