Solidão do advogado
Advogado , este ser solitário .
Isso mesmo , não quis dizer : solidário , mas sim, solitário .
Um ser que caminha nas noites , de olhos fechados e mentes cismadas em algum canto do pensamento de alguém que pudesse lhe enviar uma mensagem , seja de onde for, que seja capaz de elucidar a equação poética e fática dos embates diários dos demais seres , que solidários , ajudam-se mutuamente e alegremente .
O frio contato da mesa e o teclar urgente da mensagem que poderá provocar uma mudança que , com certeza , lhe traria algum alívio porque , com certeza , a vida do cliente que acabara de ouvir , em prantos , em desespero ou inseguro não são suficientes .
Só a força da solidão é capaz de fazer-se a superação do tic-tac do relógio de um escritório , onde o contato frio da mesa e o teclar urgente da mensagem necessária tem hora e dia certo para ser entregue e se confunde com o tic tac do compasso de um coração que conta os minutos que lhe serão decisivos.
Minutos decisivos para o término de mais um início de nova solidão , de nova esperança e o advogado vai de frente a frente com muitas frentes , mirando .
Mira quem irá julgar e já imagina o olhar que sombreia sobre a mensagem que escreve, mira a solução , nem sempre boa , mas ao que lhe parecer ser . Boa para um , para o outro , o outro advogado que enxergue na sua também insólita solidão .
Dias que se seguem no amor do dia a dia , da sua casa , do seu lar , da sua família . Família que se cria na homilia do poder da mensagem que se escreve perfeita ou se acha perfeita . Família que se distancia pela solidão que se entremea em tantas outras solidões de seres solidários que se buscam ou se escondem .
O advogado é mesmo um ser solitário no desempenho de suas funções e não há regalo maior quando pode debruçar-se sobre quem se encanta sobre o que existe por trás dos arremessos de intolerância necessária na defesa de quem espera o que nem sequer se sabe o que , apenas espera que o advogado vença!
Therezinha Henriques
Advogada