O projeto do ser-no-mundo (in der-Welt-sein) é o contexto em que se inserem as coisas e, somente neste contexto, elas adquirem algum sentido.
Nas palavras de Vattimo:"O Ser-aí existe na forma de projeto, no qual as coisas só são na medida em que pertencem a esse projeto, na medida em que têm um sentido nesse contexto. Essa familiaridade preliminar com o mundo, que se identifica com a própria existência do Ser-aí, é o que Heidegger chama de compreensão ou pré-compreensão.
Qualquer ato de conhecimento nada mais é que uma articulação, uma interpretação dessa familiaridade preliminar com o mundo.”
A palavra ereignis é a palavra-chave do pensamento de Heidegger e significa "vir a passar". Ereignis no sentido usual, significa que o evento acontece. Heidegger também se refere a um ereignis, não ser, isto é, como o caso de um presente puro. O ereignis permanece escondido atrás da inerente flambagem para "estar lá" como "estar no mundo".
Não haveria como fugir das interpretações. Um mesmo texto permite inúmeras interpretações: não existe a interpretação justa. Não existe interpretação verdadeira, mas existem interpretações abusivas, arbitrárias, baixas e rasteiras. De qualquer forma, as interpretações platônica, cristã e cientificista sempre tiveram muitos adeptos.
Torção e superação (traduções literais).
Discurso de ódio, ou em inglês, hate speech é forma genérica de qualquer comunicação que inferiorize uma pessoa com base em características como raça, gênero, etnia, nacionalidade, religião, orientação sexual ou outro aspecto passível de discriminação. Tal discurso pode incitar a violência ou a ação discriminatória contra um grupo de pessoas ou porque este ofende ou intimida um grupo de cidadãos. A lei pode tipificar as características que são passíveis de levar a discriminação. Há consenso internacional de que tais discursos de ódeio devem ser proibidos por lei, e que tais proibições não violam a liberdade de expressão.
No Brasil, o debate sobre o tema se intensificou com a PL 122 que pretende criminalizar qualquer forma de discriminação por orientação sexual. E, os grupos fundamentalistas se opõem a inclusão da discriminação por orientação sexual como crime, na lei contra preconceito, alegando que há tensão com o princípio de liberdade de expressão. Todavia, a lei contra o preconcieto já proíbe os discursos de ódio referentes a raça, religião e origem. O ministro do STF, o Ministro Marco Aurélio Mello foi unânime em afirmar que o referido PL não fere o princípio da liberdade de expressão sendo plenamente constitucional. Também o Ministro Ayres Brito manifestou-se favorável a dita criminalização da homofobia.
A curiosa compreensão teológica a respeito da salvação oferecida por Deus à humanidade, e nos reportando ao tempo da escravidão, onde o catolicismo entendia que melhor seria aos negros serem batizados e escravizados do que ficarem pagãos e irem direto para o inferno. Frise-se que a salvação é apenas para àqueles que aceitam Jesus ao seu modo e à sua compreensão. Do contrário, só resta o inferno.
Muito recentemente, com a visita do Papa Francisco ao Brasil em inédita entrevista já dentro da aeronave que o levaria de volta ao Vaticano, o Sumo Pontífice manifestou-se não ser contrário ao homossexualismo e pregou a mais ampla tolerância. É um posicionamento inovador e que nos leva a crer que no futuro poderemos abolir o celibato clerical.
Nietzsche atacou a moral cristã que é de certa forma um prolongamento da raiz platônica. Mas, não é o filósofo alemão o pregador da desrazão, da imaginação e da fantasia delirante.
Pretende demonstrar que a metafísica e a moral cristãs visam modelar o homem fraco, no sentido, em que, deve alhear-se da realidade, a mais concreta, a dimensão da sensibilidade. Descreveu que o homem ideal para a moral cristã é hemiplégico (paralisado de um lado ou pela metade). Tomar os valores idealistas e racionalistas por verdades absolutas é sinal de decadência, mais, de uma vontade anárquica e rancorosa. Uma verdade que não ama a vida e denigre aqueles que amam tal como esta é.
Para Nietzsche ser fraco é ter necessidade de certezas (ciência, verdade) ao passo que a existência, os sentimentos, os sentidos têm algo de imprevisível e enigmático e mesmo ambíguo. Ser fraco é sacrificar os sentidos e sentimentos em prol da razão pretensamente objetiva e que cinde a realidade, criando um dualismo artificial.
O discurso religioso funciona como regulador de condutas sociais, disciplinando seus adeptos e criando um ideário que mantém certa ordem social, considerada como normativa. Enfim, a religião perpassa as subjetividades e vem moldar comportamentos humanos e frequentemente representa interdição na vida de mulheres e homens. E o discurso religioso reflete uma das formas mais poderosas e sub-reptícias através das quais o sistema cultural se alimenta e se mantém. A religião é âmbito nitidamente marcado pelas relações de gênero e pelas relações de poder.
As práticas de dominação ideológica, geradoras de violência e exclusão incorporaram os discursos religiosos principalmente caracterizada por determinadas enfáticas afirmações como "só Jesus salva" "está amarrado a coisa do demônio". O que evidencia a clara intolerância religiosa e a suplantação da dignidade religiosa diferente. Mas salutar é acreditar que Deus é magnânimo e benigno estando ao alcance de todos os povos, todas as culturas, etnias e, em todos os lugares e em todos os tempos.
A secularização pode ser entendida literalmente como processo pela qual a religião deixa de ser aspecto cultural agregador, transferindo-se para uma das outras atividades desta mesma sociedade este fator coercitivo e identificador. Esta faz com que tal objeto de análise já não esteja mais determinado diretamente pela religião.
Tendo como pano de fundo a violência, a religião segundo Feuerbach que é dos principais teóricos que ajuda na compreensão de que Deus é projeção humana. E que se revelou as vezes como ideais de expansão territorial e justificação da violência contra as nações ímpias ou indígenas. No fundo a violência origina-se da própria religião posto que proponha a defesa da vida como critério de discípulo.
O mártir no cristianismo é quem sofre passivamente a violência: soldados, por exemplo, nunca foram considerados mártires. A interligação entre religião, cultura e violência é crucial na teoria mimética de Girard. Este afirma que a sociedade humana, e, portanto, a cultura é impossível sem atos de violência fundante. Os grandes mitos mostram isto: Rômulo matou seu irmão Remo e foi o fundador da grande cidade de Roma, enquanto que na Bíblia, Caim, após assassinar seu irmão Abel, fundou a primeira cidade.
Como observou Aristóteles, somos o homo mimeticus, nossa capacidade de imitação é fundamental para nossa humanidade.Quando nos deparamos com pessoas a quem admiramos, ou que nos são apresentadas como exemplos a serem seguidos, procuramos imitá-las, de modo a adquirir os objetos ou as qualidades que as tornam desejáveis.
O ritual religioso do antigo povo de Israel era para purificar a nação, os pecados cometidos. E, então leva-se dois bodes que eram levados ao sacrifício anualmente. Um bode era sacrificado pelo sacerdote junto com touro, como oferenda a Deus; já o outro, o chamado bode expiratório este era sacrificado para descarregar todas as culpas do povo judeu. Era entre ao Diabo e abandonado no deserto, mas regiamente acompanhado de insultos e pedradas. O bode expiatório suportava todos os pecados do mundo, todos os descios e malfeitos do povo. Até hoje tal cerimônia é vista como purificadora e necessária para nos aliviar de todas as culpas que temos ao longo da vida repleta de pecados.
O Papa Bento XVI reconheceu recentemente com grande vergonha o uso da força pelo cristianismo em sua história, mas disse que a violência em nome de Deus não tinha mais lugar no mundo contemporâneo. O falecido Papa João Paulo II também se desculpou em 2000 pelas falhas históricas do cristianismo.
Kenósis é conceito da teologia cristã que trata do esvaziamento da vontade própria de uma pessoa e a aceitação do desejo divino de Deus. É encontrado no Novo Testamento com o esvaziamento de Jesus. E, para alguns, o exemplo de esvaziamento de Cristo é de "tirar de nosso coração tudo aquilo que nos prende ao mundo" (kenosis).
A ligação entre religião e a violência fica explícita na formulação de Girard que se encontra em sua obra, in litteris: " a violência é o coração e a alma secreta do sagrado".O busilis da questão naturalmente é a revelação judaico-cristã, e sobretudo a paixão de Cristo que nos permitiu perceber o mecanismo do uso de bodes expiatórios.
René Girard é filósofo, historiador e filólogo francês. É atualmente professor de literatura comparada na Universidade de Palo Alto, na Califórnia, EUA. É conhecido por suas teorias que consideram o mimetismo a origem da violência humana que desestrutura e reestrutura as sociedades, fundando o sentimento religioso arcaico. Ele mesmo se auto-define como antropólogo da violência e do simbolismo religioso. Teorizou o mecanismo da vítima expiatória, segundo ele um meecanismo fundador de qualquer comunidade humana e de qualquer ordem cultural: quando o objeto de desejo é apropriável, a convergência dos desejos conflitantes em sua direção engendra a rivalidade mimética que é a fonte da violência. No grupo primitivo, tal violência se focaliza numa vítima arbitrária cuja eliminação reconcilia o grupo. Esta vítima, para Girard é sagrada e constitui a gênese do sentimento religioso primitivo, do sacrifício ritual como repetiação do evento originário, do mito e dos interditos. Sua obra desafia frontalmente a de Freud no campo do desejo, bem como a de Lévi-Strauss no que se refere à interpretação dos mitos e a de Marx quanto ao determinismo econômico.
A forte e inerente ligação entre religião e violência existe posto que a religião é fundamental para formação e estabilização da identidade do grupo humano.
Tal identidade pode ser produzida canalizando-se as hostilidades do grupo, que podem ser redirecionadas internamente sobre um bode expiatório individual ou comunitário ou externamente sobre um grupo rival. Esse argumento parece estar consoante com a concepção secularista geral de que a religião é inerentemente violenta e deveria ser rejeitada.
A fatídica afirmação "Deus está morto" ou em alemão Gott ist tot é uma famosa frase de Nietzsche e apareceu pela primeira vez na obra "A gaia ciência" na seção 108 (Novas lutas), na seção 125 (O louco) e por fim, uma terceira vez na seção 343 (Sentido da nossa alegria). Mas a principal responsável pela popularidade da frase apareceu na principal obra do filósofo alemão "Assim falava Zaratustra".
In litteris: "Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!".
A religião é igual à violência, pois é forma primordial pela qual a agressão é canalizada, de modo que se utiliza a violência limitada(bode expiatório) para impedir a que a violência seja amplamente disseminada e totalmente destrutiva. As atrocidades de 11 de setembro conforme escreveu Girard revela crise de rivalidade mimética em escala global. Tais ataques é uma expressão de ressentimento de grupos alheados e ao mesmo tempo fascinados com o Ocidente rico e ímpio. É um apelo no estilo de cruzada com valores como liberdade e democracia.