As tecnologias e seus reflexos na educação
Questiona-se o papel da escola, da universidade neste contexto contemporâneo e tecnológico, por isso surgem novos desafios para enfrentar, o que nos impõe mudanças que vão desde a concepção de educação, aprendizagem, ensino, formação de professores até mesmo a definição de políticas que realmente garantam à democratização tecnológica além de uma perspectiva crítica sobre sua utilização.
A escola e a universidade precisam redimensionar sua prática enquanto local de produção do saber científico e tecnológico, tendo em vista o seu papel na preparação do cidadão para atender às novas exigências do mundo e do trabalho.
Convém lembrar que somente a formação de professor não resolve toda a complexidade da utilização das novas tecnologias.
Essa última década foi marcada pelo desenvolvimento acelerado e crescente das tecnologias e das comunicações provocando impactos em todos os setores da atividade humana.
As novas tecnologias tornaram-se, em pouco tempo, no principal meio de comunicação direta ou indireta entre as pessoas, sendo utilizadas de forma rotineira em instituições, empresas e outros locais de trabalho e na convivência humana.
Porém, não bastará equipar a escola no mais alto e sofisticado nível tecnológico, mas sim, haver meios de tirar o maior proveito de qualquer tecnologia no procedimento de ensino-aprendizagem.
Mesmo a tecnologia considerada como ultrapassada pode ter valor pedagógico e permitir aos professores e alunos que aprendam e ensinem de modo diferente.
Infelizmente o discurso oficial de inclusão tecnológica nos contextos educativos sempre aborda a questão pela natureza macro e apoiado em razões relacionadas com a modernização e o aumento de produtividade.
Percebe-se que o discurso não é pertinente com a prática, pois o governo de fato não disponibiliza os recursos para atender às reais necessidades.
A escola, como é fartamente sabido, carece de infraestrutura, instalações, material humano e principalmente engajamento metodológico.
A inserção efetiva das novas tecnologias na escola é justificada por razões culturais e psicológicas onde se percebe duas posições:
os que resistem, rejeitando ou agindo com indiferença sobre a entrada dessas ferramentas na área educacional;
e, os que aceitam e até incentivam as propostas mirabolantes da sociedade de consumo, acreditando que as tecnologias vão curar todos os males e solucionar o grande problema do atraso no setor educacional.
Seria então, uma panaceia, a deusa da cura, ou seja, o remédio para todos os males.
As atitudes de resistência e rejeição às novas tecnologias devem-se ao receio que sejam substituídos pela máquina. E, também ao receio que os alunos ultrapassem seus mestres por não dominarem a ferramenta tecnológica.
Essa insegurança dos docentes é infundada, pois há de se ter a preparação de professores abertos às inovações e que possam coloca-las a serviço da aprendizagem, principalmente do aprender a aprender.
Todos estes receios e incertezas trazem para a escola o debate interessante com os seguintes questionamentos:
1. Deve a escola restar subordinada ao mercado simplesmente como mero instrumento de formação para o mundo produtivo?
(Ou seja: seria a escola uma fábrica de mão de obra qualificada?).
2. Como deve a escola preparar dirigentes, professores e alunos para um mundo cada vez mais informatizado?
É claro que não pretendo responder a estes questionamentos mas apenas propiciar a reflexão e o entendimento mais profundo sobre as tecnologias.
A técnica não pode ser vista como artefato técnico meramente, mas como uma construção social, dialética em sua própria natureza. A internet é em verdade uma grande metáfora sobre a condição humana.
A tecnologia não é mero acessório, mas também e principalmente objeto de conhecimento e instrumento necessário ao trabalho pedagógico para facilitar, diversificar e melhorar o nível de aprendizagem.
Pensar numa nova concepção de educação, de ensino e de aprendizagem é imperativo. Há de se superar o velhusco modelo tradicional de educação e se assumir o paradigma baseado em tecnologia que representa um processo interativo centrado no aluno.
Precisamos desmistificar o uso das novas tecnologias no sentido mercadológico para utilizá-lo num processo condizente com a realidade.
É necessária a imediata mudança do papel do professor que deve tornar-se um facilitador e, por outro lado, o aluno que deve tornar-se sujeito ativo perante o ensino-aprendizagem.
O facilitador de processos de desenvolvimento social tem a tarefa de compreender os sentimentos do grupo com o qual trabalha, e aceitá-los, construindo a partir deles.
Essa é a maneira de se garantir a legitimidade da intervenção no desenvolvimento social. O facilitador tem sério compromisso e respeito começa a se manifestar pela aceitação do outro, da diversidade, criando um ambiente onde há liberdade de expressão e de pensamento.
Assim o facilitador propicia no mesmo ambiente o aparecimento de distintos atores que tragam a possibilidade de responder as questões e contribuir não só a resposta coletiva mas principalmente a edificação da identidade individual do aprendiz...
O lema do facilitador deve ser “Nada é mais perigoso que falar e ter razão. É preciso idolatrar o silêncio e a dúvida". Todorov .
A problematização é fundamental para redimensionar as novas práticas educacionais e promover a clara percepção do contexto político, social, econômico e histórico onde está inserida a escola e a universidade.
É indispensável reforçar a associação da teoria à prática estando aberto ao uso de inovações tecnológicas com especial ênfase aos projetos interdisciplinares.
É enorme o deságio para os professores assumirem essa nova ação docente mediada pela tecnologia e, isso reside no fato de lidarem com alunos os quais já possuem conhecimentos tecnologicamente avançados e franco acesso ao universo de informações em múltiplos espaços virtuais e, outros alunos que se encontram em plena exclusão tecnológica sem oportunidade de vivenciar e aprender nesta nova realidade.
Garantir a inclusão tecnológica também é tarefa da educação que seja comprometida na defesa do bem-estar, da cidadania e principalmente do desenvolvimento humano.
Também em face das novas tecnologias devemos atentar para a questão curricular que preocupa, principalmente por não prever formas alternativas e complementares de aprendizagem com pertinência com as novas exigências sociais.
É relevante pleitear por maior flexibilidade curricular, com perspectiva crítica e dinamizando as metodologias de ensino capazes de assumir nova concepção de ensinar e aprender.
A utilização de diferentes meios para desenvolver a ação educativa em face das novas tecnologias aponta que o professor é o profissional que irá orientar a aplicação e a avaliação crítica do uso das ferramentas tecnológicas, permitindo a construção do conhecimento na sociedade informatizada.
Lembremos aos pessimistas que quando surgira a televisão, preconizaram, na época, o fim do rádio, depois quando surgiu o videocassete, também novamente preconizaram o fim do cinema e do teatro, quando surgira o telex, preconizaram o fim do telegrama, quando surgira o e-book ou eletronic book, também preconizaram o fim do livro impresso...
Enfim, o “novo” sempre significou o fúnebre para o que já existia. Mas isso, não ocorreu. O “novo” não significa a morte do velho e nem a ruptura do tempo.
Só significa o aprimoramento, a evolução que também deve chegar à educação, aos educadores e, principalmente para toda a humanidade.
Quebrando o paradigma da pós-modernidade, ouso citar Heráclito de Éfeso, que viveu a 480 a.C., cuja principal e mais conhecida expressão grega era PANTA REI que significa tudo passa, tudo é móvel.
Heráclito utilizava-se da metáfora do rio: “Não é possível banhar-se no mesmo rio duas vezes.
As águas não são as mesmas, e nem nós seremos os mesmos.
Enfim, mudar é bom. Panta Rei.
Referências:
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
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