Sócrates no banco dos réus (ou as várias versões de Sócrates) 3. parte
Por outro lado, nos permitiu extenso conhecimento das teses socráticas, o registro de Platão[21] seu principal discípulo. Embora isso nos forneça a própria visão platônica dos ensinamentos de Sócrates. As outras duas fontes sobre a biografia de Sócrates é Xenofonte (que não fora propriamente discípulo) mas um companheiro de Sócrates ( quem o salvara da guerra).
Aristófanes, no entanto, traçou um perfil de Sócrates bem distinto de Platão[22] e Xenofonte, o mestre então fora satirizado e encarado como amoral, interesseiro e andrajoso. Aristófanes o enfocou apenas como o intelectual e constantemente ridicularizado em suas comédias.
A crítica de Sócrates aos sofistas consiste em manobra que o ensinamento dos sofistas limita-se a mera técnica ou habilidade argumentativa que visa convencer o que oponente diz, mas não leva ao verdadeiro conhecimento.
A consequência disso era que, devido à forte influência dos sofistas nas decisões da Assembleia que eram baseadas nas mais hábeis retóricas e dirigiam apenas à verdade consensual resultante da persuasão.
Enfim, quem valorizou a descoberta do homem pelo homem feita pelos sofistas, orientando-a para os valores universais, seguindo a real via de pensamento grego foi Sócrates.
Quanto à política fora valoroso soldado e rígido magistrado. Sócrates foi o fundador da ciência geral mediante a doutrina do conceito, sendo em particular também o fundador da moral que afirmava que a eticidade significava racionalidade.
Convém frisar que Sócrates apesar de sua enorme grandeza intelectual não elaborou um sistema filosófico acabado, apenas descobriu o método que fundou uma grande escola.
Na narrativa de Sócrates restou registrado o que seria o último discurso de Sócrates, in litteris: “Não foi por falta de discursos que fui condenado mas por falta de audácia e porque não quis que ouvísseis o que para vós teria sido agradável”.
(...) Sustentou, no entanto, uma certeza: “mais difícil que evitar a morte, é evitar o mal, porque este corre mais depressa que a morte. Quando a esta, apenas pode ser uma destas duas coisas
Ou aquele que morre é reduzido ao nada e não tem mais qualquer consciência, ou então, conforme ao que se diz: “a morte é uma mudança, uma transmigração da alma do lugar onde nos encontramos para outro lugar.”
A vida de um grande homem, principalmente quando pertenceu a uma época remota conforme. E, Taylor advertiu que jamais pode ser o mero registro de fatos indiscutíveis e a verdadeira tarefa do biógrafo consiste em interpretá-los, deve ir além dos eventos e mergulhar nos caracteres que estes revelam, utilizando-se a imaginação construtiva.
Duas figuras históricas passaram por bárbaros julgamentos e cruéis condenações foram Jesus e Sócrates. O primeiro padeceu sob Pôncio Pilatos, enquanto Sócrates padeceu sob a democracia ateniense, no ano de Laques (399 a.C.). Ambos nada escreveram e suas atividades e pensamentos vieram através de seus discípulos e seguidores que podem ter retratado seus mestres pela ótica da admiração e do afeto.
É fato que existem discrepâncias nos relatos e ora este aparecer caricaturado nas peças teatrais de Aristófanes, ora é visto como admiração e idolatraria por Platão que rebate o retrato pintado por Aristófanes, um mero poeta cômico.
Fato é que Sócrates noticiado por textos antigos nos aparece com rosto diversamente refletido por diferentes espelhos. O que nos intriga até hoje questionar: Onde estará a verdadeira face de Sócrates?
O mestre Sócrates viveu na Atenas na época de Péricles que não foi marcada pelo desenvolvimento da prosa literária. Fora marcada pela criação de grandes obras teatrais, particularmente tragédias.
Platão o tornaria a principal figura de seus diálogos enquanto que Xenofonte o exaltava em suas Memoráveis. Ésquines nas diversas obras que se perderam, cogitou do mestre de que fora amigo constante. Mas, todos estes o descreveram com mais de quarenta e cinco anos e preocupado em despertar o homem para o conhecimento de si mesmo.
Sócrates reagiu contra o relativismo sofístico e, tudo indica que fora alicerçado em pressupostos religiosos órfico-pitagóricos[23] que apenas concebe a sucessão de impressões sensíveis e fugazes e intransmissíveis, ou a criação de sinais convencionais que constituiriam a linguagem. Se as palavras tecem um terreno instável e uma opinião relativa e insegura, é porque, segundo ele, não estariam acompanhadas da consciência de seu significado.
Na verdade, Sócrates criou nova concepção de alma (psique) que passou a predominar na tradição ocidental. A importância de Sócrates para o Direito reside principalmente na sua justificação racional do nomos (lei) diferenciando-se dos sofistas quanto ao método.
A verdade socrática não se impõe externamente, mas brota de dentro através do diálogo e sua fé na virtude era extremada que compôs o intelectualismo ético, rigoroso (o que definiu a moral como o conhecimento do bem).
No que tange à filosofia política e a filosofia jurídica, Sócrates supera o relativismo e individualismo dos sofistas. E, se opunha a ideia de que o direito e a justiça sejam a expressão dos mais fortes.
E, ainda acrescentou que era melhor sofrer uma injustiça do que a cometer. Mas se a cometeu, deverá expiá-la, aceitando a sanção.
A ética socrática visava o aperfeiçoamento do homem, sendo a missão da filosofia exatamente encontrar a perfeição na vida e na morte. E, defendeu a cidade e suas leis como necessárias e por atenderem às exigências da natureza humana.
Por essa razão, Sócrates placidamente submeteu-se à condenação e a morte por envenenamento ainda que tenha reconhecido a injustiça da qual fora vítima.
Para Flamarion Tavares Leite não se trata de concepção positivista que separa direito e justiça e ainda a distingue. Mas o fato de a noção de justiça bem como as demais virtudes incorporarem a sabedoria.
De fato, a justiça para Sócrates consiste no conhecimento e, portanto, na observância das verdadeiras leis que regem as relações entre os homens, seja pelas leis da cidade como das leis não escritas (fundadas na vontade reta da divindade e que se refletem na consciência).
Para a filosofia do direito a contribuição socrática é a convicção de que a obediência às leis tem fundamento do homem e não é arbitrário. Assim, Sócrates concebeu a verdade e o bem como algo idêntico e universal, abrindo caminho para a teoria dos conceitos[24] e para a metafísica[25] cuja grande síntese é fartamente encontrada na obra de Platão.
Assim como o julgamento de Sócrates que o colocou no banco dos réus, quem historicamente e realmente recebeu a fatal condenação fora a democracia ateniense. Assim como no escandaloso julgamento do “Mensalão”, onde quem fora julgado e condenado fora a democracia brasileira. Mas, a seriedade do Judiciário não só condenou com respeito ao devido processo legal como também expôs os culpados à devida execração pública.
Referências
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DURANT, Will. História da Filosofia. A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos. São Paulo: Editora Nacional, 1.ed., 1926.
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DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de Filosofia do Direito. Tradução de Antonio José Brandão. Revisão e prefácio de L. Cabral de Moncada. Atualizada por Anselmo de Castro. Coimbra: Armênio Amador, Editor, Suc, 1972.
[1] A Atenas contemporânea de Sócrates representava um importante centro de debates, sendo visitada por todos os grandes pensadores de então. Um desses grupos de pensadores itinerantes era os sofistas (que negavam a realidade do mundo exterior, e tentavam arrancar a semelhança exterior dos casos, fora de sua conexão com os acontecimentos).
[2] Com quem teve três filhos. Podemos afirmar que Sócrates não teve certamente uma mulher ideal na quérula Xantipa. Mas igualmente ela não tece um marido ideal no filósofo, sempre tão ocupado com outros cuidados que não os domésticos. Xantipa ou Xântipe era a mulher de Sócrates e possivelmente mãe dos três filhos, Lamprocles, Sophroniscus e Menexenus. Seu nome significa cavalo loiro em grego. O pai Xântipe foi batizado com o nome de Lamprocles. Visto que era até mais bem estabelecido na aristocracia de Atenas do que o pai de Sócrates, o nome teria sido preferido na escolha para seu filho primogênito. Sócrates teve duas esposas, a primeira foi Xântipe ou Xantipa e a segunda fora Myrto.
[3] A dialética de Sócrates está ligada à descoberta da essência do homem como alma (psyché) e tendo o modo consciente a despojar a alma da ilusão do saber. Como sistema de ensino usava o diálogo em sintonia com a razão para conduzir o interlocutor ao encontro de sua alma, fundamentalmente de natureza ética e educativa.
[4] Cicuta é também chamada de abioto em Portugal. É um gênero de plantas apiáceas compreende quatro tipos muito venenosos, nativas das regiões temperadas do Hemisfério norte. Sua alta toxicidade se deve pela presença da substância cicutoxina. Além do seu uso para a ponta de flechas, este ficou conhecido como veneno de Sócrates, pois fora condenado ao um processo de autoenvenenamento por ter sido acusado de ateísmo e de corromper a juventude ateniense.
[5] Maiêutica é dar a luz intelectual, é um parto intelectual, da procura da verdade no interior do ser humano. Sócrates conduzia este parto em dois momentos. Primeiro, a duvidar de seu próprio conhecimento a respeito de certo assunto; no segundo, Sócrates os levava a conceber, de si mesmos, uma nova ideia, uma nova opinião sobre o assunto em questão. Por meio de questões simples, inseridas dentro de certo contexto, a maiêutica dá à luz ideias complexas. Portanto, a maiêutica baseia-se na a ideia de que o conhecimento é latente na mente de todo ser humano podendo ser encontrado pelas respostas a perguntas propostas de forma perspicaz. A auto-reflexão expressou-se no nosce te ipsum - conhece-te a ti mesmo. Coloca o homem na procura das verdades universais que são o caminho para a prática do bem e da virtude. Seu nome fora inspirado na profissão da mãe de Sócrates, que era parteira. E, o mestre esclareceu tal origem no famoso diálogo Teeteto. Vige certa divergência historiográfica sobre a utilização de tal método por Sócrates. Historiadores afirmam que a denominação e a associação de tal método decorrem da narração, não sendo mesmo fiel à vida de Sócrates narrada por Platão. Portanto, deveria chamar-se de instrumentação argumentativa de Sócrates.
[6] A acusação disse: "Sócrates comete crime, investigando indiscretamente as coisas terrenas e as celestes, e tornando mais forte a razão mais débil, e ensinando aos outros". Mas nada disso tem fundamento, pois não instruo e nem ganho dinheiro com isso. Talvez pudessem dizer de mim: "Enfim, Sócrates, o que é que você faz? De onde nasceram essas calúnias? Se suas ocupações não fossem tão diferentes das dos outros, não teria ganho tal fama e não teriam nascido acusações".
[7] Sócrates respondeu: - Acontece que Xenofonte, uma vez indo a Delfos, ousou interrogar o oráculo e perguntou-lhe se havia alguém mais sábio do que eu. Ora, a pitonisa respondeu que não havia ninguém mais sábio. Ao ouvir isso, pensei: "O que queria dizer o deus e qual é o sentido das suas palavras?”
Sei bem que não sou sábio, nem muito nem pouco. “E fiquei por muito tempo sem saber o verdadeiro sentido de suas palavras.” Então resolvi investigar a significação do seguinte modo: Fui a um daqueles detentores da sabedoria, com a intenção de refutar, por meio deles, o oráculo e, com tais provas, opor-lhe a minha resposta: "Este é mais sábio que eu, enquanto você disse que sou eu o mais sábio". Examinando esse homem - não importa o nome, mas era um dos políticos - e falando com ele, parecia ser um verdadeiro sábio para muitos e, principalmente, para si mesmo. Procurei demonstrar-lhe que ele parecia sábio sem o ser. Daí veio o ódio dele e de muitos dos presentes aqui contra mim. Então, pus-me a considerar comigo mesmo, que eu sou mais sábio do que esse homem, pois que, nenhum de nós sabe nada de belo e de bom, mas aquele homem acredita saber alguma coisa sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou certo de não saber.
[8] Aristófanes foi dramaturgo grego e é considerado o maior representante da Comédia Antiga. Sua biografia é pouco conhecida, e sua obra permite deduzir que teve requintada formação. Viveu o esplendor do Século de Péricles. Foi testemunha também do início do fim de Atenas. Vivenciou o início da Guerra de Peloponeso e que arruinou a hélade. Viu o papel nocivo dos demagogos na destruição econômica, militar e cultural de sua cidade-Estado. Teve dois filhos que também seguiram a carreira do pai. Escreveu quarenta peças, das quais apenas onze são conhecidas. Era conservador, e hostil às inovações sociais e políticas e aos deuses e homens responsáveis por estas. Seu alvo eram as personalidades influentes: políticos, poetas, filósofos e cientistas fossem velhos ou jovens, ricos ou pobres. Aristófanes não poupou em suas críticas nenhuma figura ilustre, nenhuma instituição e nem mesmo os deuses. Atacou, às vezes injuriosamente, as inovações artísticas, morais, políticas e sociais da Atenas de seu tempo, muito diferente da de Péricles. Preocupou-se, acima de tudo, em defender a paz e advertir a população, sobretudo a rural, dos abusos urbanos. Em "Lisístrata" ou "A Greve do Sexo" (411 a.C.), as mulheres fazem greve de sexo para forçar atenienses e espartanos a estabelecerem a paz. Em "As vespas" (422 a.C.), discute a importância da verdade e seus benefícios, revelando sua preocupação com a ética. Na peça "As nuvens" (423 a.C.), compara Sócrates aos sofistas, mestres da retórica, e acusa o filósofo grego de exercer uma influência nefasta sobre a sociedade. Na comédia "Os Acarnianos" ou "Acarnenses", representada no ano 425 a.C., ele ridiculariza os partidários da guerra com Esparta. Suas outras obras são Os cavaleiros (424 a.C.), A paz (421 a.C.), As aves (414 a.C.), As tesmoforiantes ou As mulheres que celebram as Tesmofórias (411 a.C.), As rãs (405 a.C.), As mulheres na assembleia ou Assembléia de mulheres (392 a.C.) e Pluto ou "Um Deus Chamado Dinheiro" (388 a.C.).
[9]Na lógica tradicional, axioma ou postulado é sentença ou proposição que não é provocada ou demonstrada e é considerada como óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou aceitação de uma teoria. É aceito como verdade e serve de ponto inicial para dedução e inferências de outras verdades. Em matemática, axioma é hipótese inicial da qual, outros enunciados são logicamente derivados. Não é uma verdade autoevidente, mas apenas expressão lógica formal em uma dedução visando obter resultados mais facilmente.
[10] Sócrates foi filósofo ateniense (469 a.C. – 399 a.C.) do período clássico da Grécia Antiga. Reconhecido como um dos fundadores da filosofia ocidental sendo até hoje figura enigmático e conhecido principalmente pelas narrativas de Platão e Xenofonte e pelas peças teatrais de Aristófanes. Defendem alguns que os diálogos de Platão seriam relato mais abrangente do filósofo e tem perdurado até os dias de hoje. O método socrático, ou seja, maiêutica é usado até hoje pela pedagogia, sendo utilizado para obter não responder específicas, mas compreensão clara e fundamental do tema discutido.
[11] Sócrates não aceitava pagamento, por isso tão pouco aceitou cargos públicos. Assim opôs-se aos sofistas, o conhecimento é possível e seu objeto primordial é a própria alma. Inspirou-se Sócrates no adágio do oráculo de Delfos: "conhece-te a ti mesmo", frase escrita no templo de Apolo.
[12] Xenofonte foi soldado, mercenário e discípulo de Sócrates. Era conhecido pelos seus escritos sobre a história do seu próprio tempo e pelos seus discursos de Sócrates. A maioria dos estudiosos situa seu nascimento em 430 a.C. ou um pouco depois. Era originário de família rica e influente em Atenas. Participou os embates finais da Guerra do Peloponeso incorporado nas fileiras da aristocrática cavalaria ateniense. Sua dissertação histórica foi “Anábase” onde analisou o caráter de um líder por um historiador. Tal tipo de análise tornou-se célebre até hoje como a “Teoria dos Grandes Homens”. Onde descrevera o caráter de Ciro, o Moço, dizendo que de todos os Persas que viveram depois de Ciro, o Grande, este era o mais que mais se parecia com um rei e o mais merecedor de um império. Xenofonte fora posteriormente exilado de Atenas, provavelmente pelo fato de ter lutado sob o comando do rei espartano Agesilau contra Atenas em Coroneia (ou por ter participado com Ciro). Seu filho Grilo comandou a cavalaria de Atenas. Diógenes Laércio disse que Xenofonte ficou conhecido como "musa da Ática" pela doçura de sua dicção.
[13] O julgamento de Sócrates foi relatado por seu discípulo, Platão, no livro Fédon, e apesar de ter sido realizado há mais de 2.400 anos, aborda essencialmente os fatos que o rodeiam, temas e questionamentos que até hoje procuramos compreender. O ponto de partida para tentar compreender tal julgamento está na defesa das acusações que foi feita pelo próprio Sócrates. Uma vez que não havia pessoa melhor para demonstrar a veracidade dos fatos, se não àquele que os praticou/vivenciou. Daí perceber a grandiosidade que esse julgamento tem não só para a história da Filosofia, como também para a história da humanidade. O saber, a missão e a morte.
[14] Fédon ou Fedão é obra filosófica de Platão que, através de diálogos, relatou os últimos ensinamentos de Sócrates, antes de tomar a cicuta a que fora condenado pelo Estado.
Na obra, Equécrates ao encontrar Fédon pergunta a este, quais foram as últimas palavras do mestre Sócrates e pede que os relate, com a maior exatidão possível. Assim fala sobre morte, a ideia, o destino da alma, entre outros assuntos. É um diálogo que não pertence à fase socrática de Platão, divisão usada por alguns filósofos. Assim, estaria apenas usando a imagem do mestre para divulgar seu próprio projeto filosófico.
Platão recebera influência forte da religião órfica, que acreditava na alma e na reencarnação. É seu primeiro postulado acerca da alma. A situação dramática é o encontro de Fédon de Élis, discípulo de Sócrates com o pitagórico Equécrates. E, assim narra não só o diálogo, mas a cena e as ações dos protagonistas. Ocorre na prisão onde Sócrates estava detido aguardando sua execução, em 399 a.C. O Fédon é o mais popular dos diálogos de Platão, o que mais lido, citado e comentado tem sido, e aquele cujo tema sofreu menos eclipses na inquietude, nos anelos e na estimativa das gerações.
[15] O admirável comportamento de Sócrates perante a morte foi expressão de plácida naturalidade e trouxe a mais bela lição moral que tem sido ouvida, quase sem interrupção, no decurso dos séculos. A mais impressionante atitude moral perante a morte foi de fato a lucidez com que o mestre discorreu até o último alento de vida, sem sofismas e nem subterfúgios.
[16] O bode expiatório era um animal que era apartado do rebanho e deixado só na natureza selvagem como parte das cerimônias hebraicas do Yom Kippur, o dia da expiação, a época do Templo de Jerusalém. Tal rito é descrito na Bíblia no livro do Levítico. No Torá, dois bodes eram levados, juntamente a um touro, ao lugar de sacrífico, como parte dos Korbanot do Templo de Jerusalém. No templo os sacerdotes sorteavam um dos bodes. Um era queimado em holocausto no altar de sacrífico com o touro. O segundo tornava-se o bode expiatório, pois o sacerdote punha suas mãos sobre a cabeça do animal e confessava os pecados do povo de Israel. Posteriormente, o bode era deixado ao relento na natureza selvagem, levando consigo os pecados de toda a gente, para ser reclamado pelo anjo caído Azazel. Na doutrina cristã, o bode expiatório no Levítico é interpretado como uma prefiguração simbólica do autossacrifício de Jesus, que chama a si os pecados da humanidade, tendo sido expulso da cidade por ordem dos sacerdotes. Tipologicamente então o bode expiatório é a representação da figura do Messias, que fora enviado ao deserto para ser tentado pelo Diabo. Noutra visão de tom muito popular, o cristianismo compreende que os dois bodes são símbolos de Cristo e Satanás, vez que a expiação propriamente dita se realiza com a morte do primeiro bode e como não existe expiação sem derramamento de sangue, não há expiação pela morte do segundo bode, que é apenas levado ao deserto e morre à míngua. Este representa Satanás (ou Azazel, seu braço direito, um demônio do Deserto) que é enviado ao abismo de mil anos, onde refletirá sobre a obra maléfica que realizou contra os seres humanos.
[17] Falácia é argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que se alega. Os argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso. Como exemplo de falácia temos o argumentum ad misericordiam consiste em ganhar a simpatia do adversário apresentando-se como uma pessoa digna de pena.
[18] Platão em sua obra “As leis aparece maior respeito pelos direitos do indivíduo, desde que não seja escravo: servus et res sunt idem (não há diferença entre escravo e uma coisa) A família e a propriedade são preservadas, enquanto que em “A República” o Estado está acima destas. Mesmo assim, se necessário for, a família e a propriedade poderiam ser desfeitas ou destituídas. Por essa razão, em “As Leis”, Platão aconselhou a divisão dos indivíduos por classes e vigilância sobre as famílias. Em verdade Platão fora crítica implacável tanto da monarquia quanto da democracia e propôs o modelo de Esparta, onde ao lado de dois reis, havia o Senado e os Éforos, magistrados supremos nas cidades dóricas da Grécia Antiga.
[19] A dialética é a arte do diálogo, a arte de debater. Também é uma maneira de filosofar e seu conceito. E seu conceito fora debatido por diversos filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Hegel, Marx e outros. É o poder de argumentação, mas poderá ser utilizada a palavra em sentido pejorativo com um uso exagerado de sutilezas.
[20] Nada deixou escrito Sócrates e as notícias de seus ensinamentos e pensamentos deveu-se à Platão e Xenofonte que possuíam feições intelectuais diferentes. Xenofonte foi autor de Anábase, em seus Ditos Memoráveis e deu preferência ao aspecto prático e moral da doutrina, sendo um homem mais de ação.
[21] Platão foi grande filósofo para pintar o mais nítido retrato de Sócrates e cabe-lhe a glória de ter sido grande historiador do pensamento socrático, mas nem sempre é fácil discernir o fundo de Sócrates das especulações acrescentadas por Platão.
[22] As obras de Platão foram trinta e seis diálogos, treze cartas e uma coleção de definições. A única construção racional de Sócrates é a gnosiologia que se encontrava num método da ciência dialógica.
[23] Orfismo deriva de Orfeu filho de Apolo com a musa Calíope (segundo alguns) foi o fundador do orfismo. Orfeu era poeta e músico e a sua religião. Representava uma catarse musical capaz de hipnotizar multidões.
Dentre as lendas relativas a Orfeu, a mais célebre refere-se à sua união com ninfa Eurídice. Quando esta morreu, o músico desceu aos infernos para buscá-la e, emocionando as divindades infernais com o seu canto, obteve consentimento de trazê-la de volta. Tinha, entretanto, que respeitar uma condição: não poderia olhá-la antes de atingirem a luz. Mas, Orfeu, no retorno do mundo infernal, não mais podendo resistir, voltou-se para olhar sua amada, e, então imediatamente, uma força arrebatou-lhe Eurídice, sendo condenado a viver sozinho na Terra. O pitagoricismo foi a religião do filósofo e matemático Pitágoras. A base do pitagoricismo sendo os números, era mais ou menos semelhante ao que vamos mostrar na sua essência filosófica: constituía a unidade perfeita e era a origem de tudo ou a grande Mônada (Deus), era a fecundidade, era a perpetuação do homem.
[24] Sócrates mostrou no conceito o verdadeiro objeto da ciência. E, Platão aprofundou-lhe a teoria e procurou determinar a relação o conceito e a realidade fazendo deste o problema crucial de sua filosofia.
[25] O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das ideias e, estas se contrapõem a matéria obscura e incriada. O divino platônico é representado pelo mundo das ideias e especialmente pela ideia do bem que está no vértice. A existência desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento conceitual.