A História da ética

A autora elabora em apertada síntese um breve relato sobre a história da ética percorrendo diferentes filósofos e épocas a fim de propiciar ao leitor uma visão palpável das principais questões éticas ainda por serem respondidas.

É engraçado perceber que depois de tantos avanços científicos e conquistas tecnológicas que a ética ainda se revela em ser um tema atual e intrigante.

Um pensamento científico é aguçado para prover métodos e instrumentos, mas é completamente cego e insensível quanto fins e valores. A ciência pode perfeitamente nos demonstrar e até mesmo determinar como as coisas são, todavia não o podem indicar como devem ser.

Muitas decisões diante situações cotidianas e importantes dependem daquilo que consideramos bom, justo ou moralmente correto. E tais julgamentos morais da realidade é que fazem do homem em comparação aos demais seres vivos presentes na natureza, tornando-o completamente distinto porque somente o ser humano tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de outras qualidades morais.

O agir humano se dá de acordo com valores1 e, mais precisamente através de uma escala axiológica ou de valores onde estes estão criterizados e hierarquizados.

Em suma, o homem é um ser moral, pois que avalia sua ação e sua realidade a partir de valores.

Mas que coisa é homem,

que há sob o nome:

uma geografia?

um ser metafísico?

uma fábula sem

signo que a desmonte?

Como pode o homem

sentir-se a si mesmo

quando o mundo some?

Como vai o homem

junto de outro homem,

sem perder o nome?

Carlos Drummond de Andrade

A ética é disciplina filosófica que busca refletir sobre os sistemas morais elaborados pelos homens, tentando compreender a fundamentação das normas e das interdições peculiares de cada sistema social e cultural.

Enquanto que a moral é o conjunto de normas que orientam o comportamento humano com base em valores próprios tendo em vista certa sociedade e esta varia no espaço e no tempo e constrói e moralidade bem como a sua cultura e identidade.

A moral traça princípios para que o homem consiga ter uma ação moralmente correta. Ser ou não ser justo, quais valores devem nortear minha existência; Qual é a escala de valores que tenho e qual tipo de se humano devo ser nas relações comigo e com os outros; são ponderações características do campo moral.

A ética é estudo sistematizado das diversas morais, onde se explicita seus pressupostos, seus objetivos e valores que sustentam determinada moral. É disciplina teórica sobre a prática humana que se traduz no comportamento moral.

As reflexões éticas não se limitam apenas ao teórico sobre os valores humanos cuja origem e desenvolvimento suscitam questões de caráter sociológico, antropológico, religioso e, sobretudo cultural.

Também possui a ética, preocupações práticas e objetivas e se orienta no sentido de unir o saber ao fazer.(grifo nosso). A ética enquanto filosofia prática busca aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser. E para tanto, se torna indispensável uma grande dose de conhecimento teórico.

Tanto a moral como o direito se apresentam como imperativos , e buscam a melhor convivência entre os indivíduos e se pautam por valores peculiares da sociedade de onde emanam. Ambas dotadas de caráter histórico ainda assim possuem diferenças fundamentais:

As normas morais são obedecidas a partir da convicção íntima de cada indivíduo enquanto que as normas jurídicas devem ser cumpridas sob pena de punição do Estado em casos de desobediência. A punição prevista como sanção no campo jurídico dentro do direito positivo, ao passo que, no campo moral esta pode varia bastante, uma vez que depende fundamentalmente da consciência moral subjetiva de quem infringe a norma.

É óbvio que a esfera da moral é mais ampla e assim abarca inúmeros aspectos da vida humana, enquanto que a esfera jurídica se particulariza quanto às questões específicas nascidas da interferência de condutas sociais. Não obstante o Direito é ciência ética fundamentalmente.

A moral não possui um código explícito e formal enquanto que o direito sim. O direito possui uma estreita ligação com o Estado, enquanto que a moral sem tal vinculação possui eminentemente um cunho subjetivo e aleatório.

É na coercibilidade onde reside a mais relevante diferença entre a moral e o direito, já que a norma moral se caracteriza em tese, pela liberdade, ou seja, dependa da escolha individual para se fazer aceita e cumprida.

A consciência é um ícone diferenciador do homem e permite o saber que sem empenha em discernir o verdadeiro do falso. Além da consciência lógica possui também a moral que permite observar a própria conduta e formular juízos2 sobre atos e intenções.

Após julgar, o homem já pode escolher o seu próprio caminho na vida. A essa possibilidade de escolha dá-se o nome de liberdade intrinsecamente ligada à consciência moral, pois só faz sentido julgar moralmente a ação que é livre verdadeiramente...

Se a decisão moral entre o certo e o errado depende da liberdade de escolha, como será possível uma sociedade atingir a maioridade moral quantos muitos são privados de tal liberdade?

Somente quando somos livres tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos. È a responsabilidade que pode ser julgada pela consciência moral do próprio indivíduo e pelo seu grupo social.

Portanto, só existe mesmo responsabilidade3 moral aonde vige a liberdade.

Filosoficamente a questão da liberdade é bastante complexa e pode suscitar basicamente três posicionamentos diferentes.(aliás, sobre o mesmo tema já transcorreu a autora em outro artigo a Liberdade, a genuína expressão humana e, ainda a justiça sem sacrificar a liberdade).

O primeiro é o do determinismo absoluto4 onde a liberdade não existe e o homem é fruto do meio, é determinado seja por sua natureza biológica ou por sua natureza histórica-social. È a concepção presente nos filósofos materialistas Helvetius e Holbach.

O segundo posicionamento é o da liberdade absoluta5 que pontifica que o homem é sempre livre. Embora seus defensores admitam certas determinações e influências de origem externa, sociais e outras de caráter interno tais como desejos, impulsos sustentando a tese de que o indivíduo possui uma liberdade moral acima de tais determinações.

Assim apesar de todos os fatores subjetivos e sociais sobre o indivíduo, este sempre possui a possibilidade de escolha e pode agir livremente se autodeterminando.A maior expressão filosófica deste posicionamento é de Jean-Paul Sartre que afirmava: “O homem está condenado a ser livre”.

O terceiro posicionamento é o que exprime uma relação dialética6 entre a liberdade e o determinismo que não se antagonizam e apenas se complementam. Não faz sentido cogitar em liberdade absoluta e nem na negação total da mesma. A liberdade é concreta e situada dentro das condições objetivas da vida.

Podemos sempre atuar no sentido de aumentar nossas possibilidades de escolha, e isso será eficiente na medida em que for maior a nossa consciência a respeito desses valores. É a concepção encontrada nos pensamentos de Spinoza, Hegel e Marx. Que apesar de enfoques diferentes, enxergam a liberdade como compreensão da necessidade dos determinismos.

A voz interior nos indica o caminho da virtude7 que é palavra oriunda do latim “virtus” que significa a qualidade ou ação digna do homem. É prática constante do bem e corresponde ao uso da liberdade com responsabilidade moral.

O oposto da virtude é o vício (o que é a prática constante do mal) correspondendo ao uso da liberdade sem responsabilidade moral.

Para Erich Fromm a responsabilidade baseia-se a priori na relação do homem com sua própria condição humana, isto é, com a realização de suas potencialidades da vida.

A virtude consiste em assumir a responsabilidade por sua própria existência. È o vício pela irresponsabilidade perante si mesmo. A moral é construção humana e social e também histórica. Os sistemas morais não são valores fixos e nem imutáveis, pois que relacionados com as transformações históricos-sociais.

O conteúdo dos valores morais varia historicamente dando origem à moralidade8 e a concepções éticas diversas. A partir de Sócrates e os dos sofistas, a investigação sobre a physis, sobre a natureza foi deixada em segundo plano e revelaram-se as primeiras questões relativas à vida social para a filosofia.

Através dos sofistas caímos no chamado relativismo ou subjetivismo que Protágoras9 bem elucida ao expressar: “O homem é a medida de todas as coisas”.

Sócrates discordando dos sofistas sustentou que existe um saber universal e válido que decorre da essência humana daí se pode conceber a fundamentação de uma moral universal.

Ao enunciar sua máxima: “Conhece-te a ti mesmo” traduz que o essencial a todos é a alma racional. “O homem é, essencialmente razão”. E deve ser por esta que deve fundamentar as normas e os costumes morais.

Por tal razão a ética socrática é racionalista, daí a alegação socrática de que quem age mal, o faz por ignorância do que é bem e do que é a essência humana.

O mal, as paixões desenfreadas e a iniqüidade a que os gregos denominavam hybris eram representadas por personagens monstruosas que deveriam ser vencidas por heróis. Vide os doze trabalhos de Hércules ou Heracles que venceu o leão de Neméia, a hidra de Lerna, o javali de Erimanto, a corça de Cerínia, as aves do lago Estinfale, as estrebarias de Áugias, o touro de Creta, as éguas de Diomedes, o cinto da amazona, os bois de Gerião, os pomos de ouros das Hespérides e, finalmente a descida aos infernos.

Hércules representava, de certo modo, os valores dos povos da Antigüidade, com suas fraquezas, cóleras ou mesmo loucura que simbolizava a condição do ser humano às volta com seu destino e o herói que passando por suas provas.

Platão e Aristóteles desenvolveram o racionalismo ético10 iniciado por Sócrates. Platão apurou ainda mais a distinção entre corpo e alma. Argumentava Platão que o corpo por ter sede de desejos e paixões muitas vezes desvia o homem de seu caminho para o bem, defendei a necessidade de purificação do mundo material, sensível para enfim ser capaz de galgar a Idéia de Bem.(grifo nosso)

Mais tarde, sem o dualismo agudo e acirrado entre corpo e alma11, Aristóteles desenvolveu também uma ética racionalista e mais realista onde enxerga como fim último do homem à felicidade. Todos nós indistintamente buscamos sermos felizes. A felicidade se encontraria na vida teórica e mais precisamente na razão.

O homem que se desenvolveu no plano teórico, contemplativo pode compreender a essência da felicidade e realizá-la de forma consciente. Isso seria privilégio da minoria, o homem comum aprenderia somente através do hábito a agir corretamente.

A agir corretamente seria praticar virtudes: a virtude moral é o meio-termo entre dois vícios; um dos quais envolve o excesso e, o outro a deficiência, e isso porque a sua natureza é visar à mediania nas paixões e nos atos.

A coragem seria um meio-termo entre a covardia e a temeridade.

Assim, a ética aristotélica se consagrava em ser à ética do meio-termo.

Tanto em Platão como em Aristóteles, a ética está vinculada à vida política (polis). Aliás, Aristóteles se refere mesmo à ética como sendo ramo da política, já que a primeira trataria do bem-estar individual, enquanto a segunda trataria do bem comum.

Com a perda da autonomia das cidades-estados gregas, a partir do século III a.C., surgem novas escolas filosóficas de inspiração socrática, mas que passa a tematizar a questão ética não mais a partir da relação do indivíduo com a polis.

As principais escolas desse período de fragmentação grega são o estoicismo e o epicurismo, buscando a realização moral do indivíduo fora dos contornos da vida política, desenvolveram uma ética baseada na busca da paz interior e no autocontrole individual.

O princípio da ética estóica12 é apathéia (a atitude de aceitação de tudo que acontece, porque tudo faz parte de um plano superior guiado por uma razão universal que a tudo abrange).

O princípio da ética epicurista13 é ataraxia (atitude de desvio da dor e a busca do prazer espiritual através da paz de espírito e o autodomínio, encarar todas as coisas com serenidade de espírito).

Minimizando os fatores exteriores e sua influência sobre o bem-estar espiritual.

Assim Epicuro asseverava: “O essencial para nossa felicidade é nossa condição íntima e dela somos senhores”.

É importante ressaltar que os filósofos cristãos herdaram alguns destes elementos da tradição filosófica grega, reconfigurando-os na concepção cristã. A purificação da alma sugerida inicialmente por Platão foi retomada e repaginada por Santo Agostinho (séc. II) na idéia de elevação ascética para compreender os desígnios de Deus.

Também a imortalidade da alma é retomada sob a perspectiva cristã, pois no reino de Deus vige a eternidade.

Convém refletirmos sobre as palavras de Santo Agostinho: “Ama e faz o que queres, porque se amas corretamente, tudo quanto faças será bom”.

Santo Tomás de Aquino (século XVII) retomou a idéia de felicidade da ética aristotélica, pontificou que Deus era fonte dessa felicidade. A ética cristã abandonou a idéia de que é através da razão que se alcança à perfeição moral e centrou-a no amor e na boa vontade.

A ética cristã deu prisma estritamente pessoal à moral, como uma relação do indivíduo e Deus, isolando-o de seu meio e condição social e cultural. Atribuindo à subjetividade uma enorme importância.

Assim a liberdade cristã reside na relação interior de cada um com Deus. Se Deus é bondade infinita, como pode existir o mal. A liberdade é livre-arbítrio. O afastamento de Deus é que seria o mal, de acordo com Santo Agostinho.

O livre-arbítrio traduz a imensa subjetividade nas coisas do mundo. E no mau uso do livre-arbítrio que estaria a origem de todo o mal.

O conceito de livre-arbítrio esvaziou a acepção grega de liberdade como a possibilidade plena dos indivíduos em seu meio social.

Desta forma, reduzida a dimensão social da liberdade, esta passou a possuir um caráter mais pessoal, subjetivo e individualista.

Com o Renascimento houve uma retomada do humanismo que voltou a reflexão ética para a autonomia humana. No Iluminismo os filósofos passam a defender que a moral deve ser fundamentada não em valores religiosos e sim na compreensão sobre a natureza humana. A concepção mais expressiva é a natureza racional que encontra em Kant.

Voltaire inspirado proferiu a seguinte assertiva: “Ser desprezado por aqueles com quem se vive é coisa que ninguém pôde e jamais poderá suportar. Talvez seja esse o maior freio que a natureza posta na injustiça dos homens”.

A reflexão ética contemporânea (séc. XIX e XX) se desdobrou numa série de concepções distintas sobre o que seja moral e sua fundamentação que se recusam em sua grande parte a ter base exterior, transcendental para moralidade, que centrada no próprio homem situa a origem dos valores e das normas morais.

Os pensadores contemporâneos reagiram ao formalismo da ética kantiana posto que postulava o dever como norma universal, sem se preocupar com a condição individual na qual cada um se encontra diante desse dever.

Kant nos forneceu a forma da ação moralmente correta, mas não diz nada a respeito de seu conteúdo. Hegel critica Kant, pois considera a moral como mera questão pessoal, íntima e subjetiva, na qual o sujeito tem que se decidir entre suas inclinações e sua razão.

Assim a moralidade assume conteúdos diferenciados ao longo da história das sociedades humanas, e a vontade individual seria apenas um dos elementos da vida ética de uma sociedade em seu conjunto.

A insuficiência kantiana quanto ao quanto conteúdo da ação moralmente correta e a crítica hegeliana é uma conquista definitiva na relação ética contemporânea.

Kierkergaard foi um crítico de Hegel, enfatizando a subjetividade como algo irredutível à sistematização racional. Além de inspirar a corrente existencialista, tal filósofo influenciou a psicanálise.(ler também o ensaio “O romântico Kierkergaard” da mesma autora)

A concepção ética passou a enxerga à ação moral ao reconhecer a existência de uma esfera inconsciente que determina, em grande parte, as ações humanas. A recusa ao absolutismo da razão e o reconhecimento do aspecto irracional presente no homem.

Nietzsche criticou o racionalismo ético que era repressor bem como sua moral racionalista que entrava o pleno desenvolvimento da liberdade. È mordaz crítico da moralidade cristã-ocidental e a identifica com a moral dos rebanhos.

As noções de pecado, de culpa e inferno são apenas formas de dominação de força vital individual.Nietzsche encaminhou sua reflexão de forma radical para o questionamento da própria moral como elemento regulador da vida social, o que não existe em Kierkergaard ou nos existencialistas.

Sigmund Freud também reconheceu o aspecto repressivo da moral, mas não questionou a necessidade da moral como instância reguladora, pois sem esta, a própria civilização humana estaria em grave risco.

Já para Marx, o homem não é nem essência e nem um “recipiente” no qual o Espírito se manifesta e, sim, um indivíduo que se forma e se constitui no interior das relações sociais nas quais está inserido e vive. Marx não sendo inédito declara explicitamente que o homem é um ser social.

Em face de multiplicidade de valores e códigos morais, alguns filósofos defendem a teoria do relativismo ético que afirma não existir uma só base objetiva e universal sobre a qual se possa erguer um sistema moral único, válido para todos os homens.

O conteúdo da consciência moral varia muito no tempo e no espaço. Os relógios e as geografias definem códigos morais que refletem valores éticos dominantes em cada sociedade. Para o relativismo ético, a moral é fruto de padrão cultural vigente assim a ética torna-se uma questão de ótica (grifo nosso).

A virtude estaria na tolerância, no respeito pelos diferentes sistemas morais que, entre si, admitam conviver pacificamente. È possível estabelecer valores objetivamente válidos para todos os seres humanos e tal humanismo tentar deslindar a complexa natureza humana.

Para alguns pensadores a solução dos valores da moral universal escapa à ética e se centram em problemas sociais que geram violência e atrocidades. Outros doutrinadores defendem que o sistema de valores que adotamos não pode ser definido em função de quaisquer desejos subjetivos ou preferências arbitrárias.

Para ética humanista objetiva deve orientar os desejos humanos, Erich Fromm enuncia: “Valioso e bom é tudo aquilo que contribui para o maior desdobramento das faculdades específicas do homem e que favorece a vida”.

Bertrand Russel enunciou que o grande fim da ética seria “produzir desejos harmoniosos em vez de desejos discordantes”. A felicidade segundo Russel só é possível como combate aos medos irracionais, a todos preconceitos cunhados pela ignorância e a dissolução dos fanatismos em conflitos (políticos e religiosos).

Para Bertrand Russel o hábito de fundamentar suas crenças em resultados científicos já reflete a busca incessante dos homens pela verdade cada vez mais plena sua fórmula da felicidade é enunciada resumidamente: “inspirada no amor e guiada pelo conhecimento”

Convém novamente refletirmos sobre o enunciado de Bertrand Russel: “Três grandes desejos marcaram minha vida: o desejo de ser amado; o desejo de saber e o desejo de aliviar o sofrimento humano”.

A ética que se desenvolveu a partir da análise da linguagem teve em Jurgen Habermas um de seus maiores representantes.

Desenvolve elementos de uma ética discursiva fundada no diálogo e no consenso entre os sujeitos. O que se busca no diálogo é a razão que, tendo sido reconhecida pelos participantes do diálogo, que serviria de base última para a ação moral.

O conceito de razão em Habermas (é a razão comunicativa) que é inacabada, mas se constrói a partir da argumentação. È uma razão interpessoal e não mais subjetiva; é uma razão processual, não definitiva e não acabada.

É necessário o diálogo livre, sem constrangimentos assim a ética de Habermas14 é uma aposta na linguagem e na capacidade de entendimento entre as pessoas na busca da ética universal baseada em valores válidos e aceitos por consenso.

A questão perdura sobre as condições de realização de um diálogo livre e igualitário dentro de uma sociedade marcada pela agressão, desigualdade. Enfim, não é pretensioso o presente artigo, pois apesar de não abordar plenamente toda a história da ética serve para dar uma visão panorâmica sobre a evolução da ética e das questões que até hoje ainda atormentam o pensamento contemporâneo.

Referências

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Japiassú, Hilton e Marcondes, Danilo. Dicionário básico de filosofia, 3a. edição, ver. e atual. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1996.

Bittar, Eduardo Carlos Bianca e Guilherme de Assis de Almeida.Curso de filosofia do direito, São Paulo, Atlas, 2001.

Cotrim, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. 15a.edição 2000. Rio de Janeiro. Editora Saraiva.

Chauí, Marilena. Convite à Filosofia, edição, 2000. Rio de Janeiro. Editora Ática.

1. 1. valor em seu sentido etimológico original significa coragem, bravura , o caráter do homem, e por extensão, passou a significar também aquilo que dá a algo um caráter positivo, decorrendo daí seu significado filosófico de ser algo que deve ser realizado. Eticamente os valores são os fundamentos da moral, das normas que prescrevem a conduta correta. A definição desses valores é variável em função das diferentes correntes doutrinárias filosóficas.

Para algumas destas, valor é tudo aquilo que traz felicidade ao homem. Já outros filósofos consideram também que os valores se caracterizam por relação aos fins que se pretendem obter, a partir dos quais algo se define como bom ou mau.(grifo nosso). No entanto, há os que defendam a idéia de que algo é um valor em si mesmo.

Portanto, é termo polissêmico e, é muito discutível que os valores possam ser definidos intrínseca ou extrinsecamente, qual sejam absolutos ou relativos, inerentes à natureza ou adquiridos. É bom lembrar que na lógica clássica só existem dois valores apenas: a verdade e a falsidade.(grifo nosso)

Valor é social e politicamente tudo aquilo que a sociedade reputa como fundamental para a consecução dos fins que o Estado pretende alcançar, entre eles o bem-estar social.

2. Juízo de valor é aquele que estabelece uma avaliação qualitativa sobre algo, sito é, sobre a moralidade de um ato, ou a qualidade estética de um objeto, ou ainda, sobre a validade de um conhecimento ou teoria. Pode ser tanto um elogio como uma recomendação ou censura.

Kant deriva os conceitos dos juízos dando com isso prioridade aos juízos sobre os conceitos. Dado o caráter predicativo dos conceitos, estes, só podem ser entendidos a partir de seu papel nos juízos.

Os juízos possuem particular importância para a filosofia kantiana tendo em vista a afirmação de que o “eu” é apenas “feixe de percepções”, ao contrário , para que haja experiências; o que mais tarde seria conceituado por Hume como uma unidade originária da consciência.

Juízo significa ato de julgar ou decidir sobre algo, é relação que se opera através do pensamento entre diferentes conceitos, constituindo na atribuição de predicado ou propriedade a um sujeito e tendo a forma lógica básica.

A noção de juízo é uma expressão tipicamente kantiana que estabelece as seguintes distinções:

a) juízo analítico é aquele em que o predicado ou atributo está incluído ou contido na essência ou definição do sujeito.

b) juízo sintético é quando o predicado acrescenta algo à compreensão do sujeito. Divide-se em sintéticos a priori, possuindo caráter necessário, mas ao mesmo tempo, representando conhecimento, exemplo: os juízos da matemática e as leis gerais da física. Existem ainda, os juízos sintéticos a posteriori aqueles que são simplesmente derivados da experiência. Assim, segundo Kant, os juízos podem ser caracterizados quanto à qualidade: podem ser afirmativos e/ou negativos; indefinidos ou limitativos. A distinção entre o juízo negativo e limitativo não é encontrada na tradição, sendo peculiar do sistema kantiana e nem sempre foi completamente aceita fora dele.

Podemos classificá-los quanto à quantidade (em universais e particulares ou singulares) e ainda quanto à relação (categóricos e hipotéticos e, ainda , disjuntivos). E quanto à modalidade podem ser assertóricos , problemáticos.

A natureza do juízo se é lógica ou psicológica relaciona-se com as tentativas de redução do pensamento à linguagem ou vice-versa.

Contemporaneamente, sobretudo na filosofia da linguagem que sustenta que o juízo sempre se exprime através de uma proposição, ou seja, tem uma estrutura necessariamente lingüística.

3.

Eticamente é a noção de que um indivíduo deve assumir seus atos, reconhecendo-se como autor destes e, acatando suas conseqüências (quer sejam positivas ou negativas), estando o indivíduo sujeito ao elogio ou a censura.

Prende-se intimamente à noção de liberdade, há, no entanto, casos em que excepcionalmente o indivíduo pode ser considerado culpado mesmo de atos não-intencionais.

É importante ressaltar que já a responsabilidade jurídica é definida por lei em um determinado ordenamento jurídico, e, se distingue a responsabilidade civil da penal.

4. O determinismo é a condição de possibilidade da ciência, é a doutrina que prega a negação do livre-arbítrio e segundo a qual tudo (o universo , a vontade humana) está subordinada à necessidade.

Para Spinoza “não há na alma nenhuma vontade absoluta ou livre.” Já em Kant, o determinismo deixa de ser metafísico para pertencer à legislação que o espírito impõe às coisas para conhecê-las.

Não há oposição entre determinismo e liberdade (pois este pertence à ordem dos fenômenos enquanto que a liberdade pertence à ordem natural). O determinismo universal inaugurado pelo Laplace que afirma que o conhecimento do estado do universo, num momento dado, e o conhecimento das leis da mecânica permitem prever rigorosamente todos os estados e etapas futuras.

Tal determinismo cada vez mais cede lugar a um postulado mais próximo da realidade científica: o real é inteligível. Há ainda o determinismo psicológico (nosso passado, educação, situação social, econômica e cultural determinam nossas escolhas, e, logo nossa “liberdade”).

O determinismo psíquico prega que toda imagem, representação vindo espontaneamente à consciência encontra-se , necessariamente ligada ao conflito patogênico do qual ela é a representação despistada.

Já a concepção de absoluto é aquilo que não comporta nenhuma exceção ou restrição. Diz do que é em si e por si, independentemente de qualquer outra coisa, possuindo em si mesmo sua própria razão de ser, não comportando nenhum limite e, sendo considerado independentemente de toda relação com um outro.

Para Hegel,a filosofia kantiana representa o ponto extremo da separação entre o homem e o absoluto. As formas que o espírito assume (formas naturais , históricas e religiosas se recapitulam e, se anulam no e pelo saber filosófico, que se identifica com seu próprio objeto conseqüentemente, com o saber absoluto).(grifo nosso).

5. É sumamente discutível a liberdade absoluta sob ponto de vista filosófico, se o homem teria realmente a liberdade em um sentido absoluto, tendo em vista os condicionamentos biológicos e sociais que o limitam.

Sartre dentro da ótica existencialista crê que o homem é livre “porque somos aquilo que fazemos do que fazem de nós”. Há sempre a possibilidade de escolha a partir da condição em que nos encontramos, porque o homem não é um ser acabado, predeterminado.

6. Dialética pela tradição filosófica, e,em particular em Platão, é processo pelo qual a alma se eleva por degraus, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou idéias. Empregando etimologicamente a palavra que significa dialogar, isso é, de fazer passar o logos na troca de seus interlocutores. A dialética é instrumento de busca da verdade, uma pedagogia científica do diálogo por onde o aprendiz de filósofo consegue controlar as pulsões corporais e vencer a crença nos dados do mundo sensível, utiliza sistematicamente o discurso para chegar à percepção das essências, isto é, a ordem da verdade.

Já para Aristóteles a dialética é a dedução feita a partir de premissas apenas prováveis. Em Hegel , a dialética é movimento racional que nos permite superar a contradição. Não é um método, mas um movimento conjunto do pensamento e do real. A dialética pretende ser a chave do conhecimento absoluto, logo o pensamento humano pode conhecer a totalidade do mundo (caráter metafísico da dialética).

Marx transforma a dialética em método e insiste na necessidade de considerarmos a realidade socioeconômica de determinada época como um todo articulado, atravessado por contradições específicas, entre as quais a da luta de classes. Graças a Engels a dialética se converte em método do materialismo e no processo do movimento histórico que considera a natureza como um todo coerente onde os fenômenos se condicionam reciprocamente.

7.Platão considerava a virtude como inata, como qualidade que o indivíduo traz consigo e, que portanto, não pode sr ensinada. Já para Aristóteles, ao contrário do pensamento platônico, este considerava a virtude poderia ser adquirida sendo na realidade resultado de um hábito.

Aristóteles distingue com nitidez vícios e virtudes pelo critério do excesso ou da falta ou da moderação;

São virtudes para a filosofia aristotélica: coragem, temperança, prodigalidade, magnificência, respeito próprio, prudência, gentileza, veracidade, agudeza de espírito, amizade, justa indignação. Outras lhe são desconhecidas como a humildade, castidade e mansidão.

Já na filosofia cristão há as virtudes teologais (fé, esperança, caridade); as virtudes cardeais (a coragem, justiça, temperança e prudência). A justiça em particular surge como virtude particular enquanto que para Aristóteles esta era o resultado da virtude.

Na filosofia moderna, passou a designar a força da alma ou do caráter. Em sentido moral, é a designação disposição para o bem.

8. Moralidade é conjunto de valores e princípios morais de uma sociedade. Assim, cada sociedade, em cada época de sua História define os valores positivos e negativos, os atos permitidos e os proibidos para seus membros, o conteúdo dos deveres e do imperativo moral.

9. Os sofistas foram os mestres da retórica e oratória, foram criticados por Sócrates e seus discípulos entre lês, Platão pelo seu exacerbado relativismo. Os sofistas eram manipuladores de opiniões e criadores de ilusões. Estudos mais recentes buscar e valorizar de forma mais isenta o pensamento sofista mostra que seu relativismo se baseava na doutrina da natureza humana e sua relação com o real e, reconhecendo sua contribuição para o estudo da língua, retórica e oratória e para o desenvolvimento da teoria do discurso. Dentre os principais sofistas destacaram-se Górgias, Protágoras e Hípias.

Protágoras revela uma preocupação em introduzir um certo humanismo na filosofia. Prega um subjetivismo, e sua máxima traduz-se em “todo conhecimento depende do indivíduo que conhece; o vento só é frio para mim e no memento em que sinto frio; as qualidades do mundo variam com os indivíduos e no mesmo indivíduo; o aspecto do mundo não é sempre o mesmo; não há verdade sem erro.”

10. O racionalismo designa doutrinas bastante variadas suscetíveis de submeter à razão todas as formas de conhecimento. Tanto pode ser visão do mundo (que afirma o acordo entre o racional e o real) quanto uma ética que afirma que as ações e as sociedades humanas são racionais, em seu princípio, em sua conduta e finalidade.

Pode ainda o racionalismo limitar-se a um domínio ou aspecto da experiência humana: moral, religioso, político. O racionalismo ético atribui à razão humana o lugar central na vida ética e, partir dele surgiram doutrinas como a intelectualista e voluntarista.

11. Alma, do latim anima, sopro vital, por oposição ao corpo, é um dos princípios do composto humano.

Pela filosofia aristotélica-escolástica é uma alma pensante, é um princípio de vida, “forma de um corpo organizado tendo a vida em potência”.

Para Schelling, a alma é o princípio de unidade e de movimento sustentando a continuidade do mundo (orgânico e inorgânico) e unindo toda a natureza num organismo universal.

Hegel fala da “bela alma” para designar uma atitude existencial do indivíduo que procura preservar sua pureza moral, sem se engajar na ação, refugiando-se na pureza de seu coração.

12.

O estoicismo deriva seu nome da Sloca Poikilé um pórtico em Atenas aonde lecionava seu fundador Zenão de Cicio também conhecida como filosofia do Pórtico. A lógica estóica teve pouca repercussão vez que fora superado pela lógica aristotélica e da qual difere sobretudo por ser fundamentalmente de proposição e não do silogismo.Um grande nome do estoicismo romano ou novo é Sêneca (os homens são iguais contra a escravidão, os males são devidos às paixões humanas e o papel do soberano é o de encarnar a sabedoria realizando a ordem).

13. Epicurismo prega “bem é o prazer” isto é a satisfação de nossos desejos e impulsos de forma moderada, levando assim à tranqüilidade. Segundo Epicuro, o prazer é o começo e o fim da vida feliz e constitui o Bem supremo, cujo modelo perfeito nos fornecido pela vida levada pelos deuses. O prazer só é obtido ao fim de um discernimento refletido.

14. A obra de Habermas segue a teoria crítica da sociedade iniciada pela escola de Frankfurt, apesar dele ser da segunda geração. Pretende assim propor uma revisão atualizante do marxismo, com grande inspiração em Weber, parte da análise da racionalidade social, caracterizando-a segundo uma razão instrumental. É preciso recuperar a dimensão da interação humana, daí a grande relevância do diálogo. Defende o racionalismo iniciado pelo iluminismo, principalmente em função do agir comunicativo.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 28/05/2007
Reeditado em 19/05/2011
Código do texto: T504357
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